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Hidrogênio verde é negócio?

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Publicado sexta-feira, 03 de maio de 2024 às 00:00 h | Autor: *Luiz Carlos Lima
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O hidrogênio verde se transformou num dos assuntos mais populares nas conversas sobre economia e meio ambiente no Brasil e no mundo, afinal é uma peça-chave na transição global para fontes de energia mais limpas e sustentáveis, necessárias à descarbonização do planeta. Apesar do hidrogênio ser o átomo mais abundante do universo, não guarda a mesma posição na Terra, é necessário produzi-lo para a indústria de fertilizantes agrícolas, para produção de amônia, metanol, para os processos de redução nas refinarias, siderúrgicas, indústria de alimentos, semicondutores e também para produção de energia.

O consumo de hidrogênio tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Conforme relatório “Revisão Global do Hidrogênio 2023” publicado em set/23 pela Agência Internacional de Energia (IEA), a produção global de hidrogênio dobrou de 2018 a 2022. Saímos de 60 milhões de toneladas (Mt) para 122 Mt em 2023. O pior desse cenário é que a produção é predominante com o uso de combustíveis fósseis. 62% da produção global vem do gás natural, enquanto o 21% vêm do carvão mineral, 12% dos processos secundários da indústria petroquímica e apenas 1% é hidrogênio verde(H2V), que é produzido pela eletrólise da água, com uso de eletricidade renovável, como solar ou eólica.

Como explicar isso, se os preços das energias renováveis vêm caindo significativamente nas últimas décadas?

A resposta é que os preços do hidrogênio verde são mais altos. Em números específicos, 1(um) quilo de hidrogênio verde está variando entre US$ 2,0 a US$ 5,0 (dois a cinco dólares), pois depende da fonte de energia renovável utilizada, dos custos locais de produção da eletricidade e dos custos de transporte até os compradores. Já os preços do hidrogênio convencional estão abaixo de US$ 1,5 (um dólar e meio) por quilo.

O preço do hidrogênio verde é alto por várias razões: (i) tecnologia emergente pois os equipamentos de eletrólise nunca foram projetados para produção em larga escala; (ii) a eficiência energética da eletrólise da água é baixa. Muita eletricidade é necessária para produzir uma tonelada de hidrogênio; (iii) infraestrutura para produzir, armazenar e distribuir hidrogênio verde ainda muito pequena e longe das áreas de geração de energia renovável; (iv) aumento da demanda, que conforme a “lei de oferta procura”, atua contra a redução dos preços.

Por outro lado, mesmo assim, é perceptível uma queda gradual nos preços do H2V, com uma tendência de aceleração dessa redução, na medida em que as tecnologias de geração de energia solar fotovoltaica e eólica se tornam mais eficientes e baratas e com o aumento da eficiência energética dos processos de eletrólise. Esse movimento é impulsionado por investimentos em pesquisas, políticas governamentais, incentivos fiscais, subsídios e metas de descarbonização para os produtores e usuários finais. Esse conjunto pode acelerar ainda mais a transição para uma economia de baixo carbono e ajudar a enfrentar os desafios relacionados à mudança climática e à segurança energética em todo o mundo. Questões estratégicas para sobrevivência que requer soluções concretas e de médio prazo, afinal a economia precisa continuar crescendo e os setores de transporte e geração de energia precisam eliminar as incertezas provocadas pelas instabilidades sócio-políticas mundiais.

A cadeia de negócios do hidrogênio verde atua fortemente nas áreas de infraestrutura de base do país. É algo para os grandes grupos econômicos do setor e óleo&gás, energia, logística e construção. Mas, como provoca uma transição não apenas energética, mas também em tudo que relaciona com a vida em sociedade, essa cadeia de negócios atinge também os pequenos e médios empresários, a oferta de empregos e a educação. O Brasil tem a capacidade de produzir hidrogênio verde de baixo custo, pois dispõe de sol constante e ventos perenes. Áreas disponíveis seja em terra ou no mar não faltam. Dispõe de boas empresas, criatividade e muitos talentos. Espera-se, portanto, uma visão governamental estruturada, com planejamento estratégico e disposta a atuar nos incentivos à pesquisa & desenvolvimento de tecnologia de eletrólise, armazenamento e nos incentivos em toda cadeia para consolidação desse negócio. Há ainda um espaço importante a ser preenchido na formação profissional qualificada para atuar nesse mercado. Educação de base e profissionalizante, nunca é demais. O Brasil e a Bahia reduziram as disponibilidades de escolas para formação de técnicos de nível médio e de mão de obra operacional. Universidades são importantes, mas também é necessário atingir outras faixas de conhecimento, idade e da pirâmide social para minimizar as diferenças socioeconômicas.

*Engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica

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