Busca interna do iBahia
HOME > ECONOMIA
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

DÍVIDAS

Cartão de crédito e desemprego: por que o endividamento das famílias bateu recorde

Desemprego e gastos essenciais levam famílias ao vermelho, com cartão de crédito sendo o maior vilão; inadimplência em atraso há mais de um ano

Fábio Bittencourt

Por Fábio Bittencourt

11/11/2025 - 17:45 h
Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios
Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios -

O endividamento das famílias brasileiras atingiu o maior patamar em 15 anos. Dados de outubro da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam que 79,5% dos lares do país têm algum tipo de dívida, o maior índice desde o início da série histórica, em 2010.

Entre os principais motivos que levam os consumidores ao vermelho, o desemprego aparece em primeiro lugar, citado por 19% dos entrevistados em levantamento da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box. Em seguida, surgem os gastos emergenciais (18%) e o empréstimo de nome para terceiros (14%).

Tudo sobre Economia em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

O estudo revela ainda que um em cada dez consumidores afirma não conseguir arcar com o pagamento de contas básicas, que chegam a R$ 750 mensais para 82% do grupo. Diante do aumento do custo de vida, 88% dos endividados reduziram o consumo, especialmente em alimentação e serviços essenciais. O cartão de crédito continua sendo o maior vilão: metade das dívidas está ligada a compras em supermercados.

Quase metade dos compromissos dos brasileiros — 46% — já está em atraso há mais de um ano. Securitizadoras, companhias de telefonia e o varejo aparecem entre os setores com pendências mais antigas, em alguns casos acumulando mais de dois anos de inadimplência.

Especialistas e dicas para a reorganização financeira

Para Aline Vieira, especialista em educação financeira da Serasa, a instabilidade no emprego continua sendo um dos maiores desafios à manutenção financeira das famílias.

“É preciso que cada um se reorganize de acordo com a própria realidade. Os custos altos impactam fortemente o orçamento, e despesas como supermercado e contas básicas comprometem as finanças”, afirma.

Segundo ela, mudanças nos hábitos de consumo e a busca por renda extra são alternativas viáveis para quem atravessa períodos de insegurança financeira.

Especialista em educação financeira da Serasa, Aline Vieira na agência do Correio no comércio
Especialista em educação financeira da Serasa, Aline Vieira na agência do Correio no comércio | Foto: .José Simões/Ag. A TARDE

“É possível, sim, procurar fazer um dinheiro extra — produzindo marmitas, doces ou cortando temporariamente serviços não essenciais. Pequenas decisões fazem diferença”, diz Aline.

A especialista lembra que a Serasa oferece conteúdos gratuitos de educação financeira e promove, durante o mês de novembro, o Feirão Serasa Limpa Nome, com mutirões de negociação de dívidas nas agências dos Correios em todo o País. O serviço é gratuito e oferece descontos expressivos e condições especiais de pagamento.

Cenário macroeconômico e a taxa selic

Para os especialistas, enfrentar o endividamento crônico exige educação financeira de base, políticas públicas de inclusão e regulação mais eficiente do mercado de crédito.

Segundo Edson Cerqueira, vice-embaixador na Bahia da Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro), a relação entre desemprego e endividamento é complexa.

“Quando o desemprego sobe, a renda familiar cai e a capacidade de pagamento diminui, o que eleva a inadimplência. Por outro lado, quando há expansão do emprego, o aumento da confiança do consumidor estimula o consumo — muitas vezes financiado —, o que pode gerar o chamado endividamento por otimismo econômico”, explica.

Leia Também:

O planejador ressalta que o problema é agravado pela baixa taxa de poupança das famílias e pela concentração do crédito em modalidades com juros elevados, como o rotativo do cartão e o cheque especial. Além do desemprego, outro fator que pressiona o orçamento é o nível elevado da taxa básica de juros (Selic), atualmente em torno de 15% ao ano.

“Embora a política de juros altos tenha como objetivo controlar a inflação, ela encarece o crédito e dificulta a renegociação de dívidas, penalizando principalmente as famílias de menor renda”, observa Cerqueira.

Ele lembra que, mesmo com avanços como a Lei nº 14.690/2023, que limitou o valor da dívida do cartão de crédito a até o dobro do débito original, o ambiente de crédito segue caro e restritivo, perpetuando o ciclo de endividamento.

Organização financeira e estabilidade emocional

A consultora financeira do Will Bank, Mila Gaudencio, destaca que o desemprego não afeta apenas o bolso, mas também a autoestima e o senso de estabilidade. “Sem estabilidade emocional, é difícil manter estabilidade financeira”, afirma.

Segundo a economista, é essencial agir em duas frentes: reduzir despesas e buscar novas fontes de renda, sem ignorar o impacto emocional envolvido. “Comece organizando o cenário atual, priorizando o essencial — moradia, alimentação, transporte e saúde. Isso ajuda a recuperar o senso de controle e sair do modo de urgência.”

Ela defende que o crédito deve ser usado com consciência e estratégia. “O foco não é eliminar o crédito, mas usá-lo de forma planejada, para reorganizar as finanças, não para sobrecarregar”, diz.

Para a consultora do Will Bank, educação financeira não deve começar apenas na crise. “Ela pode nascer no cotidiano, nas pequenas escolhas. O primeiro passo é entender o que entra e o que sai — todas as contas, dívidas e despesas essenciais. Essa visão devolve nitidez e permite enxergar onde há margem para ajustes. Poupar vem depois, como consequência da organização”.

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

cartão de crédito dívida endividamento Juros serasa

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios
Play

Da fazenda à xícara, Igaraçu revela segredo por trás dos cafés especiais

Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios
Play

SuperBahia tem expectativa de movimentar R$ 650 milhões

Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios
Play

Mineração: Bahia sediará evento histórico que contará com pregão da Bolsa de Toronto

Operação de negociação de dívidas realizada nas agências dos Correios
Play

Megan, a "filha digital" da Bahia que revoluciona a segurança com IA

x