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Filme de Hitchcock estreia nos cinemas

Publicado quinta-feira, 20 de março de 2014 às 07:45 h | Atualizado em 20/03/2014, 12:05 | Autor: Luiz Carlos Merten | Agência Estado

Quem viu o recente Hitchcock, de Sacha Gervasi, acompanhou o processo de criação de um dos grandes filmes de todos os tempos. Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, estava em crise na época de Psicose. Com a cumplicidade da mulher, Alma Reville, conseguiu dar a volta por cima. No final do filme, de novo com o prestígio em alta, ele dá uma entrevista. O repórter lhe pergunta o que vai fazer, a seguir. Hitchcock diz que não sabe, mas um pássaro pousa em seu ombro, ele o olha, olha para a câmera. Gervasi sugere - está nascendo Os Pássaros. Ou o marqueteiro Hitchcock está só criando seu teatro?

Quando Os Pássaros tomaram de assalto as telas de todo o mundo, em 1963, não foram poucos os críticos que se decepcionaram. Somente com o tempo o filme se impôs como uma das obras-primas de Alfred Hitchcock, e hoje dispõe de excelente reputação entre estudiosos. Com Vertigo/Um Corpo Que Cai, de 1958, acontecera a mesma coisa e o filme é hoje, segundo votação da revista Sight and Sound, o melhor de todos os tempos. Um Corpo Que cai ganhou reestreia recente, em cópia restaurada. Os Pássaros também volta novinho em folha. Gerações que só conhecem o clássico de Hitchcock da TV e do DVD agora vão poder vê-lo numa sala de cinema.

Os Pássaros integra a chamada "trilogia edipiana" do mestre. Personagens edipianos sempre se fizeram presentes na obra de Alfred Hitchcock - as mães dominadoras de Cary Grant em Interlúdio e Ladrão de Casaca -, mas algo se passa a partir de Psicose e, depois, através de Os Pássaros e Marnie - Confissões de Uma Ladra, entre 1960 e 64. É fato - Hitchcock e Freud nasceram um para o outro.

Norman Bates vira o emblema do Édipo hitchcockiano. Vive num pesadelo do qual não pode emergir. Mitch em Os Pássaros e Marnie, sua versão feminina, são personagens "curáveis". É o sentido da trilogia.

A origem é uma história curta de Daphne du Maurier, que já fornecera a Hitchcock a trama de Rebecca, a Mulher Inesquecível, seu único filme a vencer o Oscar (em 1940), mas ele não recebeu o prêmio de direção. Melanie (Tippi Hedren) e Mitch (Rod Taylor) conhecem-se numa pet shop de São Francisco. Sentem uma atração óbvia e ela o segue na pequena cidade de Bodega Bay. Melanie quer surpreender o cara.

Leva-lhe, de presente, uma gaiola com pássaros. Em Bodega Bay, há, sem motivo aparente, um apocalíptico ataque de pássaros.

Muita polêmica já rolou sobre o significado do ataque dos pássaros. O filme pode muito bem ser uma parábola cristã. Mitch é dominado pela mãe, que impede seus relacionamentos. O mundo todo vive separado. O ataque dos pássaros força a humanidade a ser solidária. As pessoas precisam se unir. Os Pássaros termina em aberto, não é um happy end. Outro ataque pode ocorrer. Na época, o filme era uma proeza técnica. Hoje, seus efeitos ficaram datados, mas a construção do suspense e a complexidade das relações (e dos personagens) continuam fazendo sua força.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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