Editorial: Feriadão sem excessos | A TARDE
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Editorial: Feriadão sem excessos

Publicado sábado, 10 de outubro de 2020 às 06:00 h | Atualizado em 10/10/2020, 08:11 | Autor: Da Redação
A razão precisa ser guia nesta empreitada, ao ajudar cada indivíduo nas particularidades de seu passeio | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE | 5.09.2020
A razão precisa ser guia nesta empreitada, ao ajudar cada indivíduo nas particularidades de seu passeio | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE | 5.09.2020 -

A alegria, inata aos baianos, por sua imersão quadricentenária em caldeirão cultural de temperos e misturas étnicas várias, é capaz de fazer o corpo produzir, ele mesmo, uma química de substâncias lançadas ao sangue: basta escutar a palavra feriadão. O vocábulo ganha dimensão hiperbólica quando se une à euforia, siamesa do entusiasmo originário da sensação de fuga do isolamento, em sentimento similar a de quem escapa de um labirinto rumo ao sol – qual um Ícaro, atraído pela liberdade.

Seria intemperante o cidadão entregue em espasmos ao êxodo de prazer rumo a praias, ilhas, fazendas e municípios do interior, enfrentando riscos de aglomerações, como se a pandemia fosse página virada? Talvez por andar com fé, tenha o baiano acionado amnésia seletiva, ao desdenhar da infecção, restando agasalhar-se aos leitos de UTI, hoje suficientes para acolher novos doentes.

A pequena diferença entre agir com prazer e não por causa dele poderia ajudar a prezar os cuidados consigo mesmo, em viagem segura, com apoio de prefeituras, comércio, condomínios, hoteleiros, moradores e trabalhadores em geral. A razão precisa ser guia nesta empreitada, ao ajudar cada indivíduo, nas particularidades de seu passeio, a encontrar o bem como um dado de realidade, qual seja, preservar-se, tomando as medidas protetivas e recolhendo-se à prudência.

Sem orientar-se pela racionalidade, e sabendo-se como as relações humanas são potencialmente conflituosas, o viajante do feriadão corre risco, caso siga referências negativas de intempestividade. Pelos bons hábitos e referências de educação moral, adquirimos certas maneiras de agir regulares, implicando agora no respeito ao luto de quem perdeu entes queridos ou as sequelas da doença os priva hoje do paladar e de uma respiração tranquila.

O proveito do feriadão estará concentrado no meio-termo entre o hedonismo sem noção e o pavor demasiado, contrapondo a tola intemperança com sábia moderação, para não fazer deste o último passeio, pois muitos mais poderão vir.

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