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Engajamento pessoal e empresarial busca equilíbrio justo de bens e conhecimento

Publicado sábado, 03 de outubro de 2020 às 06:01 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: A Tarde Lab
A igreja Nossa Senhora da Vitória, a segunda mais antiga do Brasil, em foto de 1976: intermediação de doações de empresários | Foto: Arquivo
A igreja Nossa Senhora da Vitória, a segunda mais antiga do Brasil, em foto de 1976: intermediação de doações de empresários | Foto: Arquivo -

O termo capitalismo consciente é usado há cerca de uma década para designar a prática pautada no propósito de transformar a relação entre todos os agentes sociais.

É um conceito que amplia o que conhecemos como sustentabilidade, propondo que pessoas e empresas busquem atender às expectativas de uma sociedade cada vez mais atenta a valores sociais e ambientais, promovendo e apoiando uma divisão de conhecimento e renda entre todos.

Embora relativamente novo, o sentimento quanto a essa necessidade está presente nas ações do empresário Frank Geyer Abubakir há muito tempo. Controlador e presidente do Conselho de Administração da petroquímica Unipar, Abubakir sente-se responsável pelo exercício do capitalismo consciente tanto no âmbito social como no empresarial.

Para ele, o capitalismo consciente é uma prática desde sempre: “Na Unipar, temos isso como cultura desde o comissionamento de nossas plantas. Fomos pioneiros, por exemplo, ao desenvolvermos, ainda em meados de 1980, um programa de visitação das comunidades às nossas fábricas, o Fábrica Aberta. Hoje, o projeto é uma referência global de responsabilidade social corporativa”, lembra.

Outra iniciativa da empresa vem desde 2004: o Conselho Comunitário Consultivo (CCC), grupo formado por porta-vozes da sociedade civil que debate temas de interesse social e promove a criação de projetos nas comunidades do entorno das unidades da Unipar. “Esse contato é primordial. São pessoas de cujas vidas participamos, direta ou indiretamente, seja empregando, seja pelo movimento de nossas operações ou mesmo pelas transformações e melhorias que fazemos no entorno”, comenta Frank.

No campo pessoal, Abubakir, que é residente em Salvador com a esposa, a baiana Flavia Abubakir, e as duas filhas, é um entusiasta das artes. Seus bisavós, Francisca e Alberto Soares de Sampaio, estão entre os principais doadores do acervo do Masp-Museu de Artes de São Paulo quando da fundação por Assis Chateaubriand, em 1947. Uma dezena de obras, incluindo “O escolar”, de Van Gogh, vieram para o museu pelas mãos do casal. Já os avós Maria Cecília e Paulo Geyer doaram ao Museu Imperial de Petrópolis, ou seja, aos cariocas, a Casa Geyer, com um acervo de quase cinco mil itens que compõem a maior coleção de obras de arte e antiguidades sobre a História do Brasil. Agora, o casal Flávia e Frank está em processo de criação da associação Amigos da Casa Geyer para arrecadar fundos e tornar o museu realidade. “Já fizemos doações para que a população tenha acesso a este acervo no mais curto espaço de tempo possível”, conta o empresário.

Novo justo

A pandemia do coronavirus vem transformando comportamentos e a consciência das pessoas quanto a aspectos como higiene, convivência virtual, consumo pela internet, mas fundamentalmente quanto à ajuda no sentido de amenizar as dificuldades das pessoas em situação de vulnerabilidade social. É o que vem sendo chamado de o “novo normal”, mas para Frank Abubakir o correto seria falar em um “novo justo”: “O que se chama de ‘novo normal’ é responsabilidade e vencer dificuldades faz parte do cotidiano. Precisamos avançar para um novo justo, um entendimento mais estruturante de que podemos criar um ambiente com menos distorções”, diz Abubakir. E ele não se refere apenas à ação individual ou de empresas para socorrer pessoas. “Precisamos olhar, por exemplo, para a forma como um país como a China produz, a um alto custo ambiental, usando mão-de-obra muitas vezes em regime análogo à escravidão, cujos produtos chegam no Brasil tirando empregos e prejudicando empresas brasileiras, aprofundando pobreza, minando nossa economia”, opina.

O casal, entretanto, faz sua parte na ajuda imediata a comunidades e pessoas em meio à pandemia. Com o objetivo de amenizar este impacto na parcela mais exposta da sociedade, Flavia Abubakir, líder do grupo iTips Solidário, arrecadou recentemente, em parceria com a Federação das Indústrias da Bahia-Fieb, cerca de R$ 300 mil para serem revertidos em respiradores, entregues ao hospital de campanha montado dentro da Arena Fonte Nova.

As doações, feitas por 245 empresários e intermediadas pela Paróquia da Vitória, em Salvador, resultaram na compra de respiradores que hoje permitem ao hospital celebrar ótimos resultados – tanto que a iniciativa se replicou.

“O iTps Solidário surgiu há quatro anos com o objetivo de apoiar as obras sociais mantidas pela igreja, conduzida pelo padre Luiz. Mas, diante desse momento que assola o mundo inteiro, percebemos que estava na hora de ampliar nossa atuação”, conta Flávia. “Entendo que esse é o nosso papel: sermos transformadores da sociedade em que vivemos para também preservarmos o que ela tem de melhor”, completa.

Já antes da pandemia o casal atuava com essa noção de responsabilidade. Junto com o iTps, eles apoiavam com recursos financeiros, mas também com a presença física e o trabalho voluntário no local, a Escola Municipal Nossa Senhora da Vitória, amparada pela paróquia. Nas formaturas dos alunos, em festas juninas, na Páscoa, Natal ou em atividades culturais Flávia liderava voluntariamente o trabalho de organizar e realizar os eventos. Ela e Frank também participam dos mutirões que servem pessoas em situação de rua. “Eu fico responsável pelo refrigerante e me encarrego de que seja servido gelado, como é o certo. Sou garçom. E lavo louça. Tão importante quanto ajudar com recurso financeiro é estar disposto a servir as pessoas, é a presença com elas, tratá-las com a dignidade que merecem”, comenta o empresário.

Sobre o futuro, Frank finaliza traçando um caminho: “Nós viveremos o novo justo que deve incluir a todos na construção. Precisamos atender a todos os stakeholders de maneira sustentável e ética”, conclui.

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