Voluntariado movimenta o bairro de Cajazeiras | A TARDE
Atarde > Bahia > Salvador

Voluntariado movimenta o bairro de Cajazeiras

Publicado segunda-feira, 20 de março de 2006 às 00:00 h | Autor: JORNAL A TARDE

PATRICK BROCK



Em clima de dia cívico, milhares de moradores de Cajazeiras participaram ontem do Dia Nacional de Ação Voluntária, na Escola Fundação Bradesco de Salvador, onde 425 voluntários prestaram serviços à comunidade na área de educação, saúde, cidadania, lazer, cultura e esporte. O evento foi promovido nacionalmente pelas 40 fundações Bradesco, o braço social do maior banco privado do País, com faturamento de R$ 5, bilhões em 2005.



Nas instalações da fundação, instituição filantrópica que fornece aulas para 1.273 jovens e adultos em ensino básico e nível técnico, em Cajazeiras X, misturavam-se grupos de capoeiristas, escoteiros, dançarinos de break (os b-boys), percussionistas, pais e filhos. A expectativa da diretora da escola, Jane Eachimenco, era de realizar cerca de 19 mil atendimentos durante todo o dia e só em Salvador, nesta que foi a terceira edição do projeto.



Os cidadãos de Cajazeiras tiveram acesso, por exemplo, a apresentações de capoeira, caratê, adestramento de cães policiais e bombeiros, e ganharam aulas de aeróbica, reciclagem e leitura, assim como palestras sobre Aids e Correios, e assessoria na área de saúde e direitos civis, dentre outras atividades. Foram arrecadadas duas toneladas de alimentos, brinquedos e materiais de construção, que foram doadas ainda ontem para três instituições locais de assistência social.



Na sala de assessoria jurídica, integrantes do Ministério Público Estadual (MPE) orientavam as pessoas em três áreas específicas: abertura de registros de nascimento, retificação de registros civis (erros em documentos) e ações de investigação de paternidade. Esta última área integra a campanha do MPE que investiga os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação, que apontam que cerca de nove mil estudantes de Salvador não têm o nome do pai no documento de identidade.



Quando localiza o pai, o MPE tenta negociar sem litígio o reconhecimento da criança, ou então aciona a Justiça para obter a realização de um teste de DNA e garantir a paternidade do filho. A promotora de Justiça Tânia Campos, do MPE, diz que “as pessoas já sabem que têm algum direito, mas querem saber qual é exatamente o direito delas e como podem conseguir”.

 

PRESSÃO ALTA – Na sala da pressão arterial, Maristela Lisbela dos Santos, 40 anos, era advertida pela enfermeira: “Tem que se cuidar, a sua pressão está um pouco alta”. Segundo os dados compilados pelas auxiliares de enfermagem, em cada grupo de 50 pessoas, nove, em média, apresentavam hipertensão. Antônio José Ferreira, 52 anos, foi o recordista do grupo: sua pressão sanguínea chegou a 150/90 mm/hg – mas ele assegurou que está ciente do problema e controla a situação com uma combinação de medicamentos e chás naturais. A hipertensão é um dos problemas da saúde mais comuns em Salvador, especialmente entre a população negra.



Nadson Farias Silva, 20 anos, mostrou-se perito em nós e armação de estruturas provisórias. Ele é integrante dos Desbravadores, grupo de escoteiros ligado à Igreja Adventista. Para Nadson, “não é difícil ajudar as pessoas, basta ter vontade sem esperar nada em troca”. Ele próprio também espera uma ajudinha: com o diploma de nível médio na mão, está procurando um emprego antes de começar a pensar em cursar uma faculdade – “o que rolar eu pego”.



Do outro lado da escola, Maria de Lourdes Oliveira, 68 anos, supervisionava as crianças na oficina de biscuit, um tipo de escultura em pequenos objetos. Para ela, não é muito difícil ensinar: “Basta ter um pouco de boa vontade”, disse, enquanto corrigia o ramo de caju produzido por uma menina.



Enquanto na sala de biscuit o clima era tranqüilo, na sala de informática a fila era enorme e as oficinas foram divididas em períodos de uma hora. Elton Santana, 17 anos, monitor da oficina de informática, explicou que metade do tempo é dedicada a treinamentos em programas-padrão como processadores de texto e planilhas de dados, e o resto é para acesso livre à internet. Alan Pereira, 11 anos, era um dos que aguardavam na fila. Ele gosta de visitar sites de jogos e do mecanismo de busca Google, e disse que freqüenta uma lan house pelo menos uma vez por semana.

Publicações relacionadas