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Agente da PRF explica como fazer "câmara de gás" em cursinho

Caso lembra a morte de Genivaldo de Jesus Santos, morto em uma abordagem no estado de Sergipe

Publicado sexta-feira, 27 de maio de 2022 às 21:08 h | Atualizado em 28/05/2022, 15:23 | Autor: Da Redação
Professor de cursinho falou abertamente em tortura
Professor de cursinho falou abertamente em tortura -

Um vídeo, com um agente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) ensinando os alunos a torturar suspeitos em abordagens, durante uma aula para concurseiros de carreiras policiais, provocou indignação na internet. As imagens mostram o policial, identificado como Ronaldo Bandeira, contando como trancou um preso em uma viatura e o deixou "mansinho" com uma rajada de spray de pimenta.

O método lembra o caso de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, morto por policiais também da PRF, em uma abordagem na quarta-feira, 25, em Umbaúba (SE). Ele morreu após os agentes transformarem a viatura em uma "câmara de gás”, usando gás lacrimogêneo.

No vídeo, Ronaldo contou aos alunos do cursinho preparatório da empresa Alfacon Concursos sobre como teria lidado com um preso que resistiu à uma abordagem.

"Nesse ínterim, que a gente ficou lavrando o procedimento e ele estava na parte de trás da viatura, ele ainda tentou quebrar o vidro da viatura, com chutes. Ficou batendo o tempo todo. O que que o polícia faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca", narrou Ronaldo, arrancando risos dos alunos.

Em seguida, o professor falou abertamente em tortura. "Foda-se, caralho. É bom pra caralho! A pessoa fica mansinha! Aí daqui a pouco eu só escutei assim: eu vou morrer! Eu vou morrer! Aí eu só abri assim: tor-tu-ra", completou.

Segundo informações do UOL, Ronaldo Bandeira, de 35 anos, passou em um concurso da PRF em 2008, sendo nomeado após três anos. Algum tempo depois, ele abriu um cursinho preparatório para carreiras policiais, mas também dá aulas em outros cursos.

No mês passado, Ronaldo foi homenageado pelo vereador de Nilópolis (RJ), Leandro Hungria (Solidariedade), com uma "moção de congratulações e aplausos".

"Hoje, Ronaldo Bandeira, além de ser um Policial Rodoviário Federal apaixonado por sua profissão, possui uma outra paixão: ser professor", diz um trecho do documento, exibido por Ronaldo em seu perfil no Instagram.

No vídeo que circulou pelas redes, a aula de Ronaldo ocorria na empresa Alfacon Concursos. No entanto, esse não é o primeiro caso em que um professor do local é pego em falas que remetem a brutalidade policial. Em 2019, o site Ponte Jornalismo revelou o teor de aulas de um curso em que se fazia a defesa aberta de chacinas. Um professor, ex-policial militar, contou que "matava todo mundo" quando "entrava chacinando" em uma ocorrência.

"Uma vagabunda criminosa só vai gerar o quê? Um vagabundinho criminoso, só isso que vai gerar. Por isso quando eu entrava chacinando, eu matava todo mundo: Mãe, filho, bebê, foda-se. Eu já elimino o mal na fonte. Vou deixar o diabo crescer? Não", disse o instrutor em questão.

Ao UOL, Bandeira disse que toda a cena foi fictícia, e que sua citação foi "uma brincadeira infeliz de sala de aula". Segundo ele, o vídeo é de 2016, e o trecho integral mostra que ele diz, claramente, que não se tratava de um relato real.

"É um vídeo que está recortado, pinçado, e veio à tona agora por causa dessa situação infeliz [a morte de Genivaldo]. Em nenhum momento eu coaduno com a prática narrada no vídeo, jamais pratiquei essa conduta", afirmou. 

Posicionamento

Em nota enviada ao Portal A TARDE, o Alfacon Concursos informou que o professor em questão não faz mais parte do curso desde 2018. Confira o comunicado na íntegra:

O Alfacon Concursos informa que repudia qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica, contra civis. A empresa, tanto por meio da plataforma de cursos como pela editora, acredita que a educação é o motor de transformação social e de estabilidade financeira, promovendo, nos seus 13 anos de existência, acesso de estudantes ao conhecimento técnico necessário para concursos públicos das mais variadas naturezas.

Em que pese o fato de o referido professor não fazer mais parte do curso desde 2018, o Alfacon não compactua com as informações, que não condizem com as políticas e os valores da companhia. Esse discurso tampouco está em alinhamento com os treinamentos pelos quais todos os educadores são submetidos ao ingressarem no corpo docente. O Alfacon preza pela formação dos oficiais, valorizando a carreira policial de forma ética, entendendo a importância desses profissionais para a segurança pública.

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