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Atos e caminhadas marcam Dia da Consciência Negra

Publicado terça-feira, 20 de novembro de 2007 às 18:38 h | Autor: Agencia Estado

Manifestações, marchas e discussões marcaram hoje o Dia da Consciência Negra. Foi feriado em 267 municípios de 12 Estados, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A data lembra a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra escravidão, assassinado em 20 de novembro de 1695.

Em Salvador, apontada como a maior cidade negra fora da África, com 82% de afro-descendentes entre os 2,8 milhões de habitantes, duas caminhadas realizadas por organizações de apoio ao negro marcaram o início das festividades, que seguem até domingo. Na mais tradicional, a 28ª Marcha Zumbi dos Palmares, cerca de 15 mil pessoas protestaram contra os crimes de extermínio, que na capital baiana tem como principais vítimas negros moradores de comunidades pobres. Segundo dados da polícia, 91% das vítimas desse tipo de crime na cidade são jovens negros. Também foi realizada a 7ª Caminhada da Liberdade, que reuniu 8 mil pessoas.

No Recife, cerca de 1,5 mil alunos de escolas municipais foram às ruas do Centro na terceira caminhada pela promoção da igualdade racial. Com carros de som e a animação de 35 grupos culturais de comunidades da cidade, a passeata percorreu dois quilômetros e terminou no Pátio da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Avenida Dantas Barreto, onde outras entidades apresentaram afoxés e vídeos sobre questões raciais e promoveram oficinas de cabelo afro. Segundo a secretária municipal de Educação, Maria Luíza Aléssio, foi "uma festa cívica". No centro histórico de Olinda, foi realizada a segunda marcha pela libertação do povo negro, com apoio do Movimento Negro Unificado e da União de Negros pela Igualdade.

Em Belo Horizonte, deputados estaduais que integram a Frente Parlamentar de Promoção da Igualdade Racial defenderam hoje medidas como a implementação de políticas de cotas nas universidades durante reunião especial realizada na Assembléia Legislativa em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Os deputados também cobraram a aprovação pelo Congresso Nacional do Estatuto da Igualdade Racial. "A diversidade cultural é tão importante para a democracia no Brasil quanto a diversidade biológica é importante para a preservação da vida", disse o deputado Almir Paraca (PT). A frente parlamentar defende a instituição de um fundo estadual para promoção da igualdade racial.

Marcha

Em Porto Alegre, o Dia da Consciência Negra foi celebrado com uma marcha pelas ruas centrais e um ato público com centenas de pessoas no Largo Zumbi dos Palmares. As atividades foram promovidas pelo Movimento Negro e apoiadas pelo Núcleo de Políticas Públicas para o Povo Negro da prefeitura da capital gaúcha. "Estamos passando da etapa da destruição do mito da democracia racial no Brasil para a positivação de demandas", comentou o advogado Onir de Araújo, um dos coordenadores do Movimento Negro Unificado no Rio Grande do Sul.

A comemoração teve ainda o lançamento do livro e do documentário em DVD A Tradição do Bará do Mercado - Os Caminhos Invisíveis do Negro em Porto Alegre, produzidos pela Congregação em Defesa das Religiões afro-brasileiras. Apesar de ser reconhecido como Dia da Consciência Negra a partir de debates feitos em Porto Alegre nos anos 1970, dia 20 de novembro não é feriado na capital gaúcha. Uma ação direta de inconstitucionalidade encaminhada por entidades empresariais suspendeu a lei municipal que havia instituído o feriado em 2003. O caso está no Supremo Tribunal Federal à espera de julgamento do mérito.

Em Curitiba, apresentações de capoeira, músicas e danças estavam marcadas para a noite na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná. Em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, a comunidade optou por discutir a Lei 10.639, que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas e começa a ser implantada no município. A data foi precedida, na semana passada, de uma programação especial promovida pelo Centro Cultural Teatro Guaíra. A cultura afro-brasileira foi apresentada com música, teatro e dança, além do 1º Fórum de Capoeira de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral.

Comemoração

Em Mato Grosso, houve manifestações em várias cidades. Em Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Estado, a população negra manteve a tradição das ladainhas cantadas e da dança do Congo. Em Diamantino foi realizada uma audiência pública para discutir os direitos dos negros. Em documento, eles lamentam as diferenças de salários, desemprego e discriminação. Em Cuiabá, apresentações na Casa Brasil pelo Movimento Inteligência Negra chamou a atenção da população contra o preconceito. "A luta da gente é contra o preconceito velado e para quebrar as diferenças", disse o presidente do movimento, Cristóvão da Silva.

Em Manaus, nenhuma manifestação política ocorreu, mas festas com samba, hip hop e capoeira estavam previstas para o fim do dia em praças no Centro da cidade. Nas repartições públicas, a prefeitura adotou feriado municipal, o que não foi seguido pelo governo estadual, que adotou o ponto facultativo. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Amazonas há 143 mil negros - ou 4,26% da população total. A escola de samba Reino Unido da Liberdade marcou para a noite um desfile na avenida Eduardo Ribeiro, uma das principais do Centro. No desfile, iriam apresentar o samba-enredo inédito "Justa e perfeita - A libertação da raça negra no Amazonas", para o carnaval do ano que vem. As alas serão substituídas por grupos de dança de origem afro.

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