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Glaxo faz alerta sobre antidepressivo e risco de suicídio

Publicado sexta-feira, 12 de maio de 2006 às 21:13 h | Autor: Agência Estado

O antidepressivo Paxil, vendido com o nome Aropax no Brasil, pode aumentar o risco de tentativas de suicídio em adultos jovens. A conclusão é da própria fabricante do medicamento, a multinacional GlaxoSmithKline, após analisar os dados de testes clínicos que envolveram quase 15 mil pessoas.



A empresa admitiu o problema hoje em uma carta enviada para médicos. Era clara a advertência, referendada pelo FDA, órgão regulador de remédios nos Estados Unidos, sobre um de seus produtos mais populares.



"É importante que todos os pacientes, especialmente jovens adultos (na faixa dos 18 aos 30 anos) e aqueles que estão melhorando, recebam um monitoramento cuidadoso durante a terapia não importa que condição está sendo tratada. Aconselhamos os médicos a monitorarem todos os pacientes para se certificarem de que seus sintomas não pioraram."



A GlaxoSmithKline também anunciou que mudou o rótulo do medicamento de forma a refletir o resultado do estudo.



Em uma nota voltada também para os médicos, o FDA recomenda "que os consumidores e médicos sigam o conselho e observem cuidadosamente os adultos tratados com antidepressivos, atrás de piora da depressão e aumento de pensamento e comportamento suicidas. É essencial que os pacientes que tomam Paxil não parem de tomar a medicação repentinamente".



Onze casos - A análise da empresa indica que tentativas de suicídio são raras, porém mais comuns, em adultos que tomaram o Paxil do que aqueles que ficaram com uma pílula placebo, de farinha. Foram revistos os dados de testes clínicos que contaram no total, com 8.958 pessoas que tomaram o remédio, mais 5.953 que tomaram um placebo, para tratar depressão e outras desordens como síndrome do pânico e transtorno bipolar. As idades variavam de 18 a 64 anos.



Onze de 3.455 pacientes que tomavam o Paxil tentaram o suicídio - no grupo do placebo, o comportamento foi observado em apenas 1 de 1.978 pessoas. Uma pessoa morreu. A maioria tinha entre 18 e 30 anos. Nenhum caso foi registrado em pessoas acima da faixa etária. "Como o número absoluto e a incidência dos eventos é pequena, estes dados devem ser interpretados com cuidado", diz a empresa.



O mesmo conselho foi dado pela psiquiatra Kelly Posner, da Universidade Columbia (EUA), que ajudou o FDA a interpretar os dados. Segundo ela, os testes não foram desenhados para avaliar o risco de suicídio, então o resultado pode não ser confiável: "Não está claro se o medicamento causa o comportamento".



Histórico - A GlaxoSmithKline se adiantou voluntariamente a um reação que já era esperada. No ano passado, a FDA pediu aos fabricantes de remédios para tratamento de transtornos psiquiátricos que reavaliassem todos os seus dados. "Sentimos que essa era uma informação que deveríamos compartilhar com os médicos", afirmou a porta-voz da empresa nos Estados Unidos, Mary Anne Rhyne. Nenhuma outra empresa divulgou qualquer resultado até agora.



O cuidado foi tomado após um prolongado debate sobre o tema, que começou em 2003 após ficar comprovado que essa classe de antidepressivos, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), aumentam a freqüência de pensamentos suicidas em crianças e adolescentes deprimidos.



O estudo da Glaxo, como o primeiro a fazer a mesma ligação com adultos, deve persuadir os céticos, que não viam o risco como real.



Para o psiquiatra Ricardo Moreno, do Hospital das Clínicas de São Paulo, a administração do remédio continuará caso ele seja eficaz. "É importante avaliar a relação entre o custo e o benefício, e orientar os familiares e o próprio paciente sobre este efeito colateral", diz.



Reação - Pesquisas feitas anteriormente já haviam sugerido que o risco de pensamento e comportamento suicidas aumentavam nas primeiras semanas de tratamento, ou quando o paciente era privado da pílula.



Uma revisão ampla de testes com antidepressivos, publicada no ano passado na revista médica britânica "British Medical Journal", já indicava que pessoas que tomaram Paxil ou similares como o Prozac, estavam mais sujeitas a tentar se matar.



Anvisa - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou em seu site uma carta aos profissionais de saúde sobre os possíveis efeitos colaterais do cloridrato de paroxetina, princípio ativo do Aropax.



A agência informou que apesar de testes de segurança em adolescentes não apresentarem efeitos colaterais, sua indicação é restrita ao tratamento dos sintomas da depressão em adultos. A GlaxoSmithKline do Brasil não se pronunciou sobre os possíveis efeitos atribuídos ao Aropax.

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