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PM usa bombas em protesto em São Paulo

Publicado terça-feira, 12 de janeiro de 2016 às 23:42 h | Atualizado em 12/01/2016, 23:48 | Autor: Estadão Conteúdo
Bomba em São Paulo
Bomba em São Paulo -

Após impasse sobre a definição do trajeto do segundo ato contra o aumento da tarifa de ônibus, trens e metrô, a Polícia Militar reprimiu os manifestantes com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, na noite desta terça-feira, 12, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, região central da capital. Houve pânico, tumulto e correria pelas ruas de Higienópolis e Bela Vista.

Ao menos sete pessoas ficaram feridas e três foram detidas. A passagem foi reajustada de R$$ 3,50 para R$$ 3,80 no sábado. A PM mudou a estratégia de ação no protesto - na sexta passada, manifestantes mascarados depredaram o centro e espancaram um agente à paisana, conforme revelado ontem pelo Estado. Policiais da Rota, Rocam e Choque cercaram todos os manifestantes já na concentração, a partir das 17 horas. Os suspeitos foram presos com correntes, tesoura e soco inglês.

O Movimento Passe Livre (MPL) pretendia seguir pela Avenida Rebouças até o Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste. A PM exigia que a passeata percorresse a Rua da Consolação até a Praça da República, no centro. O acesso dos manifestantes era controlado.

"O caminho para o Largo da Batata passa por vias importantes da cidade. Independentemente disso, quem define o rumo da manifestação é quem se manifesta, e não a Polícia Militar", disse Erica de Oliveira, porta-voz do MPL. A negociação foi frustrada entre o comandante da operação, coronel André Luiz Oliveira, e o militante do MPL Mateus Preis.

Bombas

A confusão começou às 19h20, quando um grupo se posicionou à frente do Choque. A PM lançou bombas para dispersar o grupo, antes de a passeata começar. No corre-corre, manifestantes ficaram encurralados e buscaram abrigo em marquises e dentro de prédios, como o Instituto Cervantes.

"Ninguém viu como começou, porque jogaram as bombas. Estava todo mundo junto, e a gente ficou assustado. Minha amiga me puxou pelo braço e a gente começou a correr sem pensar. Quando vimos, estávamos dentro de uma loja, um tipo de galeria. Fecharam as portas. Foi um absurdo a PM jogar bombas assim. Ninguém tinha quebrado nada", disse o estudante Fernando Minoro, de 19 anos. A Estação Paulista da Linha 4-Amarela foi fechada. Comerciantes também baixaram as portas.

Os manifestantes se dispersaram pelas Ruas Bela Cintra, Haddock Lobo e Antônio Carlos. Um ônibus foi pichado na Rua Augusta. Dispersão Parte do grupo seguiu para a Bela Vista na direção da Avenida 9 de Julho, enquanto a maior parte se juntou na Rua da Consolação e partiu para dentro de Higienópolis, área nobre na região central.

Houve novos confrontos na Rua Sergipe. Lixo foi espalhado pelas ruas do bairro. A PM usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra os manifestantes. "Quando chegamos (a Higienópolis), tinha um grupo da PM à frente e outro atrás. Começaram a jogar bombas juntos, os dois lados, não tivemos para onde correr. Aí, os PMs pararam de jogar e mandaram todo mundo sentar no chão", contou Anneli Nobre, de 23 anos, funcionária de uma ONG.

"Teve gente que tentou resistir. Aí, os policiais ficaram muito nervosos e mandaram calar a boca", disse o estudante Daniel Montesanti, de 19 anos. Os moradores e trabalhadores de Higienópolis foram pegos de surpresa com a confusão no bairro. Conforme o grupo avançou, estabelecimentos comerciais foram fechados.

No momento das bombas, uma babá tentou entrar em um prédio da Rua Itacolomi. "Pelo amor de Deus, moço", gritou. O porteiro, assustado, não abriu a porta. "Eu só estava passando. Não tenho nada a ver com isso." Ela contou que trabalha na mesma rua, em outro prédio, e ia caminhar até Santa Cecília, porque estava vendo o tumulto na Paulista.

Em seguida, não conseguiu mais falar por causa do gás. "Isso é a convulsão social. Essa juventude sem educação e agora sem emprego. É isso o que esse País está plantando", disse o analista Caio Lopes, de 50 anos, morador da região que passeava com seu cachorro quando cruzou com o ato. Mais confusão Os grupos foram dispersados pelo bairro. Por volta das 21 horas, as equipes de Choque começaram a embarcar em seus ônibus para a desmobilização da operação.

Pouco depois, no entanto, manifestantes se reagruparam na Rua Xavier de Toledo, na região central, na frente do Teatro Municipal, onde houve mais confronto e uso de bombas de gás. Os manifestantes que seguiram para a Bela Vista foram para a Avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde não houve confronto com a PM. Na esquina com a Rua Rui Barbosa, foi estendida uma faixa bloqueando o trânsito por 15 minutos.

Alguns motoristas xingaram os ativistas. Ao sinal das primeiras sirenes, os ativistas recolheram a faixa e dispersaram. O próximo ato foi marcado para esta quinta, 14, às 17 horas, com concentrações no Largo da Batata e no Teatro Municipal.

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