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Os filhos do algoritmo

Publicado quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022 às 06:04 h | Autor: [email protected]
Imprescindível criar uma política de controle e ética no mundo dos algoritmos, 
já que 
proteger nossa privacidade é impossível
Imprescindível criar uma política de controle e ética no mundo dos algoritmos, já que proteger nossa privacidade é impossível -

Ainda somos filhos de Deus, mas agora quem traça nosso destino é o Algoritmo, grafado em maiúscula, pois se trata de um novo deus, onisciente e onipresente, e responsável por determinar nosso futuro e até nosso passado. Determina o futuro porque é responsável pela seleção dos novos contratos de empregos, pelas compras que vamos fazer, pelas músicas e filmes que vamos ouvir e assistir e por centenas de pequenas ações que pensamos estar fazendo livremente, mas que são induzidas direta ou indiretamente por ele. E determina o passado porque é ele que vai selecionar as notícias que estarão nos sites de busca e que vão contar a nossa história, de acordo com sua percepção do mundo.  E, além de definir o que vamos ver, o que vamos ouvir, o que vamos ler, a melhor rota a seguir e o que vamos comprar, o algoritmo tenta cada vez mais definir como vamos pensar. 

O algoritmo é o que chamamos de inteligência artificial, mas, na verdade, nada mais é do que uma seqüência lógica de instruções, que torna possível a um computador ou um aplicativo realizar uma ação de acordo com um fluxograma. Mas então como ele é capaz de fazer tudo isso? Ocorre que essa inteligência artificial colhe diariamente nossas informações, aprende a identificar-nos, avalia nosso comportamento e classifica e associa todas as informações com o objetivo de induzir nossas ações.   O novo deus induz você a comprar baseado nas suas buscas e nos seus interesses na internet, passa a lhe encaminhar posts e vídeos nas redes sociais, de  acordo com suas manifestações anteriores, de amor, ódio e medo,  e de tal maneira que molda ou consolida seus gostos e preferências, não só no âmbito comercial, mas também no âmbito político, construindo ou modificando sua forma de ver o mundo. 

Cada vez que acessamos o celular fornecemos dezenas de informações sobre nós mesmos a esse deus, que tem o objetivo não declarado de vender produtos e idéias, e que se vale de uma percepção do mundo que tende a ser reacionária, resistente à mudanças, pois tende a fortalecer idéias pré-concebidas há muito mais.  Hoje, quando um currículo chega a uma empresa, ninguém mais avalia as habilidades ou a experiência ali descrita, pois a vaga de emprego é definida pelo algoritmo. E no mercado de ações já existe um algoritmo investidor programado para reagir à alta ou a queda dos papéis, e eles já representam mais de 40% das decisões de compra e venda. Claro, há avanços incríveis que podem beneficiar a sociedade, como, por exemplo, o conjunto de algoritmos capaz de fazer um carro andar sem motorista e até voar nas cidades, de fazer um drone entregar mercadorias ou monitorar plantas industriais em tempo real, assumindo todas as  decisões, inclusive sobre logística, aumentando absurdamente a produtividade. Mas, é sempre bom lembrar, que o drone também pode lançar bombas no Afeganistão e que o avanço nas fábricas significa a perda de milhões de empregos humanos, pois toda e qualquer atividade padronizável poderá ser feita por um algoritmo.  A verdade é que estamos submetidos a um novo deus, que não só define o que vemos e como vemos, o que compramos e como compramos, mas que tem o poder de fazer nossa cabeça. Por isso, é imprescindível estabelecer uma política de controle e ética no mundo dos algoritmos, já que proteger nossa privacidade tornou-se impossível, afinal o novo deus é onisciente e onipresente.

Os juros e as PECs

O Brasil voltou a cantar a ciranda dos juros. E a previsão já é de uma taxa Selic de 12,5% ao ano. Com uma inflação de dois dígitos, era preciso aumentar os juros, mas o Banco Central exagerou. Elevação de juros é receita para conter a demanda, mas a demanda não está crescendo, pelo contrário, está estagnada, é só ver as vendas no varejo. A inflação brasileira hoje tem muito mais componentes de custos do que de demanda. Parte do aumento dos custos está no reajuste de combustíveis, que é um problema complexo, que precisa ser equacionado tecnicamente. Como não há governo, esse assunto foi deixado nas mãos dos políticos e das suas PECs irresponsáveis, que vão desequilibrar ainda mais a economia.

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