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Bolsonaro no palanque

Publicado quarta-feira, 26 de agosto de 2020 às 16:51 h | Atualizado em 26/08/2020, 17:11 | Autor: Cláudio André de Souza
As consequências da pandemia causaram impactos que cobraram dos governos ações imediatas | Foto: Agência Brasil
As consequências da pandemia causaram impactos que cobraram dos governos ações imediatas | Foto: Agência Brasil -

O início da pandemia de coronavírus foi devastador para o presidente Bolsonaro, que assistiu inerte à queda da sua popularidade em meio a um turbilhão de acontecimentos que atingiram em cheio o país e o mundo. As consequências da pandemia causaram impactos que cobraram dos governos ações imediatas, por aqui Bolsonaro propalou a minimização da pandemia, como se ela não existisse.

No dia da reunião ministerial geradora da crise político-institucional que quase derrubou o presidente (22/04), o Brasil já tinha acumulado 2.934 mortes por Covid-19, mas, para o presidente, o objetivo do encontro era dar uma “prensa” no ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, a fim de ganhar espaço na Polícia Federal (PF). A prisão de Fabrício Queiroz desnudou as suas reais intenções; há evidências monumentais de que ele sempre quis controlar a PF para atrapalhar investigações que o atinjam.

A necessidade do Auxílio Emergencial levou os brasileiros a suavizar a avaliação do governo. A pesquisa Datafolha divulgada no início de agosto mostrou que 37% avaliam positivamente o presidente, que se vê motivado a engendrar quatro movimentações ambiciosas: (a) busca montar uma base segura no Congresso com o apoio do Centrão, afastando a tese do impeachment e influenciando a sucessão na presidência das suas casas legislativas; (b) aproveitar a "bonança" do Auxílio Emergencial e gerar ganhos eleitorais; (c) tratar o eleitorado do nordeste como repositório da perda de espaço no sudeste em 2022; (d) testar a popularidade do seu governo nas eleições municipais, neutralizando críticas à sua gestão por parte de candidatos nas 96 cidades que possuem segundo turno. Com uma faixa de 20 a 30% de apoio, poucos candidatos se arriscarão a radicalizar, num segundo turno, as críticas ao seu governo, sendo o seu apoio até mesmo decisivo em algumas cidades.

Politicamente, o cálculo eleitoral do núcleo palaciano considera que, segundo o IBGE, uma parte dos estados brasileiros conta com mais de 60% dos domicílios vivendo do Auxílio Emergencial, como é o caso do Amapá (68,8%), Maranhão (65,8%), Pará (64,5%), Alagoas (62,8%) e Piauí (61,7%).

Na Bahia, 41% da população já recebeu o Auxílio, o que causa impacto sociológico imediato na vida das pessoas em cidades de diferentes perfis, como Salvador (34,94%), Camaçari (44,56%), Feira de Santana (40%), Ilhéus (37,88%), Luís Eduardo Magalhães (51%) e Serrinha (44%).

Bolsonaro faz do Auxílio um palanque estratégico e eleitoral, torcendo para que o seu novo “Renda Brasil” estabilize uma base eleitoral rumo a sua reeleição. No meio disso tudo, o presidente subiu no palanque pensando na guerra (eleições) sem vencer a principal batalha que estamos enfrentando (Covid-19).

*Cientista Político e Professor da UNILAB. Autor de “Para onde vai a Política Brasileira?” (Appris, 2018). E-mail: [email protected]

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