Estátuas dos Caboclos recebem cuidados especiais ano a ano
Símbolos da Festa da Independência da Bahia são levados à frente do cortejo
Cleidiana Ramos
Depois de dois anos, neste
sábado, 2, as estátuas dos Caboclos, símbolos do 2 de Julho vão voltar às ruas
na liderança do cortejo da festa. A sua apresentação e entrega ao povo pelo
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) é um dos momentos altos da
celebração afinal todo mundo fica na maior expectativa seja para conseguir
tocar nas imagens, colocar um bilhete no carro ou apenas conferir qual foi a
cor escolhida para o figurino dos Caboclos.
Desde 1997, o professor aposentado da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), José Dirson Argolo é o responsável por cuidar da limpeza e restauro especializados das estátuas e dos carros que são do século XIX. “É um trabalho minucioso ainda mais depois de dois anos em que não houve o desfile. São peças de madeira que já tem uma fragilidade natural em relação à umidade. Além disso são levadas pelas ruas, ficam expostos e aí tem as próprias variações de tempo, como a chuva”, diz Argolo que é o diretor do Studio Argolo Antiguidades e Representações que cuida da conservação e restauro também de outros monumentos da cidade.
Quando assumiu a tarefa de cuidar
das estátuas e carros dos Caboclos, José Dirson Argolo encontrou o desafio de conseguir
um retorno às origens para as peças. Isso porque, como não era feito um
trabalho especializado, havia, por exemplo, camadas e mais camadas de tinta. “Tinha
umas 50 camadas, o que acabava dando um efeito deformador às obras”, diz.
Protesto
Há controvérsias em relação à
autoria da estátua do Caboclo. Brás do Amaral apontou, em seus escritos sobre o
2 de Julho, a autoria para Bento Silvino dos Reis. Já Manoel Querino afirmou que
a escultura é de Inácio da Costa. “A maioria de historiadores segue a versão de
Manoel Querino”, diz Argolo. Já sobre a estátua da Cabocla há certeza. A obra é
de Domingos Pereira Baião.
Na versão mais aceita para a
origem da celebração do 2 de Julho em Salvador conta-se que, em 1824, um ano
após o fim da Guerra da Independência, o povo resolveu repetir o desfile que
havia sido feito pelas tropas do chamado Exército Libertador. A análise é que
foi um protesto, pois, embora as elites estivessem satisfeitas, a vida de quem
era pobre ou escravo continuava igual ao período anterior à emancipação política
de Portugal.
À frente desse desfile colocaram um indígena real em cima dos restos de uma canhoneira da guerra. Anos depois foi feita a estátua do Caboclo, que é uma representação do povo brasileiro libertado. Em 1846, o tenente general José de Souza Soares de Andrea, português naturalizado brasileiro, que era o comandante de armas na Bahia, decidiu retirar a estátua do Caboclo do desfile e mandou confeccionar a da Cabocla. Sua ideia era representar Catarina Paraguaçu como um elo entre brasileiros e portugueses. A ação do comandante encontrou sérios protestos e houve até ameaça de confronto caso o Caboclo não desfilasse. Assim as duas estátuas passaram a fazer parte do cortejo.
A importância dos Caboclos para as
comemorações do 2 de Julho é o tema dessa semana da coluna A TARDE Memória. O
projeto multimídia tem inserções em canais do Grupo A TARDE: neste Portal; em A
TARDE FM (às sextas-feiras) e no jornal A TARDE (aos sábados). O conteúdo é baseado
nas coleções do acervo do Cedoc A TARDE.