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Agora é oficial: Sérgio Moro é político

Publicado segunda-feira, 08 de novembro de 2021 às 12:26 h | Atualizado em 08/11/2021, 12:29 | Autor: Cláudio André
Filiação do ex-juiz ao Podemos confirma o que já sabíamos: Moro sempre sonhou em estar no campo
Filiação do ex-juiz ao Podemos confirma o que já sabíamos: Moro sempre sonhou em estar no campo -

Nenhuma pessoa que acompanha atentamente a política brasileira se surpreendeu com o anúncio feito de que o ex-juiz Sérgio Moro se filiaria a um partido político, o Podemos. Mas como tudo isso começou? A atuação de Moro foi incontestavelmente suspeita no julgamento do ex-presidente Lula e em outras investigações no âmbito da Lava Jato. Isso, em parte, já foi corrigido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que devolveu condição de elegibilidade a Lula para as eleições de 2022.

Citemos dois momentos em que Moro se comportou de forma partidária. Em 2016, Lula foi indicado para ser ministro do governo Dilma. A nomeação aparentava, para uns, a tentativa de salvar Lula de uma possível prisão, mas o fato é que a presidente precisava do líder petista para negociar uma nova base parlamentar para fugir do impeachment. O Supremo deferiu liminar suspendendo a nomeação, mas Moro foi mais longe: suspendeu o sigilo de uma escuta ilegal, em que Dilma pedia para Lula assinar o termo de posse como novo ministro do governo.

Foi isso mesmo: o então juiz divulgou uma escuta, feita fora do prazo legal, que continha uma conversa de ninguém menos que a presidente da república. Tanto a escuta quanto a divulgação precisariam de expressa autorização do STF.

Outro momento se deu quando da delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que afirmara que foi procurado por Sérgio Guerra, à época Senador e ex-presidente do PSDB, para pedir propina, com a promessa de, em troca, enterrar a CPI da Petrobras no Senado (2009). Leonardo Meirelles, laranja do doleiro Alberto Yousseff na empresa Labogen, ficou de frente para Moro em audiência na Justiça Federal e detalhou o esquema, mas sequer foi perguntado pelo juiz sobre o assunto.

Depois disso, a história já é conhecida. Moro virou ministro do governo antagonista do PT, mas não sem antes julgar e prender Lula, que liderava as pesquisas para as eleições de 2018. No governo, se viu sufocado por Bolsonaro, que impediu qualquer movimentação da sua parte para aumentar seu capital político. O ex-juiz começou o governo como presidenciável e saiu como tal, depois de denunciar Bolsonaro por aparelhar a Polícia Federal para barrar investigações da sua família, mas foi fritado pelo presidente nas redes sociais como traidor. Na prática, Bolsonaro converteu o lavajatismo em bolsonarismo, deixando Moro menor politicamente.

A filiação de Moro ao Podemos confirma o que já sabíamos: o juiz sempre sonhou em estar no campo sem apito e cartão vermelho no bolso. Sendo candidato a presidente ou ao legislativo, Moro será um político que vai defender a política ou vai encarnar o discurso “limpinho” de que entrou em campo para tão somente moralizar o campeonato?

*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020)

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