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As raízes do bolsonarismo

Publicado segunda-feira, 02 de agosto de 2021 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Para vencer em 2022, Bolsonaro precisará ser menos bolsonarista | Foto: Marcelo Camargo I Agência Brasil
Para vencer em 2022, Bolsonaro precisará ser menos bolsonarista | Foto: Marcelo Camargo I Agência Brasil -

A obra que o cientista político Gerald Pomper publicou em 1967 representou um avanço na análise eleitoral, ao propor a seguinte classificação para as eleições estadunidenses: a) Eleição mantida – partido majoritário ganha as eleições com estabilidade no padrão de votação, comparado com a eleição anterior; b) Eleição desviante – partido majoritário é derrotado nas eleições, mas com uma votação semelhante à recebida na eleição anterior; c) Eleição de realinhamento – partido majoritário perde as eleições, mas com uma votação que destoa da eleição anterior; e, por fim, d) Eleição convertida – partido majoritário ganha as eleições, mas muda o padrão eleitoral.

Se seguirmos esta base analítica e conceitual, o que tivemos em 2018 no Brasil foi uma eleição desviante. O PT perdeu as eleições, mas não fez feio, chegando a 44,87% de votos, com o candidato reserva de Lula, o ex-ministro Fernando Haddad. Já Bolsonaro desbancou o PSDB, elegendo-se pelo então nanico PSL, todavia com um detalhe: o bolsonarismo “roubou” a base dos tucanos nos estados do sul e do sudeste, conquistando terreno entre eleitores com maior renda e escolaridade. Em São Paulo, estado governado há décadas pelo PSDB, os tucanos viveram seu 7x1: Alckmin obteve pífios 9,52% dos votos ante 53% de Bolsonaro. Em Santa Catarina o ex-capitão conquistou 65,82% dos votos no primeiro turno, e João Amôedo (4,01%) ficou na frente de Alckmin (3,89%).

O derretimento do padrão de votação do bolsonarismo tem sido monitorado em tempo real por pesquisas de opinião. A Quaest Pesquisa avançou algumas casas ao construir e aplicar em julho um modelo de análise voltado a esmiuçar as raízes do bolsonarismo. Numa das perguntas, os entrevistados precisavam dizer quem preferem que vença as eleições de 2022: 41% querem Lula; 24%, Bolsonaro; e 31%, nem um, nem outro.

Na chance de voto, 61% afirmam categoricamente que não votarão em Bolsonaro, percentual que sobe para 67% quando se pergunta qual a principal razão para votar no atual presidente; 9% dizem que o farão porque Bolsonaro está fazendo um ótimo trabalho; 9%, para evitar que o PT volte ao poder, 8%, para afastar o comunismo/ditadura do Brasil; e 5%, por não quererem que Lula volte a ser presidente.

Para ser reeleito, Bolsonaro precisa manter seu eleitorado fiel mobilizado em campanha permanente, tanto no grupo do zap, quanto na família, na igreja e nos demais espaços sociais e políticos. A polarização ultrapassa as esferas da escolha eleitoral.

Além de manter os convertidos, o presidente precisa que 20% de eleitores mudem de opinião e passem a ver que seu governo merece continuar. Quer dizer: para vencer em 2022 Bolsonaro precisará ser menos bolsonarista. Foi esse o recado levado por Arthur Lira no início da semana passada, dando o aval do Centrão para a instalação do Senador Ciro Nogueira (PP/PI) dentro do Palácio do Planalto. A estratégia do núcleo político civil-militar de Bolsonaro é consolidar a presença do centrão no governo, indo à caça de prefeitos e lideranças políticas com as armas da liberação de recursos, ao mesmo tempo em que tenta fazer em um ano o que não fez em dois, emplacando medidas de apelo popular. Será que vai dar certo?

*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).

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