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Bolsonaro planejou um golpe?

Publicado segunda-feira, 13 de setembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Foto: Valter Campanato I Agência Brasil
Foto: Valter Campanato I Agência Brasil -

O 7 de setembro golpista de Bolsonaro não deu o público esperado. Seu discurso calculado, tanto em Brasília quanto em São Paulo, foi acintosamente criminoso, com ataque às instituições democráticas e promessas a sua claque de que acionaria o Conselho da República, dando a entender que manobrava para debater um Estado de Sítio ou de constrangimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), principal alvo da base bolsonarista convocada às ruas na comemoração do 199º aniversário da Independência do Brasil.

Pergunto-lhe, leitora, leitor: você se lembra a pauta na qual o STF travou uma batalha sangrenta com o presidente? Não existe. Bolsonaro escolheu centrar fogo retórico no Ministro Alexandre de Moraes por causa do avanço das investigações sobre o aparelho anti-democrático que cerca o presidente para produzir fake news e organizar atos contra nossas instituições. Já a perseguição bolsonarista ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ministro Luís Roberto Barroso, está relacionada à articulação contra o voto impresso; na cabeça de Bolsonaro, o Tribunal deveria resistir a seus ataques frontais à urna eletrônica com um recuo de joelhos.

Vejam: o tempo inteiro Bolsonaro age como se as instituições não tivessem legitimidade para atuar com independência. Quem não se alinha está sujeito a ser achincalhado pela milícia digital bolsonarista ou à falange que vai para a rua num 7 de setembro. No mundo de vocês, um presidente assim é democrata ou autoritário?

Eis aí o beco sem saída em que estamos metidos. O presidente dá sinais de que planejou o início de um processo de golpe roteirizado e previsível. Com muita gente nas ruas, forçaria o Conselho da República a dar sinais de fraqueza. A legitimidade das ruas, somada ao bloqueio dos caminhoneiros, poderia deixar brecha para a adoção do Estado de Sítio, com restrições políticas e jurídicas que deixariam a condução da crise sob a responsabilidade do presidente e das forças militares. Depois daí, qual seria o próximo passo? Estado de Exceção com adiamento das eleições?

A cartinha de desculpas de Bolsonaro, formulada por seu consultor de crise, o ex-presidente Michel Temer, é um recuo meramente retórico, que dificilmente sairá do papel. Nos dez parágrafos escritos com o apoio de Elsinho Mouco, marqueteiro de Temer, temos apenas justificativas rasas, como se Bolsonaro fosse um estadista republicano mal compreendido.

Ou as forças democráticas ocupam as ruas defendendo um impeachment do presidente para salvaguarda da nossa democracia, ou ficaremos nas mãos de uma parte pragmática do Congresso que olha primeiro para o dinheiro de emendas e recursos do orçamento, como se o presidente não fizesse mal à democracia.

*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB (Campus dos Malês/BA) e um dos organizadores do livro “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).

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