O centrão se espalhou no governo
Por diversas vezes ao longo da campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro prometeu que sua política econômica seguiria um perfil neoliberal preocupado com a redução do Estado e com profundo interesse no rigor fiscal e no cumprimento do teto de gastos, que limita as despesas do governo. Ao tratar seu “Posto Ipiranga”, o economista e empresário Paulo Guedes, como o cérebro da sua campanha, o futuro presidente buscava deixar claro para o mercado que manteria uma agenda de austeridade fiscal alinhada aos interesses do capital.
Eleito Bolsonaro, na montagem e no início do novo governo, seguiu-se a toada do mercado, com aprovação da famigerada reforma da previdência, a trancos e barrancos. Naquele ano, o PIB cresceu 1,1%, menor avanço em 3 anos. Com a chegada da pandemia, a agenda regressiva e neoliberal de Guedes e do Planalto precisou sofrer ajustes, diante das demandas relacionadas ao coronavírus. Assim, no início de abril de 2020, foi publicada a lei que criou o auxílio emergencial mensal no valor de R$ 600,00 para trabalhadores informais, microempreendedores individuais, contribuintes individuais da Previdência Social e desempregados. Isso só foi possível por se ter criado um crédito extraordinário no orçamento de R$ 98 bilhões, para viabilizar o pagamento do auxílio, o qual tem sido prorrogado até o mês atual.
O sucesso do auxílio foi gigantesco, permitindo a Bolsonaro surfar na melhora da avaliação do seu governo. Nas rodadas de pesquisa XP/Ipespe, o presidente reduziu a avaliação negativa de 49%, em maio de 2020, para 31%, em outubro do ano passado. De lá para cá, o governo vem amargando o aumento da impopularidade, chegando novamente a 49% em maio deste ano. Na pesquisa Datafolha de setembro, 53% dos entrevistados reprovaram o governo Bolsonaro.
Esse cenário político acendeu um sinal de alerta no Planalto. A mala de ferramentas do centrão a gente já conhece: pouca rigidez na política macroeconômica e populismo fiscal para manter Bolsonaro viável para a reeleição. Daí que o novíssimo Auxílio Brasil, o Auxílio Diesel e demais planos que vierem pela frente estão sob condução do centrão, passando pela fritura de Guedes.
A demissão dos principais auxiliares do ministro na semana passada é um recado direto ao governo: de forma atabalhoada, um novo auxílio, mix do emergencial e do Bolsa Família, pode até ser uma boa jogada eleitoral, mas também pode explodir o dólar e a inflação, gerando uma tempestade perfeita para um país que ainda não saiu de vez da pandemia no âmbito social e econômico. O mercado vê um governo perdido, a criar “gambiarras fiscais”, e uma parte grande da população vê a proliferação de empregos precários, quando não a fome, bater à porta.
*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).