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O evento-teste golpista de Bolsonaro

Publicado segunda-feira, 06 de setembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza
Bolsonaro mobiliza radicais para atos de 7 de Setembro
Bolsonaro mobiliza radicais para atos de 7 de Setembro -

Passamos os últimos dias especulando sobre a capacidade e as formas de mobilização do bolsonarismo para ocupar, em especial, as ruas de São Paulo e Brasília no 7 de setembro, numa afronta ao Supremo Tribunal Federal (STF) e reiterando apoio ao governo do presidente Bolsonaro. Na bolsa de palpites, entrou no radar dos analistas políticos a possível ação violenta de aloprados.

Não se sabe com certeza se assistiremos amanhã grupos radicais dando um passo à frente na escalada autoritária que o país vive, porém é fato que as bases bolsonaristas estão preparando marchas pirotécnicas, com helicóptero para filmagens, caravanas de diversas cidades, hasteamento da bandeira brasileira em estabelecimentos comerciais e residências, camisas padronizadas; enfim, há um clima de festa pró-Bolsonaro jamais visto, patrocinado por empresários convertidos em micro-lideranças bolsonaristas, com interesses eleitorais imediatos. Há suspeita de financiamento ilegal dos atos, ilustrado pelo caso da prisão do prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba (PSL), que viajava para Brasília com R$ 505 mil em espécie, no dia 26/08.

Algumas projeções de monitoramento das redes sociais apontam que os dois principais atos estão longe do fracasso, ainda mais tendo em vista a presença confirmada do presidente nas capitais federal e paulista. Quem estará nas ruas? A base radical do bolsonarismo, que adere à cantilena de que o presidente é vítima de um complô do legislativo e do judiciário (leia-se STF), que impede o governo de trabalhar.

É notório que Bolsonaro infla os ânimos da sua base contra as instituições de forma escancarada. Não há mais eufemismos e recados sutis: o que assistimos nas últimas semanas é a convocação oficial, golpista, de atos que sirvam como “freio e contrapeso” à Suprema Corte. O presidente modula um discurso híbrido em que fala do respeito ao jogo nas “quatro linhas” da Constituição, mas acena em seguida com uma ruptura institucional, o que motiva setores radicais a provocarem arruaça contra as regras do jogo.

Será mesmo que o Planalto não previu a face do radicalismo se convertendo em violência? O apelo à adesão de segmentos das Polícias Militares confirma que a ameaça à democracia é um pilar do cálculo político dos bolsonaristas, no governo e fora dele. O próprio presidente veio à Bahia na sexta, 03, e declarou que as manifestações do 7 de setembro serão um ultimato para “um ou dois” ministros do STF.

A reação das instituições precisa ser imediata e radical em defesa da democracia. Não vai bastar que elas floresçam em “notas de repúdio” ou declarações à imprensa. Fora o papel constitucional de garantir as regras e a ordem política, precisaremos que partidos e o conjunto de forças da sociedade civil democrática, dos diferentes matizes ideológicos, ocupem as ruas num contraponto radical, em defesa da democracia e das instituições, em especial do STF.

Ao chamar o lado dele para a briga, Bolsonaro obriga o restante do sistema político-representativo a uma reação à altura. Difícil ser otimista, mas tomara que o evento-teste bolsonarista fique só no campo retórico do golpismo —embora isso por si só já revele que a democracia brasileira está em risco.

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