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Teremos uma Revolta do Petróleo?

Publicado segunda-feira, 01 de novembro de 2021 às 06:03 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Desde 2016, a política de preços dos combustíveis da Petrobras é calculada com base no mercado internacional | Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil | 16.09.10
Desde 2016, a política de preços dos combustíveis da Petrobras é calculada com base no mercado internacional | Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil | 16.09.10 -

Há 40 anos, no final de agosto de 1981, Salvador passou por uma onda de protestos contra o aumento do preço da passagem dos ônibus. Foram 343 coletivos depredados e 10 incendiados, mas as mobilizações se iniciaram semanas antes, com protestos dos motoristas de ônibus, que haviam perdido a cota de passes a que tinham direito.

A proposta de aumento da tarifa de ônibus chegou durante a crise econômica que já assolava o país. Naquele ano, com inflação média de 102%, o PIB variou negativamente em -4,3%. Os quatorze dias que abalaram Salvador reagiam à proposta de aumentar em 61% a tarifa do transporte coletivo, a qual já havia aumentado em 259,56%, entre 1980 e 1981. O preço do Diesel ditava o custo fixo do sistema de transporte nas grandes e médias cidades brasileiras.

E hoje? Estamos à beira de um novo ciclo de protestos no país. Nos últimos anos, o Brasil virou um celeiro de novos trabalhos de perfil precarizado, que mantém os trabalhadores na informalidade, trabalhando para a geração de lucros gigantescos das empresas internacionais de tecnologia. Foi o que surgiu nos últimos anos para aplacar o desemprego no país, levando milhares de trabalhadores a usarem motos, bicicletas e automóveis em busca de uma saída imediata para o desafio de obter renda, embora várias pesquisas apontem baixos salários e exaustão como elementos da rotina diária da maioria dos trabalhadores por aplicativo.

Desde 2016, a política de preços dos combustíveis da Petrobras é calculada com base no mercado internacional, que com frequência repassa as variações para os consumidores. Em 2021, o preço da gasolina já flutuou em 74%. Em 2016, um litro de gasolina era comercializado por R$4,58, em média.

A crise econômica chegou na mesa das famílias brasileiras. O tom é dado pelo acorde de inflação, desemprego e aumento de estoque de trabalhos informais. Na pesquisa da Quaest/Banco Genial de outubro, a economia passou a ser vista como o principal problema do Brasil. Essa era a percepção de 28% dos entrevistados em julho; saltou para 44% da população.

Os protestos que trabalhadores por aplicativo e mototaxistas realizaram nos últimos dias em postos e nas ruas contra os preços dos combustíveis é um sinal, desesperador, de que a política atual de preços é insustentável, injusta e desumana. A economia ainda não beira o caos em que estávamos quando tivemos o quebra-quebra de Salvador em 1981, mas nada garante que a situação não vai piorar.

Novos protestos podem vir na esteira da crise, enquanto o governo ensaia aumentar os gastos com propaganda para o novo auxílio com que se pretende substituir o Bolsa Família. A depender da inflação e do aumento do preço do dólar, vai resolver?

*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020)

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