Fernando Cuma, o caso que Jorge Amado não contou | A TARDE
Atarde > Colunistas > Levi Vasconcelos

Fernando Cuma, o caso que Jorge Amado não contou

Ex-prefeito de Itabuna morreu neste domingo, aos 83 anos

Publicado terça-feira, 26 de julho de 2022 às 05:30 h | Autor: Levi Vasconcelos
Fernando Gomes, cinco vezes prefeito de Itabuna, mais três como deputado federal
Fernando Gomes, cinco vezes prefeito de Itabuna, mais três como deputado federal -

Os descendentes das famílias tradicionais da área do cacau não gostam muito de Jorge Amado. Acham que ele consagrou personagens como Gabriela, mas também estigmatizou os produtores como ‘coronéis’, má fama que custou caro com a vassoura de bruxa.

Mas talvez Jorge Amado esteja fazendo falta justamente para escrever novos capítulos do mesmo palco. Fernando Gomes, cinco vezes prefeito de Itabuna, três deputado federal, sem dúvida é personagem top desse tempo de transição, o fim do apogeu do cacau e o começo da nova era.

Jabes Ribeiro, três vezes prefeito de Ilhéus, que com ele dividiu grande parte do protagonismo desse tempo, na política, é curto e objetivo:

— Indiscutivelmente ele tem muita importância histórica. Era uma figura ímpar.

Santa Cruz —Conta Jabes que por vezes estava ombreado com Fernando, como na luta pela estadualização do espaço que hoje abriga a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Outras vezes estiveram em lados opostos, como a briga desfraldada por Fernando pela criação do Estado de Santa Cruz, uma ideia que pretendia dividir a Bahia também na banda sul (a mesma ideia que já campeou pelo oeste baiano).

— Mas não tenha dúvida que entre os grandes nomes da região, ele marcou época.

Fernando Gomes tinha apenas o segundo o grau. Cacauicultor, ganhou o apelido de Fernando Cuma porque diziam, no folclore, que lá um dia alguém falou algo para ele e a resposta foi uma pergunta: ‘Cuma?’.

Justiça — Mas o Fernando que tanto brilhou no fim do século passado e início deste, como um dos arautos na briga contra a ditadura na região do cacau, depois virou carlista e na política teve um final melancólico. Em 2016 ganhou a sua última eleição para prefeito após passar muitos perrengues na justiça. 

Foi mal, tão mal que em 2020 tentou a reeleição e ficou em terceiro lugar  com 15.876 votos, contra 40.868 do vencedor, o hoje prefeito Augusto Castro (PSD), e 17.817 de Capitão Azevedo (PL), o segundo.

Fernando completou 83 anos no último dia 30 de junho. Estava bem, dizendo que não mais disputaria mandato mas ia morrer político.

Depois de amanhã Itabuna faz aniversário, completa 112 anos. O clima é de luto.

Com a fala aloprada, ele dizia o que bem entendia

Prefeito pela primeira vez em 1977, Fernando Gomes logo encontrou um inimigo midiático e também demonstrou o seu estilo de fala destemperada. Era Lucílio Bastos, da rádio Difusora (que depois ele compraria).

Eis que um dia Fernando foi olhar a montagem do palco para festa na cidade, quando viu Lucílio lá em cima. De baixo mesmo, gritou:

—-Lucílio, desça daí! Como pra você tudo o que eu faço não presta, se você escorregar aí depois vai dizer que eu queria lhe matar!

Em julho de 2020, no último mandato de prefeito, ao anunciar que iria reabrir o comércio, mostrou que em nada tinha mudado.

— Vou abrir, morra quem morrer!

Publicações relacionadas