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Felinos driblam preconceito e conquistam tutores

Publicado domingo, 18 de julho de 2021 às 06:07 h | Atualizado em 18/07/2021, 20:22 | Autor: Hilcélia Falcão
Apaixonada por felinos, a psicóloga Diana Bittencourt de Andrade cuida de nove
Apaixonada por felinos, a psicóloga Diana Bittencourt de Andrade cuida de nove -

Se você não aguenta ver um gatinho na rua, leva para casa mesmo já tendo muitos num apartamento e tenta a todo custo um tutor responsável para ele, essa matéria é para você. Mas se você odeia felinos, acha que gato gosta mais da casa e da comida e não tem amor por ninguém, esse texto é para te ajudar a ter um olhar compassivo para esses bichinhos incompreendidos.

“Muita gente que não tinha empatia está se solidarizando”, afirma a médica veterinária Ilka Gonçalves, pioneira na criação de uma clínica exclusiva para felinos em Salvador, a Felina Clínica para Gatos.

Segundo ela, o número de gatos nos lares tem crescido à proporção que mitos negativos vão sendo desfeitos. Conforme o índice Bigcat, quanto mais desenvolvido o país, maior a população de felinos nos lares. De acordo com Ilka, na Europa e nos Estados Unidos, há mais gatos que cães.

Mitos históricos

Felinos são vítimas de um processo histórico que os tornaram alvo fácil do preconceito e da perversidade humana. É comum encontrá-los feridos e mutilados como ocorreu com os quatro gatinhos adotados por Ilka. Um deles teve as patas cortadas a facadas. Há cerca de 15 dias, um episódio ocorrido na colônia em Piatã, incendiada deliberadamente, ilustra a vulnerabilidade dos bichanos. A diligência dos gateiros viabilizou lares para 140 dos 300 que ali viviam. “Foi uma situação de emergência, como vi que havia incêndio, não pude me furtar de ajudar”, conta a presidente do Gatil Irmã Francisca, Tania Penalva, 70 anos, que acolheu as gatas prenhes da colônia.

Domesticados muito depois dos cães, que são mais sociáveis e dependentes dos tutores, os gatos se tornaram malditos, por questões religiosas, na época da Inquisição. “O que sabia do gato era de ouvir falar; que não gostava do dono, gostava mais da casa, mas me enganei”, conta o professor Heitor Prates de Azevedo Júnior, 50 anos, hoje apaixonado pelos bichanos. A paixão nasceu da convivência com a companheira, a psicóloga Diana Bittencourt de Andrade, 57 anos, hoje tutora de 9 bichanos, alguns deles resgatados pelo próprio Heitor nas ruas.

É o caso de Nina, salva por ele da hostilidade humana. “Vi dois rapazes em bicicletas tentando atropelá-la”, conta ele, que a levou para casa. Ao chegar no veterinário, Heitor e Diana descobriram que Nina estava prenhe de três gatinhos. “Íamos colocar para adoção mas não conseguimos”, conta Diana, à época tutora de 7 gatos. Com o nascimento de Ozzy, Gasparzinho e Florzinha, ficou com 10. Além deles, Mel, Zezinho, Jade, Pingo, Amora e Yuki. Este último foi pro céu dos gatinhos esta semana. O mesmo onde estão Beethoven, o gato persa de Diana que conquistou Heitor e o fez presenteá-la com Frajola, que morreu aos 14 anos.

Medida da época da inquisição demonizou bichanos

A associação dos felinos ao paganismo, na figura da deusa Bastet, rendeu aos gatos uma trajetória de perseguição. Foi o Papa Gregório IX, autor da bula Vox in Rama, que demonizou os animais, especialmente os gatos pretos. Segundo o documento, eles seriam usados por uma suposta seita herege na Alemanha. O resultado foi catastrófico: os gatos foram massacrados, dizimados, o que acarretou a proliferação de ratos e a peste negra.

“Amaldiçoavam as pessoas que tinham gato. Naquela época, o extermínio deles interferiu no controle de pragas”, explica a médica veterinária Ilka Gonçalves. Se por um lado ficou evidente a função destes animais como fundamentais ao equilíbrio da cadeia alimentar, por outro, associá-los a uma maldição, turbinada pela bula papal, gerou uma série de crenças infundadas que até hoje os afasta de muita gente. Pior que isso: elas são a “justificativa” para todo tipo de perversidade. “Tem gente que fura o olho, enterra o gato, envenena”, descreve ILka.

O absurdo de tanto desamor com os bichanos é diretamente proporcional à falta de políticas públicas, inclusive campanhas educacionais, voltadas à causa animal. Para ter um gato, é importante, além de empatia, os cuidados com a castração, vacinação e o ambiente. Casas e apartamentos telados para impedir quedas e fugas os protegem. Afinal, blindá-los da maldade humana é responsabilidade do tutor.

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