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Ministério da Saúde consentiu que Hapvida promovesse tratamento sem comprovação contra Covid-19

Publicado quarta-feira, 06 de outubro de 2021 às 09:51 h | Atualizado em 06/10/2021, 10:16 | Autor: O Globo e O Povo
Superintendente da Hapvida, Anderson Nascimento, defende uso de 'kit Covid' em reunião promovida pelo Ministério da Saúde em julho de 2020. Foto: Reprodução
Superintendente da Hapvida, Anderson Nascimento, defende uso de 'kit Covid' em reunião promovida pelo Ministério da Saúde em julho de 2020. Foto: Reprodução -

Um vídeo gravado em julho de 2020 reforça as suspeitas de que o governo e operadoras de saúde investigadas pela CPI da Covid-19 atuaram em parceria para propagar a aplicação do "kit Covid", composto por medicamentos comprovadamente ineficazes no combate ao novo coronavírus, como a hidroxicloroquina.

A gravação mostra uma conferência online com a participação da secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, e o superintendente nacional da Hapvida, o médico cirurgião Anderson Nascimento, defendendo o uso do chamado “kit Covid”. Também estavam presentes representantes da Unimed Fortaleza e de conselhos de Medicina.

"Depois da tomada de decisão e do desenho do protocolo, decidimos de uma forma pioneira distribuir kit Covid. Chegamos a distribuir mais de 25 mil", disse Nascimento durante a apresentação.

Os dados vinham de experiências colhidas em hospitais de todo o país até a metade do ano passado. Com quase quatro milhões de usuários em assistência médica, a Hapvida é o maior plano de saúde das regiões Norte e Nordeste, o que, segundo Nascimento, levava a operadora a ter uma boa dimensão da evolução da doença.

Com base no que chamou de “impressão clínica”, o executivo da Hapvida anunciou que estudos da operadora mostravam que pacientes submetidos a tais drogas tinham 60% menos chances de internação. Àquela altura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia determinado a suspensão de dois estudos sobre a hidroxicloroquina, uma das drogas não recomendadas para tratamento da Covid-19, após constatar que a substância não reduzia índices de mortalidade e internações.

Após ouvir a explanação de Nascimento, Mayra disse que o “exemplo” apresentado pela Hapvida a animava.

"Aqueles que se negam a disponibilizar às pessoas um medicamento distribuído pelo Ministério da Saúde serão em breve cobrados pelo não exercício de cidadania, por improbidade e omissão de socorro", afirmou a secretária, que, ao final, disse ter “orgulho” de fazer parte “desse time”.

Caso Hapvida

Médicos cooperados relatam que houve pressão nas unidades da Hapvida para promoção do "kit Covid" nos meses seguintes. Na semana passada, mensagens de texto e áudio do dia 20 janeiro de 2021 feitas pelo diretor da Hapvida, Alexandre Wolkoff, vieram à público.

"A gente tem uma luta muito grande nos próximos dias para aumentar consideravelmente a prescrição de cloroquina, o kit Covid, para garantir que a gente tenha menos pacientes internados", revela um dos áudios de Wolkoff. 

Sobre as denúncias, a empresa cearense se manifestou na última segunda-feira (04), em nota de esclarecimento. "No passado, havia um entendimento de que a hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. No melhor intuito de oferecer todas as possibilidades aos nossos beneficiários, houve uma adesão relevante da nossa rede, que nunca correspondeu à maioria das prescrições", assim respondeu a Hapvida sobre as acusações de pressão no corpo médico para distribuição do "kit Covid".

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