ONU alerta para risco de "catástrofe" em 2021 por atraso na vacinação de crianças
A ONU alertou nesta quinta-feira (quarta, 14, no Brasil) sobre o risco de uma "catástrofe absoluta" se o perigoso atraso na vacinação de crianças como resultado da pandemia de covid-19 não for resolvido e as restrições sanitárias forem suspensas muito rapidamente.
"Em 2021, temos o potencial para que aconteça uma catástrofe absoluta", afirmou a doutora Kate O'Brien, diretora do Departamento de Vacinação da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genebra.
A pandemia obrigou a desviar recursos e funcionários para a luta contra o coronavírus, e muitos serviços médicos tiveram que fechar ou reduzir seus horários.
As pessoas também se tornaram reticentes a se locomover por temor ao vírus, mesmo quando as medidas restritivas não proibiam deslocamentos.
A situação das crianças desprotegidas e um levantamento muito rápido das restrições sanitárias contra a covid-19 - que em parte cuidavam de algumas doenças infantis - já estão fazendo sentir seus efeitos, por exemplo com surtos de sarampo no Paquistão, sublinhou O'Brien.
Esses dois fatores combinados são "a catástrofe absoluta contra a qual estamos soando o alarme agora, porque precisamos agir imediatamente para proteger essas crianças", insistiu.
- Sinal de alerta -
Em 2020, 23 milhões de crianças não receberam as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, que servem como medida de referência, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela OMS e Unicef.
É o valor mais alto desde 2009 e representa um aumento de 3,7 milhões de crianças em relação a 2019.
Ainda mais grave para os dois órgãos é que 17 milhões de crianças - a maioria delas vivendo em zonas de conflito, locais isolados ou bairros altamente desfavorecidos e privados de infraestrutura de saúde - certamente não receberam uma dose no ano passado.
Esses números "são um sinal de alarme claro, a pandemia de covid-19 e os distúrbios que causou nos fizeram perder um terreno precioso que não podemos abrir mão e as consequências serão pagas em mortes e perda de qualidade de vida da maioria vulnerável", lamentou a diretora da Unicef, Henrietta Fore.
A taxa de vacinação para difteria, tétano e coqueluche estava estagnada em 86% por vários anos antes da pandemia e em 2020 caiu para 83%.
No caso do sarampo, uma doença altamente contagiosa que necessita de um percentual de cobertura vacinal de 95% para ser controlada, apenas 71% das crianças receberam a segunda dose.
- México em apuros -
Nas Américas, há uma "tendência preocupante de longo prazo", apesar do declínio associado à pandemia ter sido modesto (2 pontos percentuais a menos do que em 2019).
“A desinformação sobre vacinas, instabilidade e outros fatores formam um panorama preocupante” na região onde “a taxa de vacinação continua caindo”, afirmam a OMS e a Unicef.
Apenas 82% das crianças estão totalmente imunizadas com a vacina contra difteria, tétano e coqueluche, em comparação com 91% em 2016.
O México é um dos países em que o número de crianças não cobertas pela primeira dose de vacinas contra essas três doenças aumentou mais rapidamente, passando de 348.000 em 2019 para 454.000 no ano passado.
Na Ásia, a taxa de cobertura caiu de 91% para 85% em 2020 na Índia, que teve 3,5 milhões de crianças parcialmente vacinadas ou não vacinadas. Paquistão, Indonésia e Filipinas também viram o número de crianças desprotegidas aumentar.
A ONU ressaltou que é importante que a distribuição de vacinas anticovid não seja feita em detrimento dos programas de vacinação infantil.