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CDs de marchinhas e frevos abrem alas para o carnaval

Publicado quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007 às 09:54 h | Autor: Agencia Estado

Entre o frenesi do frevo, a embriaguez do samba e o sassarico das marchinhas, quem prefere fugir do calor das multidões e ainda assim não ficar de fora da folia tem a opção de animar a festa particular com bons exemplares carnavalescos. É claro que as compilações que acabam de sair por ocasião da festa são todas revisionistas, mas ninguém precisa muito de música nova no carnaval mesmo... Três álbuns duplos, O Melhor Carnaval do Mundo - Marchas e Sambas Imortais (EMI), 100 Anos de Frevo - É de Perder o Sapato (Biscoito Fino) e Sassaricando - E o Rio Inventou a Marchinha (Biscoito Fino), além de clássicos e curiosidades têm perfil documental.

Produzido pelo compositor pernambucano Carlos Fernando, 100 Anos de Frevo traz 14 temas instrumentais no primeiro CD e 17 cantados no segundo. O instrumental, com temas como Duda no Frevo (Senô), Gostosão (Nelson Ferreira) e Passo de Anjo (João Lyra/Spok) executados pela sensacional Spok Frevo Orquestra, é impecável.

Já o segundo, com intérpretes variados, escorrega em alguns passos. Vozes como as de Gilberto Gil, Maria Rita, Lenine e Luiz Melodia parecem deslocadas, umas por destoar do estilo interpretativo, outras pelo completo desânimo. Detalhes como os teclados de Tovinho (que assina os arranjos de base) soam mal em faixas como De Chapéu-de-Sol Aberto (Capiba), com Vanessa da Mata, e Frevo nº 3 (Antônio Maria), com Geraldo Maia, uma espécie de clone de Renato Braz, só que mais meloso. Mas lá estão Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Silvério Pessoa, Ney Matogrosso e Antonio Nóbrega para salvar a estirpe foliã.

Irregularidades à parte, o CD faz um bom apanhado das fontes, marcos e influências do frevo em diversas modalidade (rasgado, canção, de bloco, marcha). Vem desde os clássicos de Nelson Ferreira (Evocação nº 1), Capiba (Madeira Que Cupim não Rói), Antônio Maria (Frevo nº1, na voz de Maria Bethânia) e Luiz Bandeira (Bom Danado) e chega aos seguidores Carlos Fernando, Lula Queiroga, Alceu Valença e Silvério Pessoa. Também acompanha seus lastros fora de Pernambuco, incluindo temas dos baianos Caetano Veloso (Atrás do Trio Elétrico) e Gilberto Gil (Frevo Rasgado) e dos cariocas Edu Lobo e Chico Buarque (Frevo Diabo).

Alguns dos intérpretes e faixas já figuravam na histórica série Asas da América, desmembrada em quatro discos que o mesmo Carlos Fernando (com base em composições próprias) realizou a partir de 1979. O projeto é um dos marcos de renovação do frevo, já teve os dois primeiros volumes compilados em CD, mas sumiu da praça. É relíquia que vale a pena caçar nos sebos.

Outras boas e divertidas raridades estão em O Melhor Carnaval do Mundo e Sassaricando. Este traz, em novas gravações de estúdio, a trilha do musical que está em cartaz no Rio (leia na página ao lado). Muito de sua graça está nos arranjos brejeiros executados por um time de feras, como Henrique Cazes, Beto Cazes, Zé da Velha, Silvério Pontes, Oscar Bolão e Dirceu Leite.

O repertório é uma pândega. São dezenas de marchinhas e algumas marchas-ranchos de grandes autores - Noel Rosa, Lamartine Babo, Ary Barroso, João de Barro (Braguinha), Alberto Ribeiro, Humberto Teixeira, Mário Lago, Klécius Caldas e Nássara, entre vários outros - reunidas em pot-pourris de blocos temáticos.

Para começo de conversa, é um admirável trabalho de pesquisa e de costura de assuntos que discorrem pelo fio da alegria. Comportamento, comes e bebes, tipos e preconceito, casos de amor e traição, modismos, ode à beleza do Rio, crônicas sociais e políticas, entre outros de uma gama infindável, são abordados com uma perspicácia que não perde a graça e não envelhece. Pelas interpretações deliciosas, Eduardo Dussek, Alfredo Del-Penho, Pedo Paulo Malta, Soraya Ravenle, Juliana Diniz e Sabrina Kogut não ficam nada a dever aos originais que popularizaram clássicos como Yes, Nós Temos Banana, Turma do Funil, Maria Escandalosa e outras preciosidades menos difundidas em outros carnavais.

A EMI lança uma caixa com quatro CDs de Carmen Miranda, apresentada pelo jornalista Ruy Castro. Com 16 faixas cada um, os CDs reúnem gravações históricas da cantora, entre clássicos e raridades. O primeiro compila sucessos que ela emplacou nos carnavais dos anos 30. Outro é dedicado ao cancioneiro de Ary Barroso; outro só tem sambas de primeira - como os brejeiros Cachorro Vira-Lata, Tic-Tac do Meu Coração, E o Mundo não se Acabou - que atravessam gerações. O quarto reúne parte do repertório com que Carmen animou o Cassino da Urca entre 1937 e 1940.

Castro autografa sua biografia Carmen e conversa com o público sobre a cantora hoje, a partir das 19 horas, na Fnac do MorumbiShopping (Av. Roque Petroni Jr., 1.089, piso lazer e piso térreo 11, tel. 11 3206-2000). Depois do bate-papo haverá sorteio de kits com sacola e a caixa de CDs.

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