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Maria Bethânia é eleita para a Academia de Letras da Bahia

Publicado segunda-feira, 11 de outubro de 2021 às 19:21 h | Atualizado em 11/10/2021, 19:25 | Autor: Chico Castro Jr.
Cantora santo-amarense vai ocupar a cadeira 18 | Foto: Teresa Lamboglia | Divulgação
Cantora santo-amarense vai ocupar a cadeira 18 | Foto: Teresa Lamboglia | Divulgação -

A Academia de Letras da Bahia tem agora uma abelha rainha para chamar de sua. Maria Bethânia foi eleita com 26 votos para a cadeira 18, que foi do historiador Waldir Freitas Oliveira. A cantora santo-amarense, muito ligada à literatura – poesia, especialmente – teve seu nome apresentado por um grupo de acadêmicos liderado por Paulo Costa Lima (compositor e professor da Escola de Música da Ufba). Bethania acompanhou a sessão em que foi eleita on line e ao final, agradeceu, comovida.

“Votei em Maria Bethânia Vianna Telles Velloso, uma das maiores intérpretes do Brasil, de quem destaco a importância como referenciadora (samba do Recôncavo, candomblé, festejos católicos, o profano carnaval, o miúdo do sertão e a força dos povos indígenas, todos de expressão oral). Bethania confirma o papel da oralidade, e nos lega o estilo de sua canção performática (poética oral)”, disse a poeta itabunense Heloísa Prazeres, eleita em julho de 2020.

O maestro Paulo Costa Lima conta que, na verdade, a ideia de indicar Bethânia à Academia partiu de João Carlos Salles (reitor da Ufba): “Mas ele me pediu para indicar por que sou músico, então eu o fiz, mas estou representando um grupo enorme de acadêmicos e ela está entrando aclamada”.

“Além da força e excelência da sua trajetória, enxergamos Bethania como a criadora de uma linguagem, alguém que está envolvida com a invenção. Sua interpretação é a criação de um mundo”, afirma.

Para o compositor, ocupante da cadeira 21 da Academia Brasileira de Música, além da ALB, Bethânia demonstra tamanha força de criação que suas interpretações se tornam paradigmas para as canções que escolhe para seu repertório. “O que ela inventa e constrói é de natureza polissêmica (tem múltiplos sentidos). Ela é uma criadora de linguagem, pois o intérprete também é criador. Essa voz tem um corpo, esse corpo adquire significado, se coloca diante da voz, da canção, do espaço em que se move”.

“Quando ouvimos a mesma canção com outro intérprete, procuramos esse personagem e ele não está mais lá. Bethânia tem isso: o que ela canta se estabelece como paradigma de interpretação, todo mundo que vai naquela canção depois dela tem que reconhecer a força da criação”, diz.

Confira o agradecimento de Maria Bethânia, gravado por Paulo Costa Lima:


Divulgadora da poesia

Outro membro da Academia, o poeta Aleilton Fonseca, destaca a plenitude da arte exercida pela cantora: “A eleição de Maria Bethânia para a ALB se deve à excelência de sua interpretação musical, sempre criativa e singular, que atinge alta qualidade estética, agregando sentido às letras e às partituras. Seu canto é uma arte plena”, afirma.

Há alguns anos, Bethânia se tornou uma maiores divulgadoras da poesia em língua portuguesa, gravando vídeos nos quais recita versos de Fernando Pessoa, Jorge de Lima, Waly Salomão e muitos outros. “Além de criadora de cultura, ela tem feito todo esse trabalho de difusão da poesia com seu projeto Caderno de Poesia, em que lê muito autores”, lembra Paulo Lima.

Ocupante da cadeira 4 e ex-presidente da ALB, Nelson Cerqueira destaca a arte de Bethânia de interpretar poesias. "Um ganho genial, que também representa a modernidade e a diversidade da Academia, abraçando não apenas poetas e escritores mas expoentes da cultura baiana, como o caso da coreógrafa Lia Robatto e de Juarez Paraíso. Bethânia nao é poeta, mas interpreta poetas, verbaliza e canta poemas de uma forma espetacular".

Cantora que mais vendeu LPs nos anos 1970, estima-se que Bethânia já vendeu mais de 26 milhões de discos desde a era do vinil, passando pelas fitas cassete, CDs e DVDs.

“Imagina o impacto dessa sensibilidade só nessas pessoas todas que se deram ao trabalho de comprar pelo menos um de seus discos. É um fenômeno de força muito grande. A gente quer ser a canção que Bethânia canta, pois minha emoção vai junto com ela e explode (o coração)”, conclui Paulo Lima, citando um dos maiores sucessos da – agora – membro da Academia.

*Colaboraram Eugênio Afonso e Luiz Felipe Fernandez

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