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Perto dos 80, Gil revela "certo nervosismo" em apresentações

Cantor baiano também falou, em entrevista, sobre como "viver... a morte"

Publicado sexta-feira, 13 de maio de 2022 às 17:20 h | Autor: Da Redação
Gilberto Gil também falou sobre produção musical, internet e política em entrevista
Gilberto Gil também falou sobre produção musical, internet e política em entrevista -

Prestes a completar 80 anos - a serem celebrados em 26 de junho - e em vias de iniciar uma nova turnê internacional na Europa, ao lado da família, o "imortal" baiano, Gilberto Gil, revelou que ao longo dos 60 anos de carreira, foi desenvolvendo um "certo nervosismo" e uma "dimensão um pouco aflitiva" sobre se apresentar ao vivo.

"Acho que pelo envelhecimento mesmo." Ele explica que a falta de confiança "na dimensão da performance física, da qualidade atlética" traz "novas preocupações, que implicam um certo aumento do nervosismo", afirmou o cantor e compositor, em entrevista a BBC Brasil.

Outro assunto abordado na conversa, mas que normalmente é um tabu para a maioria das pessoas, é a morte. O tema virou inspiração para a música "Não Tenho Medo da Morte", lançada em 2015, em um período em que muito se falava da saúde do artista, quando enfrentou uma série de internações por problemas renais.

Na letra, o compositor diz que não tem medo da morte em si, mas teme o momento e o contexto dela. "É... acho que uma das questões básicas das pessoas é o verbo morrer, mais do que o substantivo 'morte'. É o ato de morrer, ou como viver... a morte", ri Gilberto Gil.

"Ela medita sobre essa questão, sobre as reações mais íntimas possíveis, as mais individuais possíveis a respeito de um temor de toda a humanidade, de todos os indivíduos, que lidam em uma determinada medida com essa questão da finitude", completa ele, à BBC Brasil.

Música atual e internet

Sobre produção musical feita por cantores e bandas atualmente, elogios ao k-pop e Anitta, destacando o momento em que novos países e línguas conquistam evidência e sucesso, tem característica "fragmentária, não-linear", de não se prender à rigidez de gêneros.

"Jovens coreanos que se tornaram realizadores extraordinários desse campo da pós-modernidade musical (...). Anitta utiliza elementos díspares. A dosagem de tudo que ela faz tem um pouquinho disso, um pouquinho daquilo: do samba, da bossa nova, do pop brasileiro, do rock and roll e do rap", analisa. 

E lembra: "É preciso não esquecer que eu sou do tropicalismo. Então toda essa complexidade, toda essa variedade de impulsos, sentidos e direções já era proposta e prevista pelo tropicalismo".

Também na entrevista, o cantor lamentou a forma que algumas esperanças de melhorar o mundo representadas pela tecnologia não se confirmaram.

"Está ficando complicado. Uma expectativa mais positiva que a gente teve anteriormente vai se derretendo um pouco. Você tem que enfrentar uma realidade que é muito mais complexa do que aquele sonho", afirma. 

"Tem a família, os filhos, como administrar o acesso a eles. Esse novo ingrediente que faz parte da educação, que você não tinha antes, de educar os filhos para esse mundo cibernetizado", completa Gil.

Política

Ex-ministro da Cultura do governo Lula (2003-2006) e vereador de Salvador nos anos 1980, o artista baiano fez críticas ao bolsonarismo, o qual considerou como um movimento "contra a inovação, contra a novidade, contra o surpreendente".

Na entrevista à BBC Brasil, ele comentou acerca da tensão política que domina o Brasil atual. "Eu acho que a apreensão é um ingrediente entre outros tantos. A expectativa positiva é uma delas, de que tudo desemboque num fortalecimento da democracia, numa compreensão mais ampla da mudança, da transitoriedade", reflete.

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