O voo pop e romântico de Vander Lee | A TARDE
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O voo pop e romântico de Vander Lee

Publicado quinta-feira, 09 de abril de 2009 às 22:03 h | Atualizado em 09/04/2009, 22:06 | Autor: Eduardo Vieira l A TARDE

O mineiro Vander Lee tem vocação para baladas. A carreira do cantor e compositor é pautada por canções que falam essencialmente de amor –  com melodias inerentes ao tema –, ainda que passeie por outras praias, como sambas e letras bem-humoradas. São músicas como Onde Deus Possa Me Ouvir, gravada por Gal Costa, Românticos e Contra o Tempo, registradas pela maranhense Rita Ribeiro, além das próprias interpretações em Pensei que Fosse o Céu e Meu Jardim,  que ajudaram o cantor a ganhar espaço no mercado.
Em  Faro, sexto álbum que chega às lojas, as baladas estão lá, devidamente registradas. Mas o disco vai além. Vander Lee se arrisca, com resultado positivo, em um revestimento mais pop, que mistura influências como música eletrônica, samba, rap e arranjos mais suingados. Tudo fruto da parceria com o produtor Marcelo Sussekind, que já trabalhou com nomes como Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Lulu Santos.
A ideia de misturar elementos foi uma das primeiras decisões que nortearam o processo de concepção do CD. “Queria fazer algo mais pop. Venho buscando isso desde o disco Naquele Verbo Agora (2005), que é uma espécie de prenúncio. Mas queria pop em termos de roupagem. Gostaria de algo mais moderno, um pouco de música eletrônica... Mas isso tudo numa medida segura”, disse o cantor, em entrevista por telefone.
Músicas –  O repertório de Faro é basicamente autoral, assim como os trabalhos anteriores do mineiro. Mas figuram algumas exceções, como a regravação com elementos do funk, de Ninguém Vai Tirar Você de Mim (Edson Ribeiro e Hélio Justo), sucesso de Roberto Carlos gravado em 1968. A versão inclui um rap, com participação do músico Renegado.
 
Além desta, o cantor traz o poema Obscuridade, de Cartola, que ainda não havia sido musicado, e parcerias como em Do Bão, com Leo Minax, e na suingada Nega Nagô, com Murilo Antunes. Entre as baladas, está a mais agitada Eu e Ela, música já nas rádios, Farol e Ponto de Luz.
Para Vander Lee, a predominância de temas românticos é algo natural em seu processo criativo. “A música é a mais emocional das artes, e a gente, quando compõe, não pode ser tolhido desse emocional. Isso é natural para mim, compor dessa forma, usar ainda esse assunto. Geralmente quando estou compondo não existe um álbum na cabeça, não tem que ser conceitual. As músicas simplesmente foram acontecendo da forma que estão”.
Faro  inaugura parceria com  a gravadora independente Deckdisc. A escolha do repertório passou por um consenso entre artista e empresa. “Esta foi a primeira vez que eu discuti repertório com outras pessoas. Mas, como era o meu primeiro trabalho com a gravadora, pensei em usar o meu faro e o faro deles”. 
Turnê  –  Três anos separaram o projeto ao vivo Pensei que Fosse o Céu do lançamento do novo disco. O intervalo foi dedicado às apresentações, inclusive passando mais de uma vez por Salvador, cidade na qual ele conta com público considerável,  além de abranger fase de pouca criação. 
“Andei compondo menos porque estava fazendo muitos shows. Agora estou compondo mais. Mudei de casa, fui morar em um lugar mais tranquilo. No ano passado, dei uma desacelerada, mas o amor pela música voltou forte. Existe uma fase realmente na qual a gente precisa não compor. Passei por uma agora”, diz.
O show deve estrear em junho, e a capital baiana, segundo Vander Lee, deve ser uma das primeiras a receber o novo trabalho. “É uma plateia que tem muita curiosidade, me acompanha há muito tempo. Sempre me recebeu muito bem. Atualmente o meu fã-clube daí está um pouco bravinho comigo porque no último show que eu fiz não pude atender. O show foi muito tarde. Eles ficaram bravinhos, mas depois eles ficam bonzinhos de novo”, afirma.
A ligação do fã com  o artista é apontada pelo mineiro como importante, mas ao mesmo tempo delicada. “São relações muito emocionais. O fã se entrega demais, mais ainda as fãs. Querem provar que dão a vida pelo artista, mas também cobram muito. Temos que ficar administrando esse emocional. Mas é divertido. Antigamente eu tinha um pouco de receio de me queimar, porque às vezes alguma coisa não agrada. Mas eles vão nos conhecendo e aprendendo a gostar da gente da forma que a gente é”.
E completa: “Tem muito artista que não é muito talentoso, que nem tem essa coisa toda, mas é bonzinho. Aí muita gente gosta dele porque ele é bonzinho. Os artistas de televisão geralmente são assim. A vida deles é paparicar fã e ser paparicado. Às vezes nem produzem arte”.
Crise  –  A tarefa de colocar um disco nas prateleiras enfrenta concorrências cada vez maior das novas mídias e da pirataria. Um show na estrada requer boa estrutura e capital para que a proposta consiga chegar nos quatro cantos do País. Tudo se agrava ainda mais com a famigerada crise econômica mundial.
As questões aparecem como desafios para Vander Lee. “O mercado está desestruturado. A coisa não se organiza hoje com a rapidez que se organizava anteriormente. Os novos nomes vão ter mais dificuldade ainda. Cada vez mais se produz música no Brasil. A qualidade talvez esteja aumentando em função dessa quantidade, bons discos, muita coisa ruim, mas muita coisa boa. Não há como organizar isso sem que haja um  mercado oficial, que é o mais atingido pela crise”.
O novo show do cantor vai ser planejado da forma mais viável possível. “Estou tentando ser econômico ao máximo. Trabalhar com banda pequena, com poucos recursos e, ao mesmo tempo, com o desafio de melhorar artisticamente. Não tem como colocar mais de sete músicos na estrada, ainda mais um artista no meu estágio. Não tenho ainda nenhuma música na abertura da novela, não tenho nenhuma empresária rica. Não estou em uma multinacional, moro em BH. O muro é mais alto. Mas faço música para ser feliz”.
Composições –  Procurado por intérpretes como Elza Soares, Gal Costa, Leila Pinheiro e Rita Ribeiro, o cantor viu a demanda por canções suas diminuir à medida que a sua carreira cresceu. “É um fato curioso. À medida que eu venho me afirmando como cantor, as intérpretes estão desaparecendo. Eu acho que é porque antes não se sabia tanto do meu desejo de ser um cantor popular. Sempre existiu esse desejo. À medida que ele foi se concretizando, acho que cria aquela coisa: deixa ele fazer o dele, não vou nem ligar para ele. Mas eu nunca nego nada. Mesmo sendo um artista desconhecido”.
Para o compositor, é interessante, contudo, que a abordagem apareça de forma diferenciada. “É importante que as pessoas não queiram competir comigo, que realmente aproveitem olhares diferentes da minha música para agregar um valor e me ensinar muito sobre ela. E levar a música para públicos no qual eu não transito. Artistas que estão muito na mesma que eu, é mais perigoso, porque, de repente, você concorre comigo”, considera.
Vander Lee deu início à carreira de cantor nos bares de Belo Horizonte, em 87. O primeiro álbum, ainda quando se chamava Vanderly, foi lançado em 97. A partir daí, colocou no mercado No Balanço do Balaio, (1999), Vander Lee Ao Vivo (2003), Naquele Verbo Agora (2005), e Pensei que Fosse o Céu (2006).
 
Disco: Vander Lee
Gravadora: Deckdisc
R$ 29,90
www.vanderlee.com.br 

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