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Depois de perder o emprego, é essencial reorganizar as finanças

Negociar o valor do aluguel e da escola do filho estão entre as dicas dos especialistas

Publicado segunda-feira, 15 de agosto de 2022 às 06:00 h | Autor: Leilane Suzarte*
Após demissão, Isabel passou a atuar como corretora, pois já tinha um curso
Após demissão, Isabel passou a atuar como corretora, pois já tinha um curso -

O desemprego dificulta a vida das famílias que têm que manter o sustento e pagar todas as suas despesas. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,3% no trimestre encerrado em junho e, mesmo assim, atinge 10,1 milhões de pessoas. 

A necessidade de se planejar financeiramente é indispensável depois de ficar desempregado. Avaliar os gastos, reduzir os custos mensais e desenvolver novas habilidades são algumas medidas eficazes que podem ajudar o indivíduo a não ficar sem dinheiro para as suas necessidades básicas, bem como não acumular mais dívidas.

Já que a situação econômica atual do país acaba agravando ainda mais quem perdeu o emprego, pois os preços no mercado estão elevados, as contas de luz, de água e de gás estão mais caras, além das incertezas no mercado financeiro por conta do ano eleitoral. Para Alex Gama, professor do curso de Economia da Unifacs e conselheiro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), as pessoas devem ter o costume de economizar uma parte do dinheiro antes mesmo de serem demitidas.

“Para se prevenir, deve-se fazer um planejamento financeiro. As pessoas devem ter o hábito de poupar, pelo menos, 20% a 30% do salário. Então, fazer um controle dos gastos de despesas fixas para que não haja custos desnecessários. Às vezes, tem que fazer renegociação dos contratos, principalmente, as pessoas que moram de aluguel, tem que ver o contrato porque o preço fica muito acima, bem como das mensalidades escolares”, explica Alex Gama.

O economista pondera ainda que não é uma tarefa fácil para um trabalhador que ganha pouco. “Fica difícil a pessoa poupar com uma renda de até dois salários mínimos, porque boa parte das rendas das pessoas é para pagar aluguel, alimentação, cursos com educação. Com isso, compromete a renda”, diz o conselheiro do Corecon-BA.

Seguro desemprego 

Se os desafios são encontrados em famílias onde todos os membros estão trabalhando, isso piora quando alguém da casa perde o emprego e tem que pagar as contas mensais e outros gastos com o dinheiro que recebe do seguro desemprego ou do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), sendo que, na maioria das vezes, o valor não dura por muito tempo e, consequentemente, impacta no bolso da família. 

De acordo com os dados que foram baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego já era maior entre as mulheres, mas a diferença aumentou a 9,2 pontos percentuais em 2021.  No total, a taxa de desocupação correspondeu a 19,4% no último ano.

Isabel Lopes, 45, é um exemplo. Ela, que atuava como técnica administrativa empossada na função de protocolista em uma de uma faculdade, foi demitida do emprego há cerca de 2 anos. Como já tinha feito um curso de corretor de imóveis no passado, ela aproveitou o aprendizado para trabalhar de forma autônoma nessa área para conseguir se manter e pagar as contas que já tinha.

“Eu estou sempre nessa correria de alugar e vender imóveis, também gosto de vender muito como sacoleira. A gente vai se virando como pode. Não está fácil porque a gente entra no mercado e parece que estamos sendo ‘assaltadas’. É um absurdo. Os itens alimentícios começam a partir de R$ 10. Está doendo no bolso da gente”, conta Isabel.

No período que as pessoas estão desempregadas, elas podem aproveitar para fazer cursos, aprender novos idiomas ou aperfeiçoar uma habilidade, pois ajuda tanto a melhorar o currículo como ter um diferencial a mais na hora que for procurar um emprego. “Por isso, é importante a pessoa se qualificar. Não só uma questão da renda, mas buscar uma qualificação, se aprimorar na profissão e sempre estar atualizado porque o mercado de trabalho hoje está sendo muito rigoroso no critério de seleção. Embora as empresas estejam pagando menos, com o salário diminuído, está sendo muito competitivo porque muita gente com nível superior está desempregada e até mesmo na informalidade”, frisa Alex.

Fátima Conceição, educadora financeira e com pós-graduação em direito tributário e de investimentos, afirma que a pessoa que está fora do mercado de trabalho precisa revisar as suas finanças, procurando identificar o que é supérfluo, necessário e o que é essencial, e desenvolver um plano estratégico.

“Você não sabe se vai arranjar um emprego amanhã ou daqui um ano. Tem dívidas que você não vai conseguir quitar com o dinheiro que você tem e nem o valor que irá receber com o seguro desemprego. Por exemplo, negociar com os bancos as dívidas que tem para poder ver se vale a pena ou não. Por isso, é importante saber todos os seus gastos para categorizá-los no que pode ficar fora do seu orçamento e o que não pode por ser indispensável”, informa Fátima. 

Com isso, pedir empréstimos pode comprometer e impactar no bolso de quem está desempregado, trazendo mais problemas financeiros, já que as parcelas podem ser descontadas diretamente na conta bancária do indivíduo ou através de boleto bancário.  Além do mais, os juros podem fazer as dívidas se tornarem elevadas em curto período de tempo. A mestre e doutoranda em economia pela Universidade Federal da Bahia, Verônica Ferreira, dá algumas orientações em como não se endividar e amenizar a falta de renda.

“O ideal é que você faça, de fato, uma programação a longo prazo de quanto o seu dinheiro vai durar até você conseguir um novo emprego. Faça um levantamento das suas dívidas para saber se é possível incluí-las no orçamento mensal com a reserva ou seguro desemprego que tem. Caso seja viável, eu não aconselho antecipar o pagamento das dívidas, a não ser que a sua reversa dure por um tempo, porque tem uma redução dos juros e pode ser vantajoso para você quando recebe a rescisão”, recomenda Verônica. 

Ela ainda sugere que as pessoas tenham uma reserva de emergência antes de perder o emprego para que possam garantir mais tranquilidade e segurança nas finanças a longo prazo. “É difícil fazer essa reserva no momento que a gente vive hoje, de inflação mais elevada e perda do poder de compra. Mas, é importante porque, quando a pessoa perde o emprego, ela tem os recursos para além da rescisão, seguro desemprego, conseguir se manter sem trabalho durante um tempo”, enfatiza Verônica

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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