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"Falta de equilíbrio financeiro pode trazer transtornos"

Confira as dicas do especialista para quem quer atravessar 2022 no azul

Publicado segunda-feira, 17 de janeiro de 2022 às 06:03 h | Autor: Fábio Bittencourt

Ficar atento a pequenos gastos, rever atitudes. A “consciência” quanto à importância do equilíbrio das contas propicia às pessoas a capacidade de lidar melhor com o dinheiro, planejar, e utilizá-lo a favor do atingir objetivos. Quando a gestão dos próprios recursos faz parte do cotidiano de uma maneira natural, a percepção sobre a construção de patrimônio para o futuro tende a aumentar. Quem afirma é o consultor financeiro da Onze, fintech da área de  saúde financeira e previdência privada, Samuel Torres. Por meio da plataforma, os colaboradores têm acesso a check-ups financeiros periódicos, consultas individuais com especialistas e uma acesso a conteúdos com  vídeos sobre finanças. Confira as dicas do especialista para quem quer atravessar 2022 no azul.

Este é um início de ano bastante desafiador, em que vivemos metade em uma espécie de “pós”, metade ainda em meio à pandemia, com aumento no número de infectados, inflação nas alturas, alta generalizada de preços, queda na renda, desemprego. Sem dúvida, algo precisa ser feito (as famílias com os seus orçamentos) para fazer frente a este cenário, de forma com que o dinheiro possa “render” um pouco mais. Enfim, quais as principais dicas para quem planeja atravessar 2022 no azul? E qual a sua análise da atual conjuntura econômica no país? 

O ano de 2022 deve manter a inflação alta (ainda que menor que a de 2021), baixo crescimento econômico (talvez até retração do PIB) e ainda alto desemprego. A consequência disso é uma situação financeira ainda difícil para a maioria das famílias, mesmo aquelas com membros empregados, dada a queda da renda real (descontada a inflação). Nesses momentos, se torna ainda mais importante organizar as finanças pessoais, montar um orçamento e, muito importante, segui-lo o mais próximo possível. Montando um orçamento para o ano (ou anos)  é possível identificar previamente possíveis “déficits” no orçamento e decidir previamente o que fazer, por exemplo, reduzindo determinados gastos menos importantes. Com o orçamento elaborado previamente, também é possível saber qual o limite de gastos com cada categoria/item, evitando, assim, “surpresas” ao longo do ano. Esse é um ponto especialmente importante para gastos variáveis que podem facilmente “sair do controle”, como gastos com lazer, por exemplo. Uma dica é fazer um acompanhamento semanal das despesas, o que evita descobrir só no fim do mês que o orçamento foi ultrapassado.

É preciso revisar atitudes e comportamentos? Pequenos gastos podem ser considerados uma “praga” Cite alguns exemplos, por favor.

Sim, mudanças de comportamento são importantes e podem facilitar muito esse processo. Após fazer o planejamento do ano, criar o hábito de preencher as despesas realizadas e comparar com o planejamento tende a ter resultados bastante positivos. Transformar isso num hábito, além de tornar a tarefa menos extenuante, permite uma identificação mais rápida de possíveis desvios em relação ao planejado. Pequenos gastos, se realizados com muita frequência, podem ter um impacto relevante no orçamento. Contudo, é importante também não cometer exageros que possam tornar o ato de acompanhar e controlar o orçamento em uma atividade aversiva. Por exemplo, comprar um café todo dia após o almoço por R$ 5 pode representar um gasto relevante para algumas pessoas. Porém, se o momento de tomar o café e relaxar for algo importante para a pessoa, cortar 100% desse momento pode acabar tornando o controle orçamentário uma atividade penosa, o que dificulta o cumprimento em outras categorias de gasto.

Seria mais ou menos como abandonar “velhos hábitos”, com custos pouco mais elevados,  por outros mais, digamos,  “saudáveis”...

É preciso avaliar caso a caso para chegar à conclusão quanto à necessidade de mudança de hábitos. Mas, de maneira geral, se um hábito está comprometendo o orçamento de maneira descontrolada e não é um gasto essencial, a mudança de hábito tende a facilitar muito o enfrentamento desse difícil momento econômico pelo qual passamos.

Qual a importância do equilíbrio financeiro para o emocional do indivíduo?

Várias pesquisas mostram que problemas financeiros estão entre as principais causas de estresse. Uma pesquisa realizada pela Onze no final de 2020, mostrou que o dinheiro é a principal fonte de preocupação para 71% dos brasileiros (à frente de saúde e família). Já um estudo da Money and Metal Health mostrou que, para cerca de 70% das pessoas, problemas financeiros agravam os problemas emocionais. Outro exemplo é a pesquisa The Employers Guide to Financial Wellbeing  (2019-2020) que mostrou que pessoas com problemas financeiros têm muito mais chance de sofrer com ansiedade e depressão, problemas de relacionamento, além de terem a qualidade de seu trabalho afetada. Assim, fica claro que a falta de equilíbrio financeiro pode trazer uma série de transtornos emocionais e práticos.

 Com a Selic em alta, produtos financeiros tradicionais de renda fixa voltaram a ter atenção de pequenos investidores. Quais as melhores aplicações do momento para quem tem aí um dinheiro extra guardado na poupança? 

As melhores aplicações dependem do contexto de vida, aversão ao risco e prazo dos objetivos de cada pessoa. Mas, analisando isoladamente, para o dinheiro da reserva de emergência, CDBs pós-fixados com liquidez diária e rendimento de pelo menos 100% do CDI de emissores de baixo risco de crédito, e o Tesouro Selic são boas opções no momento. Para quem tem um dinheiro que pode manter investido por um prazo mais longo, o Tesouro IPCA+ está com taxas bastante atrativas, com a vantagem de que, se mantido até o vencimento, garante uma rentabilidade acima da inflação. Porém, é importante ressaltar que, se resgatar essa aplicação antes do vencimento, o investidor pode incorrer em rentabilidade menor do que a esperada ou até negativa.

O que você gostaria de destacar sobre a importância da educação financeira?

A educação financeira propicia às pessoas a capacidade de lidarem melhor com o dinheiro, se planejarem, e utilizarem o dinheiro de forma consciente a favor do atingir seus objetivos. Com isso, a probabilidade de esses objetivos serem atingidos é muito maior, o que tende a propiciar uma melhor qualidade de vida e felicidade a essas pessoas. Fora isso, quando a consciência sobre a gestão dos próprios recursos financeiros faz parte do cotidiano de maneira natural, a percepção sobre a construção de patrimônio para o futuro tende a aumentar. Esse é um ponto fundamental para a saúde financeira dos indivíduos, principalmente levando em consideração que grande parte dos brasileiros não poupa mensalmente, tampouco planeja sua aposentadoria. Quanto antes esse assunto (educação financeira) for introduzido no dia a dia, mais fácil de ser absorvido e maior será o impacto positivo na vida das pessoas.

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