Varejo tradicional busca reduzir os efeitos da pandemia | A TARDE
Atarde > Economia

Varejo tradicional busca reduzir os efeitos da pandemia

Publicado segunda-feira, 22 de junho de 2020 às 06:00 h | Autor: Mariana Bamberg*
João Paulo aposta nas redes sociais | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
João Paulo aposta nas redes sociais | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE -

Com mais de 170 mil negócios na Bahia e 86% deles apresentando queda no faturamento, o varejo tradicional é um dos 14 setores mais afetados pela pandemia, segundo mapeamento realizado pelo Sebrae. Mas os segmentos varejistas têm se movimentado para minimizar os impactos. E hoje já é comum funcionários limitando a entrada de clientes nas lojas – como medida para evitar a proliferação da Covid-19 – e produtos como calçados, maquiagens e até material de escritório abastecendo a mochila de entrega de motoboys.

A Fecomércio-BA estima que só no mês de abril o prejuízo para o varejo baiano foi de cerca de R$ 1,74 bilhão – pior resultado desde 2006. Já dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em abril, o comércio baiano registrou uma retração de 33,2% nas vendas, em comparação com o mesmo mês de 2019. A analista de comércio e serviços do Sebrae Bahia, Ana Paula Almeida, alerta, no entanto, para a diversidade do varejo. “O setor é composto por vários segmentos e alguns foram mais impactados que outros”.

Mais afetados

Das atividades varejistas analisadas pela pesquisa do IBGE, as maiores quedas nas vendas ficaram entre os segmentos de livros, jornais e revistas, com retração de 81,4%, e o de equipamentos e materiais de escritório, com queda de 69%. A Papelote (@lojapapelote), loja de presentes, papelaria e material de escritório, comprovou esse número. Camile Wolf, coordenadora de marketing do estabelecimento, revela que as vendas da loja ficam em torno de 50% da média antes da pandemia. Mas, para que ela não fosse ainda menor, a estratégia foi investir no delivery e no e-commerce, que já existia mas era responsável por menos de 10% das vendas.

A loja física reabriu há duas semanas, mas com uma operação totalmente diferente. Agora só é autorizada a entrada de um cliente por vez no estabelecimento e o atendimento é feito diretamente no balcão, “não é permitido circular pela loja”. Para informar sobre novas medidas de segurança, adesivos foram aplicados na vitrine.

Quem também precisou recorrer ao delivery foi a loja de maquiagens Make Box (@makeboxssa). João Paulo Paixão, um dos sócios, conta que o estabelecimento não tinha o costume de fazer esse tipo de entrega, “apenas uma ou duas vezes por semana, depois do expediente da loja”. Agora ele e o sócio se dividem nas entregas que passaram para uma média semanal de 80, mas o faturamento da loja ainda fica em torno de 70% da média original.

A estratégia na Make Box é investir em datas comemorativas – com kits especiais, por exemplo, para o Dia das Mães e Dia dos Namorados – e nas redes sociais. Desde o início da pandemia, foram quase três mil novos seguidores no perfil do Instagram da loja, e a ajuda veio de uma das funcionárias, que agora trabalha apresentando e divulgando produtos na rede social da empresa. A analista do Sebrae aprova a medida e ainda orienta que empresários do varejo fiquem atentos a seus funcionários, “pode haver um talento entre eles”.

O segmento de vestuário, tecidos e calçados também se destaca negativamente na pesquisa do IBGE, com uma retração de 64,9%. Segundo a analista do Sebrae, o impacto nesses negócios pode ser ainda maior e a retomada mais lenta, “porque a demanda perdida não será recuperada, não é acumulada”. Fernanda Nunes, franqueada da loja Nunes Calçados do Shopping Center Lapa (@nunesshopinglapa), atribui a dificuldade também à necessidade do contato direto antes da compra.

“Como estamos em um shopping, funcionamos só com delivery, drive-thru, mas comprar calçado exige calçar, sentir o conforto. Não é um CD, que você sabe como é. E ainda tem a questão da troca. Dependendo do material do calçado, não posso trocar, porque depois não tem como higienizar sem danificar”, explica.

Divulgação e parceria

A demanda da loja tem sido, segundo Fernanda, inferior a 50% da média de antes da pandemia. Para minimizar as dificuldades, a estratégia tem sido divulgar principalmente os produtos que têm mais saída e aqueles voltados para quem está trabalhando, “como tênis, sapatos e as linhas em branco”. Mas o que tem mesmo ajudado nesse momento é a parceira com o shopping. De acordo com a franqueada, cerca de 70% das vendas que a loja está realizando tem sido via divulgação das redes sociais do Center Lapa.

A analista do Sebrae acredita que parcerias podem ser grandes aliados, seja com fornecedores ou até mesmo concorrentes. “Uma loja de flores que está fechada pode, por exemplo, realizar parceria para vender em pequenos mercados. Um segmento pode apoiar o outro”. Lojas de produtos alimentícios, supermercados mercadinhos de bairro são os que mais podem ajudar. Segundo Ana Paula, o varejo de alimentos é o que foi menos impactado, “em alguns casos, até superaram as expectativas de vendas”.

Na loja de produtos alimentícios naturais Grão do Horto (@graodohorto), o cenário não foi tão favorável assim. O estabelecimento foi inaugurado em março, durante a pandemia, e o faturamento, segundo as proprietárias, Lílian Cunha e Nathália Cunha, está em torno de 40% do que foi planejado. Mas elas garante que, se não fossem do segmento de alimentos, sequer teriam aberto o estabelecimento neste momento. Para chegar aos 40%, as sócias tiveram que antecipar o plano do delivery – ele não estava previsto para os primeiros meses – e investir em promoções e divulgação.

“Investimos ainda mais no Instagram e WhatsApp para os clientes que já conhecem a loja. E agora investimos também para anunciar em uma revista que divulga os serviços do bairro. É muito difícil pensar em investir em um momento de baixo faturamento, mas sabemos que é importante”, conta Nathália.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

Publicações relacionadas