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Inflação é principal entrave para recuperação de restaurantes e bares

Pesquisa com 817 empresas aponta que, para 83%, a alta dos preços é o maior obstáculo

Publicado domingo, 03 de julho de 2022 às 06:05 h | Autor: Ruan Amorim*
Proprietário do Marreco Boteco, na Pituba, Guilherme Queiroz diz que investe na parceria com influenciadores, e música ao vivo dois dias
Proprietário do Marreco Boteco, na Pituba, Guilherme Queiroz diz que investe na parceria com influenciadores, e música ao vivo dois dias -

O segmento de bares e restaurantes foi um dos mais penalizados pelas restrições na pandemia. No primeiro ano da crise sanitária, cerca de 300 mil estabelecimentos do setor fecharam as portas, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Agora, após dois anos do cenário criado pela Covid-19, e flexibilização das medidas protetivas, os empreendedores que esperavam uma melhora no comércio enfrentam mais um desafio: a inflação alta.

A disparada nos preços têm sido um entrave para a recuperação dos negócios voltados à alimentação fora do lar. Isso é o que evidencia pesquisa feita pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR). Segundo dados divulgados pela instituição, que ouviu 817 empresas do setor por todo o país, 83% dos empreendimentos consideram a inflação o maior obstáculo este ano. 

Nesse contexto, buscar alternativas para tentar minimizar os danos do índice inflacionário e não perder os clientes é o que tem feito o proprietário do bar Marreco Boteco, localizado na Pituba, Guilherme Queiroz, 27. 

“Estamos buscando atrair o público com parceria com influenciadores, e música ao vivo dois dias na semana. Nós já fizemos eventos privados também, além de atualizar nosso happy hour com benefícios exclusivos, oferecendo um pouco do que os clientes sempre pedem e gostam”, conta.

Apesar de buscar soluções para contornar as adversidades econômicas que o segmento enfrenta, Guilherme percebe que os desafios para o setor se acentuam. Segundo ele, além dos preços dos insumos estarem altos, falta mão de obra qualificada e fornecedores. 

“Basicamente, todos os estabelecimentos compram nos mesmos fornecedores, o que dificulta o poder de barganha. Assim, quando o insumo falta, temos que pagar muito mais caro numa quantidade menor”, lamenta Guilherme.

Para além dessas dificuldades, os estabelecimentos do setor também enfrentam altas taxas de aplicativos de entrega, e custo alto em investimento de marketing. Essa é a realidade do Muy Massa, na Pituba, que foi criado sete meses antes da pandemia. 

Em meio a vários obstáculos para que bares e restaurantes consigam prosperar economicamente, o sócio-proprietário do Muy Massa, Paulo de Tarso, 27, diz que a principal alternativa é pensar estratégias para fidelizar o cliente.  

Insegurança

“Nós sempre focamos no consumidor, seja entregando pratos com insumos de marcas líderes de mercado, ou investindo na capacitação de atendimento de nossos funcionários. Além disso, buscamos uma boa apresentação em redes sociais. Nesse cenário econômico caótico que estamos vivendo, isso é cada vez mais relevante, já que os clientes escolhem a dedo seus restaurantes”, diz Paulo. 

No mês de junho, a expectativa era que a casa estivesse sempre cheia, mas a realidade do Muy Massa foi outra. Segundo Paulo,  por causa da onda de assaltos no bairro, o movimento de clientes no mês foi atípico.

“Acredito que impactou em todo o comércio local. O cliente do espaço físico ficou um pouco retraído nesse período. Apesar disso, a perspectiva é que as coisas melhorem cada vez mais e que a segurança pública esteja presente”, pontua Paulo.

Para o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba), Silvio Pessoa, a violência em Salvador tem se intensificado cada vez mais e espantado as pessoas das ruas, fazendo com que os comércios percam clientes. “As pessoas têm medo de deixar o carro na rua e de frequentar espaços a céu aberto. Se o problema de segurança pública não for resolvido, o setor vai continuar sofrendo. É necessário policiamento 24h”, diz Silvio.

Expectativa

Por causa de tantos entraves, Silvio explica que cada vez mais a rentabilidade dos bares e restaurantes diminui,  sobretudo porque os  proprietários seguem mantendo os preços para não espantar os clientes. “Por conta da inflação, as pessoas estão com um poder aquisitivo menor.  Com isso, lazer e alimentação fora do lar, muitas das vezes, são cortados. Por isso, o segmento é prejudicado. No setor, esse dano se soma ao reajuste do aluguel do espaço, da água e da energia, o que faz a rentabilidade cair muito”, explica o empresário

As dificuldades que os empreendedores enfrentam não freiam as boas expectativas  para o segundo semestre de 2022.  Guilherme, pelo menos, segue confiante em bons resultados. Segundo ele, com o avanço da vacinação,  o desejo das pessoas por contato físico, confraternizações, encontros com amigos e familiares aumentou. Por isso, ele já segue pensando em estratégias para aproveitar uma possível alta temporada. 

“Já estamos visando o verão, a Copa do Mundo é em novembro. Então, a nossa expectativa é a melhor possível a partir deste mês de julho. Traremos muitas novidades, tanto em relação ao cardápio quanto a outras ativações em nossa casa”, destaca Guilherme. 

Paulo também torce para uma melhora no setor, mas tem alguns receios em relação ao mercado. “Nos últimos anos,  o cenário que nos acompanha é de incertezas por causa da pandemia, crise na segurança pública e inflação descontrolada. Sendo assim, muitos negócios ficam retraídos”, diz o sócio do Muy Massa.

Seja uma boa ou má temporada, para conseguir resultados positivos e diminuir danos, os empresários precisam planejar. Isso é o que explica o orientador de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Fabrício Barreto.

“É muito importante que o gestor faça um planejamento da situação em que se encontra, do objetivo e também do desafio, para assim traçar estratégias com base no aumento da lucratividade. Isso porque em um mercado competitivo, nem todo reajuste de preço o empreendedor vai conseguir passar para o cliente. Então, é necessário que se crie alternativas para complementar a redução do lucro”, afirma Fabricio. 

O orientador de negócios também instrui a trabalhar bem o atendimento e sempre melhorar a qualidade do serviço ofertado. Dessa forma, segundo Fabrício, “é possível agregar mais valor ao estabelecimento em compensação ao repasse dos preços”. E isso  o que tem feito Guilherme.

“Buscamos nessas situações  potencializar nosso marketing e posicionamento em torno do conceito da casa, do conforto, da localização e segurança, do nosso cardápio, experiência em atendimento, para que essa percepção de aumento nos preços seja compensada”, esclarece Guilherme. 

*Sob supervisão do editor interino Fábio Bittencourt

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