Empresa fundada por delegado negocia jogadores da base tricolor
Na porta da sala 808, no Edifício Empresarial Costa Andrade, em Salvador, não há qualquer placa ou identificação do negócio que ali funciona. Trata-se da sede da Calcio Esportes e Investimentos, fundada em 15 de abril de 2011. Apesar de ser uma empresa relativamente nova no mercado, a Calcio já ostenta negócios no mundo do futebol que superam a casa do milhão.
Há uma semana, o Bahia anunciou a venda do volante Filipe, promessa de 19 anos, ao grupo do empresário português Jorge Mendes, que agencia as carreiras de Cristiano Ronaldo e José Mourinho. A transação alcançou a cifra de 2,2 milhões de euros (R$ 5,72 mi). O clube ficou com 50% (R$ 2,85 mi) e o empresário Marcos Vinicius, que trouxe o jogador do Cruzeiro para o Fazendão, levou 30% (R$ 1,71 mi). Faltou uma fatia do dinheiro. Esta coube à Calcio, que abocanhou R$ 1,14 milhão, o que corresponde a 20% do jogador. O curioso é a razão pela qual a empresa teve direito a esta parcela da divisão.
Em junho de 2011, o Bahia levou o time sub-21 para disputar o Torneio Angelo Dossena, na Itália. Sem recurso para custear a viagem, como confirma o presidente tricolor Marcelo Guimarães Filho, o clube foi bancado pela então recém-fundada Calcio, cujo dono é André Silva Garcia, delegado da polícia civil.
Em contato por telefone com a reportagem de A TARDE, André Garcia afirmou: “Ficamos com 20% de Filipe por meio de uma permuta (com o Bahia). Financiamos a viagem e recebemos a contrapartida”.
A empresa dele já havia lucrado cerca de R$ 400 mil na venda do meia Maranhão para o Cruz Azul, do México, no início deste ano. Segundo o delegado, o valor era referente também a 20% do atleta, que a Calcio conseguiu a partir de outras permutas com o Bahia.
A TARDE apurou que antes de abrir a Calcio, o delegado enfrentava dificuldades financeiras que lhe valeram um processo movido por um banco, em 2010. “Não falo sobre minha vida pessoal”, rebateu André, ao ser questionado sobre o assunto pela reportagem.
Ao criar a Calcio, ele estabeleceu como expectativa de faturamento para 2011 – como forma de ter acesso à linha de crédito de Pessoa Jurídica – R$ 220 mil, cifra em muito ultrapassada após as negociações de Maranhão e Filipe. O delegado ainda viria a tornar-se conselheiro do Bahia, em polêmica substituição de 58 nomes no conselho do clube, em 2011.
Empresários revoltados - Um documento oficial do Bahia, de janeiro de 2011, em posse do ESPORTE CLUBE, comprova que o clube detinha 70% dos direitos econômicos de Filipe antes do surgimento da Calcio. Segundo denúncias de fontes que pediram anonimato, com medo de represálias, empresários que levam atletas ao Bahia estão revoltados, pois o clube estaria pressionando para que os contratos de parceria com a Calcio sejam assinados, o que o presidente tricolor nega. Por isso, a empresa deteria porcentagens de cerca de 90% dos jogadores da base.
“Temos vários atletas, mas não posso informar quantos por questão estratégica”, limitou-se a dizer o delegado André Garcia à reportagem.
Calcio com 20% de Gabriel - Destaque do tricolor e melhor jogador do Baianão 2012, o meia Gabriel, revelado nas categorias de base do Bahia, mudou de empresário. Deixou de ser agenciado pela Antonius e passou a ter sua carreira administrada por Carlos Leite, mesmo empresário que trouxe para a equipe jogadores como Titi, Carlos Alberto, Souza e Pedro Beda.
No novo contrato de Gabriel, um detalhe chama a atenção: a Calcio passou a ter 20% dos direitos econômicos do atleta.