Heróis do esporte amador relatam vivências na busca por reconhecimento
Destaques baianos, Lucas e Elienai possuem trajetórias antagônicas na busca pelo sonho
Faça chuva ou faça sol, esportistas de toda a Bahia seguem com o objetivo principal de serem melhores do que foram ontem. Esse é o foco, independentemente da modalidade, e não seria diferente para Lucas Carvalho, atleta amador do tênis de mesa, que foi campeão baiano juvenil em 2013 e de equipes em 2015.
O jovem de 27 anos é considerado 'promissor e excelente atleta' pelo ex-presidente da Federação Baiana de Tênis de Mesa, Paulo Carneiro. Questionado sobre a rotina de treinos, ele resume: “falta tempo”.
A realidade bateu à porta de Lucas quando ele notou que teria que dividir a paixão pelo esporte com uma profissão 'convencional'. Atualmente, o atleta amador atua como instrutor de trânsito em Salvador, além de ser estudante de engenharia elétrica.
Os esforços não foram suficientes para bancar a vida de esportista. Os custos para um jovem atleta competir cresceram na medida em que ele via a profissionalização do esporte ficar cada vez mais distante no estado.
Fundada em 1958 por Abelardo da Costa Nunes, a Federação Baiana de Tênis de Mesa, com promissor sucesso nos anos 70, deu seu primeiro 'saque para fora' na década de 1990, devido à falta de estrutura, gestão e formação de atletas. Apesar de oscilar entre gestões responsáveis - mas pouco desenvolvidas - e outras tantas desastrosas, os relatos atuais dão conta de uma federação quase inexistente.
"O esporte está largado na Bahia, eu saí da federação porque tinha muita coisa errada, não há investimento, tem muita gente amadora tocando as gestões e o esporte está entregue à politicagem. Hoje eu trabalho com um projeto de desenvolvimento de atletas em escolas públicas", disse o ex-presidente da entidade, Paulo Carneiro.
Em 2017 Paulo Carneiro fez uma série de denúncias contra a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM). Ele pediu uma investigação das autoridades alegando gestões com supostas "licitações fraudulentas, estelionato, desvios de recursos financeiros, conflito de interesses, nepotismo e malversação".
Próximo à competição, Lucas estuda cada estratégia adversária, situações de jogo e, principalmente, questões de saque e recepção. Com dedicação minuciosa para alcançar o topo do esporte, ele se cerca de objetivo, mas enxerga claramente a falta dos incentivos.
Os jogos acontecem em ginásios vazios e sem apelo do público. Além disso, as coberturas por parte da mídia, quando existem, são mínimas, e os calendários de competições são difíceis de encontrar. Dentro deste contexto, enxergar um atleta de tênis de mesa é difícil quando não se sabe quem sobe ao pódio.
Lucas Carvalho tem disputas registradas em etapas nacionais
de categoria Absoluto C, em equipes por clubes, campeonato brasileiro no Rio
Grande do Sul e Olimpíadas Escolares, e acumula medalhas no tênis de mesa.
Atualmente, ele busca a inscrição no projeto de incentivo ao esporte amador, o FazAtleta, criado pelo Governo do Estado, que prevê recursos para pagamento de despesas em viagens, aluguel de equipamento esportivo, contratação de seguro de vida, aquisição de material e bolsa-auxílio para o atleta.
Pedalando ao topo
Apesar da difícil realidade em ascender dentro do esporte amador, algumas pessoas conseguem atingir tal feito. Este é o caso de Elienai Damasceno que, a partir do convite de um amigo para trabalhar em uma loja de bicicletas, sentiu uma nova paixão surgir. Aos 25 anos, ela começou a carreira na cidade de Luís Eduardo Magalhães, mas ainda de forma casual, sem saber que seria pioneira no ciclismo baiano.
Comecei a pedalar em grupo. Como a cidade já tinha um grupo grande, eu me enturmei bem rápido. Sempre saíamos para pedalar por volta das 04h30 para dar tempo de realizar a atividade e voltar para trabalhar. Eram entre 15, 18 pessoas, e fomos aperfeiçoando isso Elienai Damasceno, ciclista amadora
Ela ganhou uma bicicleta do chefe e, após ouvir comentários dos moradores de que levava jeito pedalando, tomou coragem para participar de uma prova da etapa do Campeonato Baiano em Ibotirama, onde ficou na segunda colocação, tendo sido ultrapassada no final do percurso por uma ciclista mais experiente.
Daquele dia em diante, o gosto pelo esporte foi real.
Conciliando o trabalho convencional com o esporte, ela seguiu a paixão até que percebeu que os pedais já tinham mais peso na sua vida. A partir deste momento, foi quando buscou e encontrou um patrocínio para viver inteiramente do esporte.
Em 2020, Elienai - ou Morena, como é conhecida no meio esportivo - conquistou o primeiro título baiano de maratona. Já em 2021, obteve recorde estadual, conquistando todos os títulos de todas as modalidades em disputa: Speed, Resistência, e as modalidade XCO e XCM de Mountain Bike, sendo ela com circuitos mais radicais e maratonas, respectivamente.
Atualmente vivendo somente do esporte, sendo o contraponto de outras modalidades no estado, Elienai tem seus ganhos através de patrocínios, incentivos fiscais e participação de competições que premiam em dinheiro. A Federação Baiana de Ciclismo é apontada como sua maior aliada, com cobranças por competições, patrocinadores e suporte aos atletas do ciclismo.
A atleta vive hoje o melhor momento na carreira. Quando passa pelas ruas do povoado de Iguape, na região da Chapada Diamantina, ouve elogios, sente-se reconhecida e valorizada pela população, e tenta expandir sua imagem explorando as redes sociais, onde ela pode mostrar o talento para o mundo.
Relatando ser o maior sonho, a esportista quer
escrever o nome na história do ciclismo se tornando campeã brasileira de Maratona
na edição que acontece aqui na Bahia, na cidade de Castro Alves.