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EUA advertem China sobre risco de apoiar 'agressão russa'

Presidente Joe Biden, ameaçará seu par chinês, Xi Jinping, com represálias, diz secretário de estado dos EUA

Publicado quinta-feira, 17 de março de 2022 às 20:01 h | Autor: Danny KEMP e Dmytro GORSHKOV/ AFP
Antony Blinken diz que os ataques da Rússia contra civis constituem crimes de guerra
Antony Blinken diz que os ataques da Rússia contra civis constituem crimes de guerra -

Os Estados Unidos alertaram a China nesta quinta-feira, 17, para qualquer tentativa de "apoiar a agressão russa" contra a Ucrânia, onde novos bombardeios deixaram mais de 20 mortos no leste.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçará amanhã seu par chinês, Xi Jinping, com represálias se a China "apoiar a agressão russa" com uma ajuda militar, antecipou o secretário de Estado Antony Blinken.

O secretário estimou que os ataques da Rússia contra civis constituem crimes de guerra e acusou Moscou de não fazer "esforços significativos" na frente diplomática para resolver o conflito.

Essas advertências são feitas após uma série de relatos de bombardeios contra alvos civis, que já deixaram centenas de mortos desde o início da invasão à Ucrânia ordenada há três semanas pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Kiev, onde o cerco das tropas russas é cada vez mais intenso, saiu hoje de um toque de recolher de 35 horas.

'Prestar contas'

O Ministério russo da Defesa negou ter atacado ontem um teatro na cidade portuária de Mariupol, sudeste da Ucrânia, sitiada há mais de duas semanas pelas forças de Moscou.

Segundo autoridades locais, havia mais de mil refugiados no teatro. A ONG Human Right Watch (HRW), que destacou a falta de dados, citou a presença de pelo menos 500 pessoas.

As informações chegam a conta-gotas e em ocasiões contraditórias. A Ucrânia e os países ocidentais acusam a Rússia, que atribui o ataque a milicianos de extrema direita ucranianos.

O teatro de Mariupol "foi fortemente bombardeado hoje, embora servisse como um abrigo bem conhecido e claramente identificado para civis, incluindo crianças", denunciou o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, que também citou relatos de ataques russos contra a cidade de Mikolaiv.

"Esses ataques deliberados a civis e infraestruturas civis são vergonhosos, reprováveis e totalmente inaceitáveis", criticou Borrell, acrescentando que "os autores dessas graves violações e crimes de guerra, bem como líderes governamentais e comandantes militares, terão que prestar contas".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou ontem de "criminoso de guerra" seu par russo, Vladimir Putin, e anunciou o envio de uma grande ajuda militar à Ucrânia, onde civis foram atingidos em ataques a padarias, mercados e teatros.

"Acho que Putin é um criminoso de guerra", respondeu Biden a uma jornalista na Casa Branca. Sua secretária de imprensa, Jen Psaki, esclareceu em seguida que Biden "falava com o coração", depois de ver imagens de "ações bárbaras de um ditador brutal durante sua invasão de um país estrangeiro".

A resposta russa não demorou. "Consideramos inaceitável e imperdoável tal retórica do chefe de Estado cujas bombas mataram centenas de milhares de pessoas em todo o mundo", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov.

Cerca de 30 mil pessoas deixaram Mariupol na última semana, e outras 350 mil "continuam se escondendo em abrigos e porões" daquela cidade, segundo a prefeitura. Mais de 1.200 pessoas morreram em ações violentas em Mariupol desde o início da guerra, de acordo com fontes ucranianas. 

As pessoas que conseguiram fugir da cidade descrevem uma situação humanitária crítica e relataram que tiveram que beber neve derretida e fazer fogo para cozinhar a pouca comida disponível.

"Piorava a cada dia. Não tínhamos energia elétrica, água ou comida. Não era possível comprar nada, em lugar nenhum", disse à AFP uma mulher que se identificou apenas como Darya.

'Novo muro' na Europa

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou que a Rússia está erguendo um novo "muro" na Europa, "entre a liberdade e escravidão", em mensagem de vídeo transmitida na câmara baixa do Parlamento alemão.

Zelensky também criticou a Alemanha, que, durante anos, resistiu a romper os laços econômicos, em particular no setor de energia, com a Rússia. 

A Otan rejeitou os pedidos da Ucrânia de envolvimento direto no conflito, pelo temor de provocar a Terceira Guerra Mundial entre beligerantes com enormes arsenais nucleares.

Até o momento, proporcionou ajuda militar. Joe Biden anunciou que os Estados Unidos também apoiarão a Ucrânia para adquirir novos sistemas de defesa antiaérea. Apesar desse cenário, Putin repetiu em uma reunião do governo que a operação se desenvolve "com sucesso".

O chefe de Estado russo também condenou as sanções impostas pelos países ocidentais em resposta à invasão, depois que Moscou foi excluída da maior parte do sistema financeiro ocidental, e afirmou que as medidas fracassaram.

Em nível global, a guerra pode custar um ponto percentual ao crescimento mundial ao longo de um ano caso os efeitos sobre os mercados de energia e financeiros perdurem, advertiu a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

A Europa será a região mais afetada pelas consequências econômicas da ofensiva, segundo a organização.

'Modelo ucraniano'

Mais de 3 milhões de pessoas fugiram do país, a maioria mulheres e crianças, segundo a ONU. Zelensky afirmou nesta quinta-feira que 108 crianças morreram na guerra.

Representantes de Kiev e Moscou conversaram por videoconferência em várias ocasiões esta semana. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a delegação russa está "fazendo grandes esforços e está disposta a trabalhar dia e noite, mas que os ucranianos não mostram tanto afinco".

Na quarta-feira, ele afirmou que um "compromisso" poderia ser alcançado para acabar com o conflito se a Ucrânia aceitar virar um país neutro, com base nos modelos da Suécia ou Áustria.

Mas o negociador ucraniano, Mikhailo Podolyak, destacou que o modelo da Ucrânia neste momento "só pode ser ucraniano".

Cada vez mais isolada, a Rússia desistiu de submeter uma resolução humanitária sobre a Ucrânia a votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta sexta-feira, por não contar com o apoio de seus aliados mais próximos, indicaram fontes diplomáticas.

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