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Artigo: O Covid-19 detonou os feriadões

Publicado sexta-feira, 12 de junho de 2020 às 18:03 h | Atualizado em 12/06/2020, 18:08 | Autor: Jolivaldo Freitas
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista | Foto: Arquivo Pessoal
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista | Foto: Arquivo Pessoal -

Se alguém vier me dizer que economicamente e politicamente 2020 é um ano perdido vou perder a paciência e mandar tomar no mastruz, com leite. O ano está sendo bem pior. Bem mais do que só isso. Era para ser um ano mágico para quem gosta do ócio – claro, sem desprezar o trabalho já que Deus disse para Adão “do suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela fostes formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Bíblia Sagrada, Gênesis 3.19), ou seja, traduzindo para o popular: “Vá trabalhar, vagabundo...”.

Mas, voltando ao ócio que será sempre melhor que a labuta. Melhor suar na praia que no alto forno de uma usina siderúrgica, era para ser um período maravilhoso, único, daqueles que só acontecem sabe-se lá de quantos em quantos anos – mais raro que ver a Lua Azul ou a Lua de Fogo ou um cometa lambendo a Terra. Todos os adeptos do ócio, admiradores da deusa grega Salmacis, que a ninfa grega que só pensava no vagar. Os italianos sabem muito bem o que é a filosofia di non fare nulla. A Bahia está cheia deles, que vêm em busca de rede, sol e praia e de nada para fazer.

Mas, o certo é que para 2020 estavam cravados, nos calendários, sequências de feriados que iriam cair numa segunda, numa quinta, numa terça. Imagine um feriado na terça. Saia do trabalho na sexta e só voltava na quarta já pensando de novo no fim de semana. A glória das glórias. Quem quisesse podia ir ver a família lá longe, matar saudade do namorado que mora no Piauí ou no Acre, gastar Real em Buenos Aires ou no Chile, ir acasalar em Fernando de Noronha, ou mesmo visitar a Chapada Diamantina, Santaluz no sertão, se infernizar com os “paredões” de som na Ilha de Itaparica, ou ficar quietinho em casa mesmo, lendo até as vistas arderem e bebendo até o fígado chamar o Samu.

Só para você ficar com raiva, vou delinear aqui a tabela do que seria um ano perfeito. Dia dez de abril, sexta, Paixão de Cristo. Dia 21 de abril, terça, Tiradentes. 1 de maio, sexta, Dia do Trabalho. 11 de junho, quinta, Corpus Christi. 24 de junho, São João, quarta-feira (ai meus santos juninos! Uma semana inteira perdia); 2 de julho, data da Independência da Bahia, quinta-feira. 

Não acredito que possamos recuperar e nem curtir os feriadões que estão por vir: 7 de setembro, Independência do Brasil, segunda-feira. 12 de outubro, Padroeira do Brasil, segunda. 21 de novembro, Finados, segunda. 16 de novembro, Proclamação da República é uma furada, pois cai no domingo esse bendito. Mas, em compensação 8 de dezembro, dia da Padroeira da Bahia cai numa terça e mesmo a Prefeitura tendo antecipado, dá para curtir. Natal cai na sexta e não tem covid certo que atrapalhe. Cai na sexta. Será que vai dar para aproveitar, pelo menos os feriados mais perto do fim do ano? Quem viver verá.

É nessas horas que fazem falta Madame Beatriz que lia o futuro em sua bola de cristal. Mãe Jurema, que não só sabia de tudo nas cartas, mas acabava com mau-olhado, trazia mulher fugida em três dias e curava até erisipela. Jurava que por módica quantia fazia até um marido inútil ficar sestreiro e bebum tomar ódio do copo. Além de olhar e dizer do futuro longe e perto. Ela com certeza já teria uma fórmula para detonar com o ninja do Covid-19. 

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