Editorial - A gripe também mata
A prorrogação da campanha contra a gripe gerou resultado pífio com armazenamento de 36 milhões de doses ainda a serem aplicadas nos postos de saúde em todo o País, apesar de o clima frio favorecer a ocupação dos leitos.
Como numa mirada em espelho, população e gestores se enxergam, cada qual vendo na imagem em frente aspectos de seu próprio perfil, no qual a negligência, o despreparo e o dogmatismo delineiam retratos semelhantes.
De uma cidadania claudicante, em sua hesitação entre pulsões de vida e de morte, não se pode criar expectativa de formar crença pelo compromisso, no sentido de atualizar a caderneta de vacinas.
O contexto adverso não estanca o risco de escalada no número de casos de novos enfermos, semeadura para futuro quadro crescente de óbitos, se mantido o ritmo vagaroso de frequência aos endereços determinados pela secretarias.
Diante da equidistância entre a vontade de viver e a inclinação por não se importar com os concidadãos, pois a imunização sustém o contágio, emerge uma massa vacilante, em ilustração de rebanho sem emitir sinais de desalienar-se.
Aos governos nos âmbitos federal, estadual e municipal, restaria investir em comunicação, de forma tão maciça quanto possível, destacando a força do mutirão, no entanto, reservam-se as autoridades iniciativas individuais.
Caberia a orquestração dos entes federativos ao ministério, considerando a horizontalidade prevista para regência da União à qual damos o nome de república, beirando à indiferença a atuação de Brasília.
Como agravante, dois grandes inimigos estão organizados para ocupar às avessas o vácuo do serviço comunicacional, aliando-se empresas da fé, nomeadas “seitas”, e a indústria de conteúdos falsos, cuja disseminação das “fake news” prospera sem marcação.
Embora passível de imputação como crime, a propagação de mentira antivacina tem obtido sucesso, utilizando-se templos e internet como meios para a sensação de derrota provisória, enquanto as geladeiras permanecem repletas de imunizantes.