Editorial - O farto minério das multas
Sem estratégias para educação de motoristas, resultado torna-se mina inesgotável para o erário municipal
O fracasso de radares, câmeras de monitoramento e afins torna-se evidente à medida do crescimento do número de supostos flagrantes no trânsito de veículos, uma vez ser desprovida a tecnologia da vocação para o didatismo.
Sem estratégias para educação de motoristas inabituados ao bom convívio nas pistas, o resultado torna-se mina inesgotável para o erário municipal, com a outorga de invejável jazida.
A mineração nas vias tem álibi perfeito, pois não se vê nem cicatriz, saindo o poder público como mocinho, na nostalgia invertida das antigas fitas de cowboy, nas quais os cidadãos seriam fora-da-lei punidos com multas obscenas.
Uma das formas de produzir bambúrrios favoráveis à rapina são infrações por ultrapassagem da velocidade, embora em pontos da cidade, como a avenida Paralela, o ronco do rali alcance altas horas - os fiscais em sono profundo.
Embora não aspergidos em água benta por autoridade eclesiástica, os radares seriam infalíveis, tal a confiabilidade criada pelos prepostos da prefeitura, na ânsia de bater supostas metas.
Agentes da Transalvador, cuja identidade não se deve revelar – o off, em jornalismo – queixam-se de pressões internas visando alcançar números obesos.
O instituto responsável pela fiscalização dos aparelhos é o Inmetro, mas quantos cidadãos teriam tempo suficiente para abrir reclamação a fim de conferir o estado do equipamento?
O valor arrecadado com montanhas de papeletas amarelas e verdes endereçadas aos acusados de infração poderia ser revertido no investimento em campanhas de comunicação massivas.
Teria este gesto de persuasão coletiva a eficácia de desalienar condutores, no sentido de desenvolver a empatia (colocar-se no lugar do outro), mas assim a arca do tesouro seria fácil de fechar: o ouro não transbordaria.
Há fortes indícios de sucesso financeiro como prioridade: segundo o deputado federal João Carlos Bacelar, entre janeiro e maio, 233 mil notificações renderam mais de R$ 35 milhões, muitas delas geradas em abordagens agressivas.