Editorial - São João pede prudência
Evitar todo e qualquer prazer do qual possa advir uma dor ou sofrimento maior tem sido um bom aconselhamento, atualizado nesta semana, com uma das preciosas datas do calendário de folguedos baianos, a festa dedicada a São João. A provisória alegria, represada desde o ano passado, deveria manter-se em ambiente digital, com o acesso a conteúdos e a shows de forró garantindo barreira não imunológica do distanciamento físico como necessidade de conter o Sars-CoV-2.
Não é só a ameaça do sempre presente risco de colapso do sistema de saúde, preocupação dos gestores, mas sopesa na balança a tristeza imposta aos infectados, considerando números e percentuais, indicadores insuficientes para dar conta da grandeza desta tragédia.
Basta um só concidadão doente ou indo a óbito e já terá sido uma quantidade exorbitante, acrescentado este amor incondicional à vida ao princípio de preservação da espécie ameaçada, e não é exagero, pelo rigor do micro-organismo por ora invencível.
Age bem o Ministério Público, e honra as razões de suas origens, ao expedir recomendação sobre perspectivas de agravamento do quadro adverso, caso a festa joanina torne-se irresistível ímã a atrair aglomerações clandestinas, incluindo em fazendas e ermos perdidos. A partir da segunda semana de julho, poderão fazer sentir-se os efeitos de suposta desobediência civil ao decreto do governo do estado, restando atribuir à inclinação para a farra a provável lacuna no atendimento hospitalar por falta de leitos.
Como educação não tem sido, historicamente, o atributo do pleno louvor de uma população ancestralmente submetida às maiores violências, ficam as autoridades sem opção, exceto reforçar aparatos punitivos e repressivos, representados pelo policiamento.
Ressalte-se, pois, a importância do equilíbrio por parte dos cidadãos lúcidos quanto à delicadeza de tal conjuntura, entre o riso e as lágrimas, dependendo da escolha de cada consciência em ação.