"A ciência e a inteligência caminham juntas", diz Pastor Ubaldino | A TARDE
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"A ciência e a inteligência caminham juntas", diz Pastor Ubaldino

Publicado quinta-feira, 25 de novembro de 2021 às 06:04 h | Autor: Jefferson Beltrão
Pastor Ubaldino, deputado estadual pelo PSD | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
Pastor Ubaldino, deputado estadual pelo PSD | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE -

O governo precisa oferecer mais incentivos à plantação de milho, à criação de bovinos e à piscicultura das bacias do Tucano e doItapicuru, no Nordeste baiano. O recado é do deputado estadual Pastor Ubaldino (PSD), para quem a região “sempre foi muito desprezada”. Nesta entrevista, também transmitida pela TV Alba (canal aberto 12.2 e 16 na Net), ele também cita “um certo desgaste” na base de apoio do governo, destaca a importância dos ensinamentos evangélicos e garante: suas principais bandeiras são “a preservação da família e a saúde dos mais carentes”.

O senhor está em seu quarto mandato e é esse o seu projeto político, buscar sempre uma nova eleição ou tem outras pretensões?

O que me levou a ingressar na política foi ver o sofrimento de um cidadão pai de família sentenciado à morte, faltando três meses para morrer, sem condições de adquirir um leito para tomar soro no hospital de Olindina. Ali nasceu em mim o desejo de trabalhar em prol das pessoas mais carentes. Então, em 1982 fui eleito vereador de Olindina. Depois, assumi a presidência da Câmara até 1988, quando então recebi um chamado muito especial pra assumir o pastorado na igreja de Saúde, com jurisdição eclesiástica em Pindobaçu e Caldeirão Grande. Assumi o pastorado, comecei a gostar de ler a Bíblia, a ensinar aqueles que dependiam do meu potencial eclesiástico, e dali fui transferido para Porto Seguro, onde fui pastor por quase três anos. E quando o ministério da Igreja Assembleia de Deus foi escolher uma pessoa para os representar na Assembleia Legislativa, a sorte caiu sobre a pessoa de Carlos Ubaldino.

Quer dizer que o senhor concilia as duas funções?

Concilio. Também sou pregador da palavra de Deus. E tenho a aceitação dos meus companheiros pastores, que hoje são mais de dois mil. A ciência e a inteligência caminham juntas e a perseverança e a esperança também. Quando eu chego, sempre sou bem recebido com um microfone para fazer menção da palavra de Deus.

Como pastor evangélico, como avalia a proximidade com o poder público de determinadas igrejas, algumas verdadeiros impérios como a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo?

Isso é profundo, porque “toda escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir e instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente inspirado para uma grande obra”. O bispo Edir Macedo foi inspirado para uma grande obra. Mas muitos, na realidade, deixam o poder ou o dinheiro subir [para a cabeça]. Porque o dinheiro é bom, compra a cama mas não compra o sono, compra a casa mas não compra o lar, compra a saúde mas não compra a vida. Então, quando nos dias de Israel qualquer governo deixava o poder subir para a cabeça, como [o rei] Nabucodonosor que bateu no peito e disse “não é esta a Babilônia que eu mesmo construí com a força do meu poder e para a glória da minha majestade?”, Deus tirou dele o instinto de homem e de ser humano e ele pastou sete anos no campo comendo relva com os animais.

No governo Bolsonaro, por exemplo, que tem como slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, é perceptível a influência religiosa que vai desde as pautas de comportamento ditadas pelo Palácio do Planalto até a indicação de cargos. O senhor concorda com esse tipo de influência?

Eu não concordo. De uma fonte não pode emanar água salgada e água doce [ao mesmo tempo]. Tem coisas do presidente Jair Bolsonaro que são louváveis, mas tem coisas que não.

O que, por exemplo?

[De louvável], a integridade e lealdade com o erário público. E o que não concordo é... Às vezes, a pessoa erra por não conhecer, erra por lapso – eu não queria falar esta palavra mas já falei – e erra por hábito. Tem coisas que ele fala que eu não concordo.

Por exemplo?

Eu me sinto à vontade para ficar calado para não me comprometer.

O senhor tem algum alinhamento político com o governo Bolsonaro?

Não, eu sou da base do senador Otto Alencar. Eu fui eleito a primeira vez pelo PSC, e depois o senador Otto Alencar me pediu pra gente fundar o PSD aqui na Bahia, onde temos hoje, graças ao trabalho dele, 109 prefeitos consagrados nas urnas de cada cidade.

Já que o senhor citou o senador Otto Alencar, há quem o defenda como um bom nome para a disputa pelo governo da Bahia em 2022. O senhor acredita nessa possibilidade?

No momento, eu o vejo realizando um grande trabalho no Senado Federal. Mas, por certo, a disputa pelo governo da Bahia vai ser acirrada.

Como avalia as articulações políticas da base de apoio do governador Rui Costa, da qual o senhor faz parte, neste ano pré-eleitoral? Alguns partidos caminham para desembarcar do governo?

Não se descarta essa possibilidade, porque observe: “debaixo dos céus há tempo para todas as coisas, tempo de ajuntar pedras e tempo de espalhar pedras”. A gente vê o governo já há 16 anos no poder e não resta dúvida que gera um certo desgaste. Mas o governo vem fazendo um bom trabalho.

Que partidos seriam mais propensos a deixar a base de apoio do governo?

Não tenho conhecimento, no momento, de possíveis partidos [que poderão deixar o governo], mas, por certo, haverá.

Deputado, quais são as principais bandeiras políticas que movimentam sua atuação na Assembleia Legislativa?

A minha principal bandeira política é preservar a família e a saúde dos mais carentes. Inclusive, tenho um projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa que obriga hospitais privados a dar os primeiros socorros a vítimas de acidente. Quem é acidentado muitas vezes é levado para o hospital mais próximo e o hospital diz que não pode receber, porque a vítima não tem plano de saúde ou cheque caução. É o mesmo que dizer: vai morrer mais na frente porque aqui nós não podemos receber. Então, o nosso projeto obriga o hospital privado a ter que dar os primeiros socorros, valorizando a vida acima do dinheiro.

Quando assumiu o atual mandato, no início deste ano, no lugar do deputado Jânio Natal, que deixou a Assembleia Legislativa para assumir a prefeitura de Porto Seguro, o senhor afirmou que sua atuação seria voltada para os interesses dos baianos e contra os projetos que ferissem os princípios cristãos. Já aconteceu de o senhor se posicionar contra algum projeto por esse motivo?

Já. Aqui nós confessamos e professamos a fé em Cristo Jesus e defendemos a família, porque Deus criou macho e fêmea, os instituiu em família e disse “crescei e multiplicai”. Não tenho nada contra a opção de qualquer cidadão, mas tenho que preservar a fé que eu professo. Então, a minha bandeira é preservando a família.

Mas como ficam os interesses da parcela da população que não se enquadra no conceito tradicional de família?

É um direito que o cidadão ou a cidadã tem hoje, mas “o manjar foi criado para o ventre e o ventre para o manjar”. Por isso Deus criou macho e fêmea. Hoje estamos vivendo um mundo que tem outras opções, mas não adotamos esta prática. Eu sou um homem temente a Deus e zeloso pela família. A família se cria com os ensinamentos de Deus. Inclusive, a Bíblia ensina à criança o caminho que deve andar. Moisés, depois de grande, não aceitou ser chamado filho da filha de faraó, porque ele conhecia o berço da família dos hebreus.

Quais são suas principais conquistas na Assembleia Legislativa?

Temos diversas conquistas. Demos mais de 100 [declarações de] utilidade pública, aprovamos um projeto de lei que possibilitou a Convenção Estadual das Assembleias de Deus a ser de utilidade pública. Tivemos a conquista do terreno do CECBA [Centro de Cultura Cristã da Bahia], que hoje é um grande templo, um dos melhores da Bahia, onde também temos uma creche para oferecer às nossas crianças o verdadeiro ensinamento, escolas e oficinas. E muitos outros projetos que temos protocolados.

O senhor que é natural de Cipó e também representa a região de Olindina, como avalia a atenção dada pelo governo a essas regiões?

Está precisando melhorar. A região da Bacia do Tucano e da BR 110 sempre foi muito desprezada. Hoje, quem sai pela BR 110 tem consciência de que chega a Paulo Afonso. Anteriormente, era mais difícil. Além das estradas que eram muito ruins, quem saía daqui não tinha esperança de chegar a Paulo Afonso. Hoje melhorou. O governo tem feito o possível para, pelo menos, preservar. É uma região que está dentro do semiárido e se tornou um verdadeiro Paraná pertinho da capital. São pessoas que batem 50 mil sacas de milho, mas ainda precisam do incentivo tanto do governo federal como do estadual, para que a Bacia do Tucano seja realmente um polo a nível mundial, não só nacional.

Quais são as principais demandas dessas regiões?

Fomentar a plantação de milho que hoje é o carro chefe, o feijão que foi desprezado, a piscicultura da Bacia do Rio Itapicuru e a criação de bovinos. É uma região quente. Você tira o boi do Baixo Sul e coloca no semiárido de Inhambupe, Olindina, Itapicuru, Paripiranga, Cícero Dantas, Ribeira do Pombal, e ele rende um arroba e meia por mês dentro do capim. Isso é fantástico.

E o que falta para desenvolver mais essas atividades?

Está faltando o governo voltar os olhos para a região, que é riquíssima. Eu tenho um amigo, Paulo da Manteiga, em Itapicuru, por exemplo, que no ano passado plantou pouquinho mas bateu 17 mil sacas de milho. Este ano chegou a 28 mil. Quer dizer, uma pessoa da roça que, se tiver incentivo do governo, faz da região um verdadeiro celeiro nacional. Você chega hoje num posto de Olindina ou Inhambupe e encontra 20, 30 carretas carregando milho.

Na eleição para o governo estadual em 2022 o senhor deve apoiar qual candidato?

Por enquanto, estamos com o nosso senador Otto Alencar, por fidelidade e consideração.

Mas então o senador Otto Alencar é pré-candidato?

Não descarta a possibilidade.

O senhor aposta nessa ficha?

Não, mas acho que o PT tinha que ser generoso [com o senador], porque duas vezes o senador foi generoso com o PT.

Mas caso os principais candidatos sejam, conforme cogita-se, o senador Jaques Wagner e o ex-prefeito ACM Neto, o senhor deve se alinhar com quem?

É coisa que a gente ainda vai refletir, mastigar, remoer, fazer como a verdadeira ovelha, para poder ter uma definição certa. Eu acho que tanto está de parabéns, se o povo abraçar, o senador Jaques Wagner, que já teve um trabalho prestado à Bahia, como também ACM Neto. Se tivesse um termômetro e pudesse colocar no coração dos dois, ia detectar boas intenções para com a Bahia.

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