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Diversidade religiosa marca as eleições municipais na Bahia

Publicado terça-feira, 06 de outubro de 2020 às 06:04 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Cássio Santana
Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis formam a candidatura “Pretas por Salvador”
Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis formam a candidatura “Pretas por Salvador” -

As eleições municipais serão marcadas pela diversidade de crenças e credos. Da religião cristã às de matriz africana, até a espírita, o pleito promete ser um espaço em que diferentes maneiras de professar a fé religiosa poderão disputar o voto do eleitorado baiano.

Há candidaturas para todos os gostos, inclusive candidaturas coletivas, quando o mandato é composto por mais de um candidato e se estabelece uma gestão compartilhada com os demais.

É o caso da candidatura “Pretas por Salvador”, composta por Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis (PSOL-BA). As três mulheres, duas de religião de matriz africana e uma evangélica, se uniram em uma candidatura para a vereança do município de Salvador.

“Resolvemos, nós três, sair candidatas. Somos de movimentos e religiões diferentes. Eu sou evangélica e as outras duas companheiras são do candomblé. Mas a palavra de ordem é o respeito, a gente respeita o espaço de cada uma”, disse Cleide Coutinho, que é evangélica.

Segundo Laina Crisóstomo, candomblecista, a candidatura coletiva ressalta dois pontos caros às três candidatas, a representatividade e a laicidade.

“A estrutura política precisa pensar em todas as pessoas. Lutamos pela laicidade do Estado, para que o estado não tenha uma religião, mas que o estado defenda todas, inclusive o direito de não crer”.

Para a candidata a vereadora de Salvador, Isabel Guimarães (PSB-BA), adepta do espiritismo, as eleições devem contemplar diferentes crenças religiosas. “Considero fundamental que membros de todos os credos e religiões se candidatem a fim de representar a pluralidade religiosa da sociedade brasileira”, disse.

Márcia Ministra (Psol-BA), candidata a vereadora pelo município de Salvador, candomblecista, defende que o Estado respeite todas as crenças, e não apenas algumas.

“Defendo a diversidade religiosa e não religiosa, porque a sociedade também é composta por pessoas que não tem denominações religiosas. Devemos respeitar as crenças e a não crenças dessas pessoas, isso é primordial”.

Imagem ilustrativa da imagem Diversidade religiosa marca as eleições municipais na Bahia
Márcia Ministra, candidata a vereadora em Salvador, é candomblecista

As vantagens da religião para a política

De acordo com Isabel Guimarães, a religião espírita tem muito a contribuir para a política. “O espiritismo é religião, ciência e filosofia. Acreditamos na imortalidade do espírito e na evolução espiritual. Considero de grande importância trazer esse olhar espiritual para compreensão das mazelas da sociedade”, avalia.

A candidata a vereadora Lindinalva de Paula (PT-BA), que professa a religião do candomblé, acredita que candidaturas de religião de matriz africana retoma e reforça a ancestralidade do população negra de Salvador. “O candomblé é uma religião que traz ancestralidades, que reforça a tradição do nosso povo. É uma religião matriarcal.”, lembrou.

Para Laina Crisóstomo, as religiões de matriz africana, para além de retomar a tradição da população negra, percebem o mundo a partir de uma perspectiva que pode contribuir para a política. “A religião de matriz africana me faz ver de outro olhar. É um debate sobre combate ao racismo religioso, ao crime ambiental. O candomblé ta ligado à natureza.”

Política e Religião: um objeto de estudo

A ascensão de candidaturas ligadas a religiosos é matéria de estudiosos. O cientista político Joviniano Soares, 78, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), acredita que o aumento de candidaturas religiosas, especialmente de evangélicos, é uma resposta a uma crise de valores.

“A concepção de que a política é um modo de ajudar a todos os ‘irmãos’ faz com que haja um movimento de reafirmar valores que estariam, supostamente, ameaçados.”, argumenta.

De acordo com o professor, a relação entre política e religião é marcada por altos e baixos, com pressões e concessões de ambas as partes. “São campos distintos, com estruturas e hierarquias distintas, que decidem e agem a partir de critérios diferentes, mas que estão relacionados. Há pressão das duas partes, mas há intersecção, sempre existiu e sempre existirá.”

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