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Cientista pede 'esforço de guerra' para salvar a Amazônia

Publicado terça-feira, 04 de novembro de 2014 às 14:52 h | Autor: Agência EFE
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Reduzir o desmatamento a zero deixou de ser o suficiente para salvar a Amazônia: é preciso fazer um "esforço de guerra" que implique o fim do corte de árvores e também o replantio para recuperar grandes áreas devastadas.

O renomado pesquisador brasileiro Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), lançou este alerta no informe "O Futuro Climático da Amazônia", baseado em 200 estudos e artigos científicos sobre o tema.

PERGUNTA: Qual é o objetivo deste relatório?

RESPOSTA: "A mensagem mais importante é que valorizemos a floresta. O clima se ressente a cada árvore que tiramos da Amazônia. As mudanças climáticas não são mais uma previsão científica, mas uma realidade. Não temos mais tempo, o desastre está em curso. Não sei a que ponto sem retorno nós chegamos. Nos últimos 40 anos, destruímos 763.000 km2 de floresta (duas vezes a superfície da Alemanha); são 2.000 árvores por minuto. Isso corresponde a uma estrada de 2 km de largura da Terra à Lua.

Temos que nos unir em um 'esforço de guerra', como fizeram os aliados durante a Segunda Guerra Mundial. O desmatamento zero não é mais suficiente, é preciso replantar a floresta, reconstruir os ecossistemas em zonas degradadas.

Não só a Amazônia está em jogo, estamos falando das florestas do Congo, da Sibéria... É necessário que os governos do mundo, os empresários e as elites se juntem como fizeram na crise de 2008: em 15 dias encontraram bilhões de dólares para salvar o sistema bancário. É preciso fazer o mesmo para evitar o abismo climático e salvar a humanidade e isto não seria tão caro".

PERGUNTA: O que este estudo traz de novo?

RESPOSTA: "É um trabalho inovador porque revela os segredos que tornam a Amazônia um sistema único no planeta: exporta umidade, através de 'rios voadores de vapor' d'água, que são correntes de umidade que esta massa de árvores põe na atmosfera, levando chuvas para o sudeste, o centro-oeste e o sul do Brasil, e também para outras regiões de Bolívia, Paraguai, Argentina, a milhares de quilômetros. O problema é que estamos destruindo a fonte destes 'rios voadores'.

Sem os serviços da selva, estas regiões produtivas poderiam ter um clima quase desértico. As árvores amazônicas chegam a jogar na atmosfera o equivalente a 20 bilhões de toneladas de água por dia, mais do que o rio Amazonas lança no Oceano Atlântico a cada dia (17 bilhões de toneladas). É como uma bomba que manda água para outras regiões. É por isso que não há deserto nem furacões ao leste dos Andes. Há grandes provas de que a crise climática está vinculada ao desmatamento da Amazônia.

A seca excepcional que vive a região sudeste do Brasil, especialmente São Paulo, já pode ser o resultado da destruição da Amazônia".

PERGUNTA: Esse grande esforço poderia aportar os resultados esperados?

RESPOSTA: "O desmatamento zero deveria ter começado ontem. O governo brasileiro fez um trabalho magnífico entre 2004 e 2012, quando conseguiu reduzir o desmatamento de 27.000 km2 ao ano para 4.000 km2. Mas o novo Código Florestal, que anistiou aqueles que desmatavam, enviou um sinal de impunidade e tudo recomeçou.

Se reagimos, temos a capacidade de nos recuperar, embora o resultado não esteja garantido porque existem mudanças climáticas mundiais. De qualquer forma, reconstruir os ecossistemas é a melhor solução".

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e se estende por 6,9 milhões de km2 entre Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa. Sessenta por cento da selva ficam em território brasileiro.

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