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Setembro Amarelo: o poder do amparo voluntário para a preservação da vida

Publicado quinta-feira, 05 de setembro de 2019 às 23:25 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Euzeni Daltro
Durante esse mês, uma série de ações são desenvolvidas no País inteiro com o intuito de chamar a atenção da sociedade para a questão do suicídio
Durante esse mês, uma série de ações são desenvolvidas no País inteiro com o intuito de chamar a atenção da sociedade para a questão do suicídio -

Quando resolveram fazer a inscrição para voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), João Eudes, de 66 anos, e Jomar Oliveira, 45, almejavam a mesma coisa, ajudar pessoas. No trabalho de apoio emocional e prevenção ao suicídio desenvolvido no Centro, eles não só ajudam pessoas como se realizam como valorizadores da vida.

Eudes desejava trabalhar com algo relacionado à paz e, no ato de escutar o outro com amor, se realiza como propagador da paz . “Quando você conversa com as pessoas e elas se sentem bem, eu acredito que é um trabalho ligado à paz. Quando a gente conversa sem dar opinião, sem julgar, as pessoas se sentem em paz”, acredita ele, que é voluntário do CVV há 29 anos.

Já Jomar, que queria desenvolver um trabalho que lhe permitisse contribuir para tornar o mundo melhor, se realiza no cuidar do outro. “Adoro cuidar das pessoas. Sinto muito prazer em cuidar das pessoas”, afirma. Entre idas e vindas, Jomar soma 15 anos de trabalho voluntário no CVV.

O sentimento de querer ajudar pessoas que João Eudes e Jomar carregavam quando se inscreveram para o trabalho voluntário foi também o que motivou os integrantes do grupo de estudo Aprendizes do Evangelho, da Federação Espírita de São Paulo, a criar o CVV em 1º de março de 1962.

Apoio emocional 

Hoje, a ONG possui mais de 3 mil voluntários espalhados em 110 postos de atendimento em todo o País e é um dos principais mobilizadores do movimento Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio.

O trabalho desenvolvido no local implica em oferecer gratuitamente apoio emocional a quem precisa conversar sobre suas dores e aflições, sem ligação com nenhuma religião. “O CVV respeita todas as religiões e até quem não tem religião. Nossa religião é o amor ao próximo”, afirma João Eudes. Segundo ele, o trabalho desenvolvido foi desvinculado de religião desde a década de 1970.

Jomar explica que todo atendimento do CVV procura entender e cuidar as emoções de quem busca ajuda na ONG, sem dar conselhos. “A gente cuida das emoções. O método do CVV expõe o problema e a emoção. Nunca a pessoa. Ninguém quer ouvir ninguém chorar. O CVV ouve você chorar”, afirma Jomar. “A pessoa precisa botar para fora o que está sentindo. Quando ela liga, ela já ouviu uma bomba de conselhos”, completa ele.

Eudes ressalta que aconselhar impede a pessoa de encontrar soluções para seus próprios problemas. “Se eu der ideia para você solucionar um problema, eu não estarei confiando em você”, ressalta.  Os voluntários explicam que todo o trabalho desenvolvido pelo CVV busca atender aos pilares sobre os quais o centro foi criado e é mantido: respeitar, confiar, aceitar e valorizar.

O atendimento é oferecido por meio do telefone 188 de forma ininterrupta nos 365 dias do ano e sem custo de ligação. Além do telefone, o serviço é oferecido pelo site www.cvv.org.br (por chat e e-mail) e presencial nos 110 postos de atendimento todos os dias, das 8h às 18h. Nese caso, basta o interessado chegar ao posto do CVV e dizer que precisa conversar. Por dia, o centro recebe 8 mil ligações em todos os 110 postos do País.

Em Salvador, a média de ligações é de 30 por dia. A Associação Baiana de Apoio à Vida (ABAV) é a mantenedora do CVV na capital baiana. “As pessoas não querem se suicidar. Elas querem viver livres do problema. Elas querem tirar aquela dor, mas, por não saberem tirar aquela dor, elas atacam o corpo. A dor emocional é tão grande que elas se mutilam”, afirma Eudes.

Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo passou a ser desenvolvido no Brasil, em 2015, a partir da iniciativa do CVV em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A proposta é “associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, dia 10 de setembro”.

Durante esse mês, uma série de ações são desenvolvidas no País inteiro com o intuito de chamar a atenção da sociedade para a questão do suicídio. Entre as ações, está a iluminação na cor amarela de monumentos e prédios públicos, a exemplo do Elevador Lacerda, em Salvador. O psicólogo Renan Rocha ressalta a importância de falar sobre o suicídio.

“Durante muito tempo acreditou-se que não falar era a melhor forma de evitar, porque falar sobre estimularia as pessoas a cometer suicídio. Essa é uma ideia atrasada. A melhor forma de evitar é falar sobre o assunto, informar sobre, mostrar que existem profissionais qualificados para ajudar, é mostrar que aquela pessoa não está sozinha”, afirma Rocha, que é professor da Universidade Salvador (Unifacs) e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).

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