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Vendas de autoteste de Covid aumentam mais de 1.500% em farmácias

Teste gera subnotificação e Sesab alerta para casos positivos serem encaminhados às unidades de saúde

Publicado segunda-feira, 11 de julho de 2022 às 07:00 h | Autor: Priscila Dórea
Procura por autotestes aumentou nas farmácias e gerou subnotificações
Procura por autotestes aumentou nas farmácias e gerou subnotificações -

Uma alternativa às filas em unidades de saúde, laboratórios e farmácias, os autotestes de Covid-19 chegaram às drogarias no início de março e, de lá pra cá, as vendas só têm aumentado. Nas unidades baianas da rede Pague Menos, por exemplo, o aumento nas vendas foi de 1.168% de maio para junho. No Consulta Remédios - e-commerce que reúne mais de 400 drogarias do Brasil -, houve um aumento de 1.528% na compra do autoeste entre abril e maio.

Porém, se por um lado isso reflete a preocupação da população em  atestar a própria saúde, também aumenta o número de subnotificações de casos, pois muitas dessas pessoas não vão a uma unidade de saúde para confirmar a infecção - e ter o caso notificado. De acordo com a nota técnica que a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) emitiu sobre o uso do procedimento, o autoteste deve servir como uma espécie de triagem, com o seu resultado servindo como orientação se há motivo para se preocupar, não um diagnóstico oficial da doença.

O documento orienta ainda que pessoas sintomáticas façam a coleta entre o 1º e 7º dia após o início dos sintomas e as assintomáticas a partir do 5º dia após o último contato com alguém infectado. Apesar disso, as orientações do fabricante devem ser observadas para avaliar o melhor momento para a realização do autoteste, afirma a nota técnica. Caso o resultado seja positivo, o recomendado - inclusive nas bulas - é que a pessoa vá a uma unidade de saúde para confirmar o diagnóstico, recebendo em seguida as orientações devidas.

“Sabemos que a maioria das pessoas tem informação, mas muitas outras não. Por isso ir a uma unidade de saúde é interessante para saber quais medicamentos tomar, como monitorar a saúde dos familiares próximos, quais os sinais de alerta de piora, quando a pessoa deve tomar a próxima dose de vacina e até mesmo descobrir se outra comorbidade pode afetar o quadro”, explica a infectologista da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Adielma Nizarala.

Há ainda a importância de computar esses casos, pois “só com dados que refletem o real número de infectados, é que podemos transformar essas informações em ações”, afirma a infectologista. E a única forma de fazer isso é sendo atendido em alguma unidade de saúdepública ou particular.

A diarista Tereza Castro de Souza conta que ao ver o autoteste dar positivo seguiu para uma unidade de saúde pensando apenas em saber quais remédios certos tomar. “Não sabia que fariam o teste lá outra vez, tanto que levei o que fiz em casa. Preferi comprar o de farmácia pela rapidez do resultado por causa do trabalho, pois não só precisava saber se poderia ir no dia seguinte, mas também precisava avisar as outras casas que tinha feito faxina dias antes”, explica.

Vendidos por valores a partir de R$50, os autotestes de covid-19  nas farmácias são realizados através da coleta da secreção do nariz do indivíduo com um swab - o famoso e temido cotonete, mas numa versão menor. Basta inclinar a cabeça para trás e inserir o swab em uma das narinas, girando quatro ou cinco vezes por 15 segundos. Em seguida, indica a bula, abra o recipiente com o líquido e insira a ponta do swab, apertando bem as laterais da embalagem para espremer o líquido. Então,  basta aplicar quatro gotas da substância reativa no recipiente e aguardar 15 minutos para obter o resultado.

A rapidez e a praticidade atraíram Flávia Santos (nome fictício) e sua mãe, Ana Maria Santos (nome fictício), na escolha pelo autoteste, além do movimento nas unidades de saúde que, por estarem cheias, afirma Flávia, tem provocado demora no encaminhamento para a testagem. “Nós duas já tomamos as quatro doses da vacina, e os sintomas têm sido dor de cabeça, dor no corpo, febre, dor de garganta, coriza, espirros e muita tosse. Apesar disso, ainda não vimos a necessidade de irmos a uma unidade de saúde, mas caso os sintomas persistam após o tempo recomendado de isolamento, poderemos repetir o teste ou buscar atendimento médico”, explica Flávia.

Na família do engenheiro mecânico Lucas Freitas Miranda,  a esposa e os pais também descobriram, nas últimas semanas, que estavam com covid-19 através do autoteste. “Fui ao setor médico da empresa onde trabalho para ser orientado da melhor forma possível depois que testei positivo, mas alguns membros da minha família foram orientados a fazer o RT-PCR (exame feito com o cotonete longo) para confirmar e registrar onde trabalham. Mas não chegamos a sentir necessidade de ir realmente a um hospital, pois todos nós apresentamos sintomas leves como coriza nasal e tosse. Quando estiver sem sintomas irei fazer outro autoteste”, afirma.

Controle

Apesar das implicações de não ir a uma consulta médica após um autoteste positivo, principalmente quanto às orientações assertivas para tratar a infecção por Sars-Cov-19, realizar o autoteste se tornou mais uma ferramenta no controle da pandemia, principalmente no momento atual onde as ações públicas mais intensas - como drive-thru, unidades móveis e pontos extras de testagem -, foram tiradas de cena. “Subnotificação nunca é o ideal, mas apesar do prejuízo na vigilância quanto ao número de casos, o autoteste acaba se tornando uma forma de dividir o controle da pandemia com a sociedade”, explica o imunologista, virologista e pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ricardo Khouri.

São muitas as formas e estratégias para monitorar o número de pessoas infectadas, inclusive o crescimento das vendas de autotestes, que pode ser considerado um fator indireto, explica o pesquisador. “Em um mundo perfeito, os que testam positivo com o autoteste iriam para uma unidade de saúde receber orientação e acompanhamento, estando em casa, fariam o teste outra vez antes de sair do isolamento. Nem todos fazem isso, mas aqueles que fazem o autoteste e se cuidam, seja em casa ou indo a um médico, estão ajudando a conter a pandemia. E isso é importante hoje, pois também diz respeito à capacidade dos órgãos de saúde e o quanto eles aguentam fazer”, explica.

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