Brasil só tem estoque de fertilizantes até junho

Secretaria da Agricultura da Bahia criou um grupo de trabalho para tratar do tema

Publicado segunda-feira, 14 de março de 2022 às 06:00 h | Atualizado em 13/03/2022, 17:28 | Autor: Ruan Amorim*
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O Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo
O Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo -

A guerra entre Rússia e Ucrânia traz diversos impactos na política e economia mundial. Quando se trata do Brasil, uma das maiores preocupações é o agronegócio, visto que um dos segmentos diretamente afetados pelo conflito é o de fertilizantes. De acordo com a previsão da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o país só tem estoques do insumo para os próximos três meses (até junho). 

Nesse cenário, para minimizar os danos aos produtores baianos e procurar soluções para o possível problema: a falta de fertilizantes, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI) montou um grupo de trabalho para tratar do tema. Na última quinta-feira, a entidade realizou o webinário  Possíveis impactos do conflito Rússia/Ucrânia no agronegócio do Brasil e da Bahia – Caminhos e ações pertinentes. 

A articulação é motivada pelo Brasil ser o maior importador de fertilizantes do mundo e ter a Rússia como responsável por exportar cerca de 23% dos fertilizantes químicos em 2021, o que equivale a mais  de 9,2 milhões de toneladas do produto. Isso de acordo com o levantamento do Comex Stat, portal do Ministério da Economia que traz dados sobre o comércio exterior.

Diretor-executivo da Anda, Ricardo Tortorella conta que a produtividade do agronegócio brasileiro cresceu nos últimos 30 anos e esse fato está atrelado ao maior uso de fertilizantes no decorrer desse período.  Segundo o executivo, o Brasil tem uma alta dependência externa do produto, importando mais de 80% do insumo. O principal fertilizante do qual o país é dependente é o potássio, mineral cuja produção nacional é de 5% , e a Rússia é o segundo maior produtor.

“A Rússia é muito importante no mercado mundial de fertilizantes. É o segundo maior produtor de nitrogenados e o quarto de  fosfatados.  Em 2020, produziu 19,6 milhões de nitratos de amônio, fertilizante que o Brasil importa cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano. Desse montante, 1 milhão vem da Rússia. Temos uma forte dependência dos fornecedores russos. A nossa maior preocupação é o cloreto de potássio, uma vez que importamos 3 milhões de toneladas da Rússia”, esclarece Ricardo durante o webinário.

Na pandemia

O diretor-executivo também explica que, mesmo no período de pandemia, as safras de grãos do Brasil juntamente com a dos Estados Unidos, China e  Índia  cresceram. Nesse contexto, segundo ele, “ a demanda por fertilizante cresceu, mas a oferta de quem produz o produto não. Isso por si só é razão dos preços subirem, o que é agravado pelo conflito da Rússia com a Ucrania”. 

Em meio a  possibilidade da guerra gerar prejuízos intensos nas lavouras dos produtores baianos,  buscar alternativas de antemão é importante. isso é o que explica o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), que também é produtor de grãos, Odacil Ranzi. De acordo com ele, a grande apreensão gerada pelo conflito vai deixar uma lição para o Brasil: não depender, em grande escala, de fertilizantes importados. 

“Já está na hora de desengavetar os projetos que existem em várias regiões do Brasil, em que o potássio está presente, e explorar o recurso para que nosso país não fique à mercê da produção do mercado  externo. Nós somos um grande produtor de matérias primas básicas de alimentação, ou seja, precisamos da adubação. Com isso, é importante que exploremos as possibilidades em solo nacional”, pontua Odacil.,

Quem concorda com ele é o superintendente de política e agronegócio da Seagri,  Claudemir Nonato. Ele diz que existe um erro na política federal de incentivo à produção nacional de adubos e fertilizantes, o que deixou o país na mão das importações.  “O fechamento de fábricas de fertilizantes no Brasil, aliado, agora, com as consequências da guerra, torna  necessário termos que fazer uma arrumação de rota para minimizar os impactos em nossa agropecuária”, destaca o superintendente da Seagri. 

Claudemir frisa também que a utilização de adubos e fertilizantes impacta tanto na agricultura quanto na pecuária. Na agricultura, os insumos são essenciais para o desenvolvimento e a saúde da produção. Já na agropecuária, ele exemplifica que “o milho é a base da ração disponibilizada para bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves. Então, o aumento do valor dos produtos utilizados na alimentação dos animais também eleva os custos de produção do setor e encarece  o preço da carne e dos ovos. Ou seja, a questão dos adubos e fertilizantes é essencial no tangente ao agronegócio como todo”. 

Apesar da apreensão do que pode resultar da disputa armada, há também a esperança de um cessar-fogo em breve.  “O medo dos agricultores é grande, mas temos a noção de que a guerra não vai durar muito tempo. Como estamos no período de safrinha, já temos adubos em nossas propriedades. O que assusta é a falta de insumos para a safra 2022/2023, que é iniciada no oeste da Bahia em outubro”, afirma Odacil.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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