Arranjem outra desculpa
![A ‘real’ é que o inchaço na Copa tem em sua raiz o mesmo fisiologismo que fez o alto escalão da Fifa ruir](https://cdn.atarde.com.br/img/2017/01/724x500/201711321526265-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2F2017%2F01%2F201711321526265.jpg%3Fxid%3D4099998%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1720830871&xid=4099998)
Das 204 federações internacionais filiadas à Fifa, 48 estarão em campo na Copa-2026. Ou seja: em breve, uma em cada quatro seleções terá a chance de jogar o Mundial. Mais do que dinamitar a qualidade técnica do torneio com a decisão de inchá-lo, a Toda Poderosa do futebol está acelerando o processo de banalização do maior evento esportivo do planeta depois das Olimpíadas.
E o pior é a desculpa para isso: arrecadar uns ‘trocados’ a mais e sacramentar o futebol como esporte mais popular do globo. Em outras palavras: conversa para boi dormir.
A Fifa já é rica e não há nada em suas contas hoje que demonstre qualquer tipo de possibilidade de instabilidade a curto, médio e longo prazos. Nem mesmo em seus mundiais de categorias menores a entidade tem prejuízos, costurando sempre com os governos locais e patrocinadores uma maneira de produzir o evento ‘no verde’. E, quando chega a hora das Copas masculina e feminina, o lucro dela é tão grande – e aumenta exponencialmente com o passar dos anos – que são mais do que suficientes para cobrir qualquer emergência em outras áreas ou competições.
Sim, é verdade, com 48 seleções a Copa arrecadará mais, um acréscimo de cerca de US$ 640 milhões (R$ 1,47 bilhão) segundo estudos da própria Fifa, que em seu balanço de 2015 tinha em caixa US$ 1,24 bilhão (R$ 4,5 bilhões) e uma expectativa de mais US$ 4 bilhões (R$ 13 bilhões) até o fim da Copa-2018. Mas, com cifras tão altas, é mesmo necessário colocar em risco seu torneio mais valioso em nome de tão ‘pouco’?
Hoje, o futebol já é, de longe, a modalidade esportiva mais popular e mais consumida do planeta, difundido profundamente em países ricos, pobres e em desenvolvimento. Tem por trás não apenas o poderio financeiro da Fifa, mas também de diversos setores da economia. É uma indústria que gera no planeta US$ 50 bilhões de dólares anualmente, com 1,6 bilhão de fãs, segundo dados da consultoria Repucom. Então, Fifa, expandir a Copa em nome de um aumento de mercado soa aos meus ouvidos como uma piada.
A ‘real’ é que o inchaço na Copa tem em sua raiz o mesmo fisiologismo que fez o alto escalão da Fifa ruir em escândalos de corrupção após 2014. Com a ação, o atual presidente Gianni Infantino cumpre promessa de ‘campanha’ para federações asiáticas e africanas, suas mais importantes bases de votos. Reeleição certa.
E, para uma entidade que funciona na base dos 10% para lá, comissões e propinas para cá, quanto mais dinheiro circular (e por mais países), mais pompudas vão ficar certas contas bancárias abertas por amigos e parentes em paraísos fiscais.
Mais jogos. Mais ingressos. Mais tevês envolvidas. Aumentar o número de ‘participantes’ é sempre uma eficiente forma de ramificar as fontes de receitas, deixando-as mais difíceis de ser avaliadas.
Pode ser que eu esteja errado, e que os novos mandatários da Fifa só queiram mesmo é o bem do futebol. Mas minha ingenuidade manda lembranças e um feliz 2017, porque ainda há tempo.