Pressão sem cabimento
![Para que esse ‘Novo Vitória’ tome corpo, é preciso tempo e paciência. Por que a pressão sobre Argel?](https://cdn.atarde.com.br/img/2017/02/724x500/2017210203223811-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2F2017%2F02%2F2017210203223811.jpg%3Fxid%3D4110178%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1720717294&xid=4110178)
Na última quinta-feira, o Vitória completou seu primeiro mês de treinamentos na temporada. Com o clube sob nova direção e uma consequente grande reestruturação de seu elenco, o Leão de 2017 quase nada herdou de sua versão do ano anterior. Apesar de alguns remanescentes – o técnico Argel Fucks entre eles –, trata-se de um novo time. Uma equipe, inclusive, que além de ter perdido seu principal ponto de referência ao ver o atacante ser negociado para o futebol chinês, já não havia tido um bom desempenho em 2016.
Para a nova temporada, o Vitória trouxe nomes de peso no futebol brasileiro. Mesmo que, aparentemente, atletas como Dátolo, Cleiton Xavier e André Lima já tenham vivido os melhores momento de suas carreira, a impressão que eu tenho é que eles têm ainda muita 'lenha para queimar' e que suas contratações podem ser avaliadas como boas apostas. Ao lado de Kieza, David e Willian Farias, tendem a render, assim que a equipe ‘encorpe’.
O problema que motiva esta coluna está justamente neste ponto. Para que esse ‘Novo Vitória’ tome corpo, é preciso tempo e paciência. Contudo, não é nada disso que temos acompanhado nas últimas semanas, com um absurdo clima de pressão criado sobre o técnico Argel Fucks, inclusive com críticas públicas do diretor de futebol Sinval Vieira.
Argel não está dando continuidade a um ‘case’ de sucesso. Pelo contrário. Após chegar à Toca para apagar um incêndio emergencial e ajudar a salvar o time do rebaixamento, o treinador precisou reiniciar praticamente do zero seu trabalho. Perdeu Marinho e ainda começou o ano com 14 novos contratados, muitos deles fora de forma física e técnica.
Argel não é meu técnico dos sonhos. Longe disso, aliás. Não vejo em seu trabalhos anteriores elementos que o diferenciem no vasto, mediano e volátil mercado de treinadores brasileiros. Além disso, em seus momentos de maior sucesso, com o Figueirense 2014/2015, sua equipe tinha uma forma de jogar muito específica, baseada em contra-ataques e no aproveitamento de lances de bola parada. Perfil que nada tem a ver com a cultura do futebol no Vitória, e sobretudo com o elenco que vem sendo montado atualmente, com uma verve essencialmente ofensiva e de toque de bola.
Depois de cinco jogos oficiais em 2017, é fato de que o Vitória não está jogando bem, oscilando muito durante os 90 minutos e se mostrando desorganizado, sobretudo defensivamente. Mas como culpar Argel por isso? Seus críticos teriam em mãos um ótimo argumento se o treinador estivesse impondo ao time uma forma de jogar que não lhe condiz, mas esse não é o caso. Argel tem estruturado o Leão de maneira ousada, com um futebol propositivo e de posse de bola. O mal posicionamento da equipe em campo é muito mais fruto de sua total falta de entrosamento e forma física, do que das ideias táticas e capacidade de comando do técnico.
Montar um bom time de futebol, consistente e incisivo, não é tarefa para um ou dois meses. É um processo longo, de meses. É possível, que mesmo que tenha esse tempo em mãos daqui para frente, Argel não consiga fazer o Vitória jogar bem. Mas nada justifica culpá-lo por qualquer tropeço ou por um mau desempenho neste começo de temporada.