Só por obra do acaso
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Somente mesmo uma obra do acaso, similar àquela que colocou o Botafogo este ano na Pré-Libertadores, pode fazer da temporada 2017 da dupla Ba-Vi uma jornada tranquila. Não se engane: estou feliz com a permanência do Leão na Série A e com o acesso do Tricolor à 1ª Divisão, mas tenho convicção de que não podemos esperar muito do desempenho de nossos principais representantes em competições de nível nacional.
Não é uma questão de pessimismo, mas de avaliação. Se em 2016 Bahia e Vitória já tiveram um desempenho abaixo do esperado, o que está por vir nesta nova temporada, com dois elencos sem uma espinha dorsal confiável e com as duas diretorias enfrentando dificuldades para renovações e contratações, é desalentador, por mais que os reforços a caminho de Salvador sejam bons e que o novo conjunto formado ‘dê liga’.
Um bom time, consistente, não é montado da noite para o dia. É um processo de anos, de uma política clara de contratações e de aproveitamento desses jogadores no futebol profissional, principalmente para clubes com orçamento limitado em relação aos seus competidores, como nos casos de Bahia e Vitória. E isso, nem tricolores nem rubro-negros têm hoje.
Dos atletas que têm contrato para o ano que vem, quem além de Juninho, Willian Farias e Marinho possui um alto grau de confiança em relação ao seu desempenho? É claro que muitos dos jogadores não citados, e que têm vinculo mais duradouro com os clubes, têm bom potencial ou uma consistência mínima para a composição de um elenco. O fato, contudo, é que é preciso de mais gente que se tenha certeza que farão a diferença nos momentos decisivos. E isso, leitor, não é Jackson, Cajá e Hernane que darão ao Bahia, nem Fernando Miguel, Kanu e Kieza ao Vitória, ainda que todos eles possam ser muito úteis aos seus treinadores.
Apesar das palavras mal escolhidas, deixando o 'pepino' exclusivamente para a meninada, entendo muito bem o que Willian Farias quis dizer ao criticar o excesso de atletas da base no elenco. O raciocínio vale para o Bahia também. Os dois planteis estão recheados de atletas 'crus', não apenas pela falta de experiência em torneios fortes, como o Brasileirão, mas sobretudo porque a alta rotação de chegada e partidas de jogadores gera nos clubes uma instabilidade muito grande em relação à adaptação, desde o estilo de jogo e métodos de trabalho do treinador, ao relacionamentos com colegas, funcionários e torcida. Isso sem falar ao pouco costume à cultura local e, muitas vezes, a distância da família. Equilibrar tudo isso não é difícil, mas exige tempo e paciência. Repito: é um processo, lento, e que não tem 100% de precisão. Deve minimizar-se ao máximo os maus resultados, mas tudo acontece muito na base da tentativa e erro.
Se você tem grana para trazer, a qualquer preço, um plantel de craques como fez o Palmeiras nos últimos 15 meses, há uma boa chance de ter sucesso. Caso contrário, não acredito em qualquer outra estratégia para se montar um time vencedor. Enquanto Bahia e Vitória não agirem assim, estão fadados a passear eternamente entre as Série A e B, sem direito a sonhar mais alto.