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06/08/2021 às 16:33 - há XX semanas | Autor: AFP

OLIMPÍADA

Excluídas, oprimidos e discriminados brilham nos Jogos de Tóquio pelo Brasil

A| boxeadora baiana Beatriz Ferreira luta por mais uma medalha de ouro neste domingo, 8 | Foto: Luis Robayo | AFP
A| boxeadora baiana Beatriz Ferreira luta por mais uma medalha de ouro neste domingo, 8 | Foto: Luis Robayo | AFP -

Durante anos, as mulheres foram excluídas de esportes supostamente "incompatíveis" com sua natureza e, ainda hoje, vários atletas são discriminados. Longe de sua terra, porém, que vive uma onda conservadora, mulheres, negros e homossexuais colorem os sorrisos do Brasil com ouro, prata e bronze.

Em Tóquio, as atletas brasileiras já alcançaram o recorde de medalhas olímpicas femininas para seu país (nove contra sete em Pequim-2008) e três das quatro de ouro conquistadas até agora por sua delegação, composta por 301 atletas, 53,5% de homens.

As medalhas de ouro na vela, com Martine Grael e Kahena Kunze, na ginástica, com Rebeca Andrade, negra; e na maratona aquática, com Ana Marcela Cunha, que é lésbica, brilham quatro décadas após a queda de uma lei que proibia a participação de mulheres em esportes "incompatíveis com as condições de sua natureza". Entre eles, futebol, boxe, rúgbi e levantamento de peso.

A seleção feminina de vôlei e a boxeadora Beatriz Ferreira vão lutar por mais duas medalhas de ouro neste domingo, 8.

"A mulher pode ser o que ela quiser, onde quiser e como quiser. [A medalha] também é fruto do tanto que a gente vem recebendo de ajuda por igualdade", disse Ana Marcela após o triunfo na maratona aquática.

A nadadora sabe do que está falando, em um país onde "as mulheres estudam mais, trabalham mais e ganham menos que os homens", segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No ano passado, neste país de 212 milhões de habitantes, foram registrados 1.350 feminicídios, 230.160 casos de violência doméstica e mais de 13.700 estupros, aponta a ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"A vitória de mulheres, negros(as) e pessoas LGBTQIA+ auxilia a visibilizar outras formas de viver, que, numa historiografia recente, ainda eram invisibilizadas, oprimidas e excluídas", diz Cláudia Kessler, doutora em Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"Debate necessário"

Ana Marcela é a "cota" dos medalhistas LGBT, população com vários representantes na seleção de futebol feminino, comandada pela lendária Marta, e no time de vôlei, com Douglas Souza.

O atleta conquistou milhões nas redes sociais, ao contar os bastidores dos Jogos, deixando em segundo plano que é um dos poucos atletas do sexo masculino a se assumir gay no Brasil.

Essas vitórias coincidem com as demandas mundiais por igualdade entre os atletas e contra o racismo (o gesto de se ajoelhar nos estádios, por exemplo, que se seguiu ao Black Lives Matter) e a homofobia (o arco-íris como bandeira).

No Brasil, porém, essa onda aterrissa com o governo de Jair Bolsonaro e suas declarações que lhe renderam acusações de racismo, misoginia e homofobia.

Em abril, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou que, desde que Bolsonaro assumiu o poder, em janeiro de 2019, detectou-se um aumento de crimes e de discursos de ódio.

"O esporte e a visibilidade que as Olimpíadas têm reconfiguram o debate nacional sobre as minorias, sobre as mulheres, sobre os gays, sobre as lésbicas, sobre os negros no Brasil", diz a socióloga Márcia Couto, da Universidade de São Paulo (USP).

"Promove um debate necessário no Brasil, que vem responder também a essas questões de retrocesso e de preconceito e discriminação e não reconhecimento de direitos das minorias nos últimos anos", destacou à AFP.

Sem ataques políticos

Até agora, nenhum dos vencedores atacou diretamente o presidente de extrema direita, que também não os parabenizou. No entanto, as mensagens de alguns atletas reivindicam sua origem social, raça, ou identidade sexual.

"Quero reconhecimento. Não estou falando de dinheiro. Vivo bem, graças a Deus. Quero que um baiano negro seja a maior estrela deste Brasil", escreveu o canoísta Isaquias Queiroz, que lutará pelo ouro, no jornal O Globo.

O Brasil, onde 55% da população se reconhece negra, foi o último país americano a abolir a escravidão (1888). Em 2020, foi citado pela ONU como um "exemplo extremo" de racismo estrutural.

A dois dias do final das Olimpíadas, os negros conquistaram seis das 20 medalhas.

De Paulinho, que disputará a final do futebol contra a Espanha no sábado, 7, outra voz emergiu. O atacante do Bayer Leverkusen comemorou um gol na vitória por 4 a 2 sobre a Alemanha com um gesto que costuma representar Oxóssi.

Seu gesto viralizou no Brasil, onde locais de culto de origem africana são regularmente destruídos, e seus fiéis, atacados.

"O recado desses atletas de hoje é que, além dessa luta por reconhecimento do esporte brasileiro, há uma luta pelo reconhecimento de quem são os atletas e do que eles representam, seja em termos de sexualidade, de identidade de gênero, de raça, cor, de origem social, de origem regional", diz Couto.

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