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02/02/2022 às 18:47 • Atualizada em 02/02/2022 às 22:30 - há XX semanas | Autor: Bianca Carneiro

Gravidez na adolescência: Brasil tem média acima da mundial

País tem, anualmente, cerca de 19 mil nascimentos gerados por mães entre 10 e 14 anos

A vendedora Marcela Souza*, 23, recebeu com surpresa a notícia de que estava grávida. Com apenas 14 anos na época, ela descobriu após passar mal com comidas em um aniversário. O impacto foi grande, durante e depois da gestação, ela precisou enfrentar diversas mudanças na sua rotina pessoal e familiar, além de lidar com todas as situações emocionais que foram surgindo.

“Eu era uma adolescente despreocupada. Não trabalhava, a única responsabilidade era ir para escola e ajudar nas tarefas domésticas. Porém, a partir do momento que me vi grávida, ganhei outras responsabilidades bem maiores. Minha vida virou de cabeça para baixo. Além de ter visto todo o meu corpo mudar em meses, tive de lidar com a rejeição de alguns familiares e amigos que me culpavam por ter engravidado tão nova. Até hoje não falo com alguns deles”, conta ela.

Conhecido como mês do carnaval, fevereiro também começa trazendo um compromisso com a saúde pública: a Semana Nacional de Combate a Gravidez na Adolescência, iniciada na terça-feira, 1º. A iniciativa, promovida por ONGs, profissionais da saúde e pelo Ministério da Saúde, tem como objetivo conscientizar sobre os riscos de uma gravidez na adolescência, bem como, esclarecer os métodos contraceptivos disponíveis para os jovens. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária da adolescência é compreendida entre 10 e 20 anos.

Dados do Ministério da Saúde, reunidos pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), apontam que o Brasil tem, anualmente, cerca de 19 mil nascimentos gerados por mães adolescentes entre 10 e 14 anos. Apesar deste número representar uma queda de 37,2% no número de adolescentes grávidas, o país ainda está acima da média mundial. Ao todo, são 53 adolescentes grávidas a cada mil, enquanto no mundo são 41.

Segundo o ginecologista e professor da Medicina UniFTC, Mauricio Castro, a gravidez na adolescência é considerada de alto risco pelo fato do corpo da menina estar ainda se desenvolvendo. Os problemas podem ser ainda maiores em pessoas abaixo de 15 anos, tanto para mãe, quanto para o bebê.

“Muitas meninas engravidam sem mesmo ter uma estrutura corporal totalmente formada para gestar e isso pode levar a alguns problemas como o parto prematuro e o aborto. Outra questão são as restrições de crescimento, que é quando a placenta não se forma tão bem. Isso dificulta a nutrição do bebê e seu crescimento, além disso, essa placentação pode causar uma pré-eclâmpsia, o aumento da pressão arterial durante uma gestação”, esclarece.

Psicóloga atuante na Vara da Criança e também professora da UniFTC, Leonei Martins, reforça que a adolescente gestante pode ser vítima de diversos impactos psicossociais, capazes de provocar doenças que ameaçam a saúde mental.

“A adolescência é uma fase de construção social, uma fase de separação, transição da dependência infantil para a de preparação para a independência. Nesse sentido, os impactos originados de uma gravidez não esperada podem trazer consequências, como, mudanças bruscas na rotina familiar, falta de apoio, seja do parceiro, da família, amigos. Sentimentos, como medo, temor de não saber cuidar do filho, falta de autonomia financeira, além dos impactos biológicos que vem através das alterações corporais internos e externos, que podem desenvolver transtornos de ansiedade, depressão, isolamento social, entre outros”, explica ela.

Ambos os profissionais da saúde citam uma questão primordial por trás dos índices de gestações na adolescência: a expressiva maioria de jovens mães são meninas pobres, sobretudo negras e moradoras de comunidades periféricas, o que revela mais uma consequência da desigualdade social.

“Podemos atribuir a gravidez na adolescência a diversos fatores, que estão relacionados a condições socioeconômicas, escolaridade, falta de conhecimento, falta de perspectiva de um futuro oposto a realidade atual do qual vive, de evidenciar necessidades inconscientes, ou o bebê pode ser considerado alguém que pode preencher uma carência afetiva, à desorganização familiar, falta de esperança no futuro. Ou seja, é uma situação complexa, que perpassa pela desigualdade social, necessitando de investimento dos órgãos competentes para que essa realidade seja transformada”, afirma Lionei.

Caminhos para a prevenção

Para o ginecologista Maurício, a grande missão da Semana Nacional de Combate a Gravidez na Adolescência é informar à sociedade os caminhos da prevenção do problema, que passa, principalmente, pela orientação sobre a contracepção na juventude. Ele explica que adolescentes saudáveis não têm contraindicações dos métodos em relação a idade, mas que a opção ideal de cada jovem vai depender da consulta com o médico.

“Nós temos diversos métodos contraceptivos, não é só a pílula. A escolha é muito individualizada, vai depender da saúde dessa paciente, se ela tem comorbidades, por exemplo. No entanto, uma paciente saudável tem a possibilidade de usar qualquer método contraceptivo. Mesmo na adolescência ela pode fazer uso das pílulas anticoncepcionais, do DIU, adesivos, implante”, diz ele que ressalta o uso combinado com a camisinha, único método que evita Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Maurício ressalta que o vetor de maior papel na prevenção da gravidez na adolescência é a informação. O médico defende que a educação sexual deve ser um conhecimento de base, ofertado pela família e escola, com a ajuda do profissional da saúde.

“A educação sexual é um ponto fundamental. Ela tem que estar inserida na escola, sendo abordada de uma forma objetiva, técnica. Acredito que isso deve ser feito em conjunto com o médico em palestras, pois o grande problema da gravidez na adolescência ser um ciclo vicioso de pobreza onde a paciente não tem conhecimento sobre os métodos contraceptivos. A grande maioria deles estão disponíveis no sistema público de saúde, então falta informação das pessoas. Então é importante que a gente lance mão da educação, com abordagem em escolas e postos de saúde para esse público alvo”, pontua.

A psicóloga Leonei explica que a orientação sobre educação sexual deve começar na primeira infância, de maneira básica, até chegar à adolescência. Mais do que apenas com as mulheres, ela reforça que os meninos também devem ser sensibilizados para a questão por meio de políticas públicas.

“O ideal é que essa orientação se inicia desde a primeira infância, explicando às crianças, a partir dos 3 anos de idade, conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. De forma leve, simples e descomplicada, ensinar a diferenciar toques de amor de toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo e a proteção, tratar o tema com naturalidade, evitando a criação de tabus em relação a sexualidade e consequentemente construindo de forma gradativa na prevenção a gravidez não planejada”, afirma.

*Nome fictício

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