CINEINSITE
A Bruta Flor do Querer é um filme sincero, mas com pouca vitalidade
Por Adalberto Meireles

No final de 'A Bruta Flor do Querer', um aviso: "Esse filme foi realizado sem leis de incentivo ou patrocinadores". Dirigido pelos amigos Andradina Azevedo e Dida Andrade, formados em cinema pela FAAP, o filme ganhou os prêmios de direção e fotografia no Festival de Gramado, em 2013, mas somente agora chega aos cinemas de várias cidades do país, depois de uma batalha para negociar as músicas.
Além de trilha original de Arthur Decloedt, 'A Bruta Flor do Querer' reúne Caetano Veloso (com Baby, cantada por Gal Costa e Mutantes), Sueli Costa e Victor Martins (20 Anos Blues, na voz de Elis Regina) e vai a Claude Debussy, Maurice Ravel, Erik Satie e Tchaikovsky para apoiar a trajetória de Diego, personagem interpretado por Dida, um jovem recém-formado em cinema que, por falta de opção, vai trabalhar filmando festas de casamento.
Fica claro que as intenções de Diego e Andradina não são nada modestas, embora seja uma produção de pequeno porte, com apenas 75 minutos de duração. Logo no início Dida questiona uma garota: "É mais indigno filmar casamento do que fazer cinema?" E começa um périplo por São Paulo, ao lado do amigo Magrão (o próprio companheiro de direção).
Filme dentro do filme
Diego, personagem de Dida, está tão seco que lembra o tio louco de Amarcord (Federico Fellini, 1973), que sobe em uma árvore e grita: "Eu quero uma mulher". A história do rapaz será também a história de um filme que começa a rodar com Magrão. Um filme dentro de um filme, portanto, em um recurso de (meta)linguagem como uma reflexão em torno das possibilidades de criação em meio à crise de afeto, de amor, de emprego.
Ao tempo em que vagueia com o amigo pela cidade, Diego tem uma paixão platônica por Diana (Diana Motta), a vendedora de um sebo que costuma frequentar. Como acontece em qualquer comédia romântica hollywoodiana, portanto, mas que os próprios diretores querem rejeitar ao dizer pela voz do rapaz: "Que pena que eu não conheci ela num filme brega norte-americano tipo Bonequinha de Luxo (Blake Edwards, 1961)".
"Que triste eu não viver um clichê", completa ele, enquanto passeia por um caminho de vícios e pouca virtude. Mas o clichê está tão intrinsecamente associado a 'A Bruta Flor do Querer' que a frase poderia se referir a outro filme em que a Audrey Hepburn de Bonequinha faz uma vendedora intelectualizada de uma livraria do Greenwich Village, cooptada para ser uma grande modelo (Cinderela em Paris - Stanley Donen, 1957).
Talvez se assumissem a possibilidade de viver de frente o cinema, o amor e o clichê, Dida e Andradina pudessem injetar um pouco mais de vitalidade ao filme, que parece mover-se com a vitalidade de círculos concêntricos formados por uma pedra atirada na água.
Mas é preciso reconhecer que 'A Bruta Flor do Querer', se tem lá seus problemas, ao menos está impregnado de sinceridade. Basta observar a representação do sentimento de Diego contido em frases como: "De vez em quando parece que nada vai melhorar".
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes